O Facebook deu marcha à ré e nesta quinta-feira anunciou o fim do projeto-piloto que em outubro pôs em prática em seis países com o objetivo de eliminar os meios de comunicação profissionais do mural principal dos usuários. Desse modo, a rede social pretendia facilitar a conexão dos internautas com amigos e familiares. A empresa reconhece agora que não alcançou sua meta e que, com essa experiência, os usuários tinham mais dificuldade para ter acesso a informações de qualidade. Havia meses os internautas estavam se queixando do aumento da desinformação.
O teste começou em 19 de outubro no Sri Lanka, Bolívia, Guatemala, Camboja, Sérvia e Eslováquia. O Facebook limitou as informações que apareciam no feed de seus usuários a publicações pessoais e publicidade. O conteúdo compartilhado por páginas, a modalidade que os meios de comunicação usam para difundir os links das notícias, foi transferido para outro mural, em outra aba, chamada “explorar”. Os primeiros a dar o alarme foram os editores dos países afetados, preocupados com a repercussão que essa medida poderia ter no tráfego dos meios de comunicação, já que a rede social é uma importante fonte de leitores para a imprensa de todo o mundo.
Nesta quinta-feira, Adam Mosseri, o responsável pela News Feed — a área onde aparecem tanto as notícias como os conteúdos dos usuários — explicou por que decidiram encerrar o projeto-piloto, chamado Explore Feed. “Nas pesquisas, as pessoas nos disseram que estavam menos satisfeitas com as publicações que viam e que ter dois murais separados realmente não as ajudava a se conectar mais com familiares e amigos”, declarou Mosseri em um comunicado. “Também recebemos feedback que indicava que [ter dois murais] tornava mais difícil para os usuários dos países em que o teste foi feito o acesso a informações importantes”, prosseguiu.
Fomento da comunidade
O fato de que o Facebook tenha optado pelo fim do Explore Feed não está relacionado com a decisão da rede social de priorizar os conteúdos publicados por familiares e amigos em relação às publicações que tenham a assinatura de empresas ou de meios de comunicação, como anunciou a empresa em janeiro. Segundo explicou Mark Zuckerberg, fundador e executivo-chefe do Facebook, a empresa pretende fomentar a comunidade. Essas mudanças, especificou Zuckerberg, são destinadas a agregar valor à experiência dos usuários.
Filip Struhárik, um jornalista especialmente mordaz com o Facebook, escreveu em seu blog um artigo bem crítico: “O Facebook não pensa nas consequências e pouco lhe importa o que aconteça nesses países onde fazem experimentos”. Nesta quinta-feira tuitou sua opinião sobre o recuo: “Me alegra que o Facebook tenha terminado esse experimento. E me agrada ainda mais que admita que cometeu erros ao não comunicar claramente o teste. Espero que daqui por diante demonstrem mais interesse em saber como nos demos com o experimento”.
De duas abordagens diferentes, tanto o buscador como a rede social procuraram chegar à mídia com contribuições técnicas. No Facebook criaram os Instant Articles. No Google, o AMP, um formato aberto. Ambos prometem carregamento rápido nos celulares, com uma versão simplificada do código que consome menos dados. No caso do Facebook é consumido dentro de seu serviço; no do Google, com o olhar posto em um melhor posicionamento. EL PAÍS fez parte do lançamento das duas opções. O Facebook trabalha para criar uma opção para a assinatura de órgãos da mídia por meio do Instant Articles, com a finalidade de ajudar os meios de comunicação a conseguir renda digital.
No Facebook esse tipo de experimento é visto com toda a naturalidade. O que em uma empresa normal seria uma mudança de rumo, no mundo do Vale do Silício é considerado uma iteração (processo de repetição de uma ou mais ações), mais um giro repentino até chegar à fórmula adequada. O lema fundacional do Facebook, hoje um tanto esquecido, era “mexa-se rápido e quebre coisas”. Esse movimento reitera esse espírito.
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