Categories: Destaque 5 Gente - Economia e Negócios Notícias Política

Sebastião Viana: o médico e a receita de como quebrar um estado em oito anos

Published by
Da redação ac24horas

O velho ditado português diz que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. Esse misto na gestão pública, de ajuste e desacerto, equilíbrio e alienação, bondade e maldade, talvez possa ilustrar o que tem sido a gestão do atual governador do Acre, Sebastião Viana, que é médico. Para especialistas na área econômica, ao mesmo tempo em que acertou na cisão entre Florestania e neo-industrialização, o chefe do Palácio Rio Branco errou ao pensar em administrar conceitos de desenvolvimento econômico apenas por decreto.


É como se o governador tivesse escolhido o que plantar, contudo, não escolheu o que colher. A relação enraizada com a própria história política – o Partido dos Trabalhadores – a valorização das gestões passadas [oito anos do irmão, Jorge Viana], parecem ter impactado muito mais no poder de decisão evitando outras mudanças essenciais para a economia.


A nomeação do ex-deputado federal Marcos Afonso, pelo governador Sebastião Viana, semana passada, com salário de R$ 20 mil e o cargo de secretário-adjunto na Secretaria de Estado de Turismo, Hospitalidade e Lazer (Setul) deixa muito clara essa relação excessiva com o passado. Por outro lado, demonstra que o estadista não está nem aí mesmo para o tamanho do abacaxi que deixará ao próximo governador a partir de 1º de janeiro de 2019.


Confrontando com tamanha bondade ao comunista e amigo pessoal de Sebastião Viana, a ‘tropa das redes sociais’ se esforça para dizer que o secretário de saúde, Gemil Junior, quita na próxima quarta-feira (28) o pagamento da segunda parcela referente aos plantões extras de 2017 e os valores integrais de fevereiro aos profissionais da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) para cerca de 2,9 mil servidores, entre médicos, enfermeiros e técnicos que tiveram salários atrasados no início do ano.


Essa receita, de gastar sempre além do que arrecada e deixar o problema para o governador seguinte parece ser o maior legado que os governos petistas vão deixar. Desde o final do primeiro governo de Jorge Viana em 2002, até fevereiro do ano passado, o estado fez 37 operações de crédito junto ao Banco Mundial e o BNDES. Sebastião Viana caprichou no que deve ter pensado ser o remédio de enfrentamento à crise, fechou os primeiros quatro anos de sua gestão entre os nove dos 27 governadores com estados mais endividados do que o que receberam.


Esta é a primeira de uma série de reportagens que analisará os desafios do próximo governo do Acre. Com a previsão de redução média do Produto Interno Bruto (PIB) de 1% entre 2015 e 2018, perda de vagas no mercado de trabalho e um acumulo de déficit pelo governo federal de R$ 594 bilhões, reduzindo até 2020 a retomada financeira dos estados, como isso impactará na próxima gestão?


O ac24horas, com ajuda de especialistas e uma avaliação do Índice dos Desafios da Gestão Estadual (IDGE), desenvolvido através de uma consultoria vai analisar dois fatores fundamentais na gestão pública do atual governo: autonomia financeira e o sucesso da execução orçamentária.


Segundo o IDGE, o Acre perdeu nos últimos três anos, a solidez fiscal. A retração é apontada nos dados de autonomia financeira e no sucesso da execução orçamentária. Neste último indicador, saindo de uma confortável 5ª para 16ª posição no ranking dos estados brasileiros. A avaliação foi feita em todas as unidades da federação em 28 indicadores agrupados em nove áreas.


Para Rubicleis Silva, com mestrado, doutorado e pós-doutorado em economia, professor da Universidade Federal do Acre e pesquisador visitante da EESP/FGV, a situação atual “como se sabe, não surgiu do dia para a noite”, analisa.


Silva diz que a situação fiscal da união, estados e municípios desde o final de 2014, vem apresentando sucessiva piora em função de vários problemas, “sendo o mais relevante a crise econômica mal administrada pelo governo Dilma e a péssima gestão dos recursos públicos por vários gestores ao longo dos anos”, acrescentou.


Ao cobrar resultados mais robustos na arrecadação fiscal, o economista cita o crescimento das despesas bem mais acentuado que as receitas. Para ele, vai chegar um momento onde não é possível fechar a conta. “Quando isso vai acontecer? Eu não sei! Mas se não houver medidas de cunho fiscal, vamos ter um problema”, avalia.


De acordo o estudo que a reportagem teve acesso, o custo da máquina pública com o executivo, por exemplo, coloca o Acre na rabeta da eficiência administrativa. Segundo o IDGE, 77,3% do total de cargos públicos é formado por comissionados, os famosos apadrinhados, indicados por partidos políticos, deputados da base de sustentação do governo e pessoas de extrema confiança de Sebastião Viana. Nesse quesito o Acre está acima da média do Brasil que é de 72,3%.


O sindicato dos trabalhadores em educação após receber da equipe econômica do governo de Sebastião Viana um não como resposta às suas reivindicações , divulgou gastos com pagamento de cargos comissionados de R$ 161 milhões por ano. Quase meio bilhão em quatro anos de gestão.


Para conter a crise, e redução de R$ 300 milhões nas receitas de 2016, Sebastião Viana anunciou o corte de 545 cargos comissionados e função comissionada e 20% no seu salário, do vice-governador e primeiro escalão do governo. O esforço era para manter salários em dia.


Depois disso funcionou? Para o economista o grande pecado do atual governador é se opor a um ajuste fiscal capaz de aumentar o poder de investimento. Consequentemente, a ausência desse mecanismo tem tornado a máquina pública cada vez mais ineficiente, sem atingir mais pessoas com agilidade e com custos reduzidos. “Aumentando o investimento, aumenta-se a demanda agregada, aumenta-se o salário e expande-se à economia”, disse o professor. Ele chama atenção para um ponto crucial e pouco debatido: a previdência social.


“É preciso fazer contas, ter consciência social e tomar as medidas necessárias para assegurar o pagamento das aposentadorias dos servidores estaduais”, receitou.



Com nota de 70,1, o Acre, segundo o IDGE, está entre os seis estados do Brasil onde o custo do executivo ao PIB é mais elevado. Pela ótica da renda, 49,9% do PIB corresponde a remuneração. Os dados são oficiais, do Atlas Acre em Números 2017 divulgados pela equipe econômica do governador.


O ex-prefeito Vagner Sales, desafiou o governador a apresentar investimentos com recursos próprios na região de Cruzeiro do Sul. Chegou até a fazer uma aposta, provocação que nunca foi aceita por Sebastião Viana.


O que Sales, conhecido como Leão do Juruá, talvez quisesse mostrar, em sua linguagem cabocla e a experiência de quem subiu muitos barrancos no Juruá, era o grau de capacidade de investimento do estado que despencou entre 2015 e 2017. Com média de 40,4 o Acre saiu do 1º para 12º lugar neste indicador. Em autonomia fiscal, saiu do 25º para último colocado no ranking.


Consequentemente, o sucesso de sua execução orçamentária – despesa líquida pela despesa total atualizada – também atingiu índices indesejáveis. Sebastião Viana que iniciou seu segundo mandato como o quinto melhor governador em desempenho orçamentário, amarga a 16ª colocação no ranking do IDGE, com a média 63,5, assistindo estados vizinhos, como o de Rondônia, ficar entre os de melhores indicadores do pais junto com Alagoas e Sergipe.



Ao analisar esses números, Silva desmonta outro discurso forte da equipe econômica do atual governo, o crescimento de 4,4% do PIB em 2014. Para o pesquisador da FVG “um crescimento de 4,4% do PIB de São Paulo, ocasionaria uma expansão de aproximadamente 1,5% do PIB nacional, pois São Paulo representa 1/3 da economia brasileira”, detalhou.


O especialista segue afirmando que um crescimento de 4,4% do PIB de um estado [o Acre] que representa apenas 0,2% da economia nacional, possuindo um PIB estimado R$ 12,2 bilhões, representa um aumento mensal no valor adicionado de aproximadamente, R$ 45 milhões, “ou seja, não é tão significativo”, destacou.



“Acredito, que devemos o analisar além do PIB outros indicadores econômicos, tais como: índice de concentração de renda, taxa de desempregados na economia, renda per capita familiar, longevidade, quantidades de pessoas abaixo da linha de pobreza. O conceito de desenvolvimento econômico é bem mais amplo do que o de produto interno bruto”, aconselha.


Como médico Sebastião Viana culpa o remédio pelo mal-estar

Como bom médico e petista de carteirinha, Sebastião Viana vem seguindo a receita de outros gestores em nível nacional, culpando o remédio pelo mal-estar. Na luta pelas redes sociais para justificar o atraso na folha de pagamento dos servidores públicos, através do secretário de Articulação Institucional, Irailton Lima, joga para cima do governo federal a grave crise causada, segundo o estado, pela diminuição de repasses aos estados, o que, segundo a nota, “obrigou o governo acreano, em janeiro, a realizar o pagamento dos plantões em três parcelas”, diz o Palácio Rio Branco.


O que o governador não revela é que conseguiu bancar o tamanho do Estado graças os empréstimos que ele e os ex-governadores fizeram junto ao BID e ao BNDES. E ainda, segundo um servidor do alto escalão que pediu para não revelar sua identidade, só não atrasou a folha de pagamento por causa dos recursos repatriados pelo governo federal e repassado aos governadores ano passado. “No primeiro repasse foram R$ 147 milhões”, disse o servidor.


Na próxima reportagem desta série, vamos continuar analisando os investimentos do governo. O modelo de florestania que se tornou no agente central da crise enfrentada pelo Acre, as parcerias públicas privadas e a “neo-industrialização” proposta por Sebastião Viana. Por que Rondônia está à frente do nosso estado nos indicadores econômicos?


Share
Published by
Da redação ac24horas

Recent Posts

Confusão em show de Naiara Azevedo termina com mulher ferida

Uma confusão no meio do público do show da cantora Naiara Azevedo, em frente ao…

01/05/2024

Naiara diz que vai fazer um dos melhores shows da carreira e cantar músicas ainda não lançadas

A cantora Naiara Azevedo disse em coletiva pré-show em frente ao Palácio do Governo, em…

01/05/2024

Flamengo bate o Amazonas em noite de vaias ao time e aplausos a Gabigol

O Flamengo venceu o Amazonas por 1 a 0, nesta quarta-feira (1), pelo jogo de…

01/05/2024

Gladson interrompe pré-show de Naiara Azevedo e decreta ponto facultativo até o meio dia da quinta-feira (2)

O governador do Acre, Gladson Cameli, interrompeu a programação do Dia do Trabalhador em Rio…

01/05/2024

Mailza Assis é diagnosticada com pneumonia e vai ficar internada no Pronto-Socorro

Após ser levada para o Pronto-Socorro de Rio Branco na noite desta quarta-feira, 1º, a…

01/05/2024

Gladson diz que suspeita é que Mailza Assis esteja sofrendo de quadro viral

O governador Gladson Cameli chegou ao evento do Dia do Trabalhador, em frente ao Palácio…

01/05/2024