Talvez essa seja a notícia da semana mais importante para a política do Acre: a candidatura da jornalista Mara Rocha (PSDB) ao Senado. Mesmo porque se confirmada cria um novo contexto dentro da oposição em relação à disputa majoritária de 2018. E quem estiver apostando num blefe do PSDB para conseguir uma outra posição, como de vice, por exemplo, poderá perder as suas fichas. Estive conversando com a Mara na casa dos seus pais, em Rio Branco, na noite deste domingo, um dia depois de anunciar a sua intenção de representar as mulheres tucanas nas próximas eleições. Senti que a decisão não tem volta. Ela não cogita ser vice. Mesmo porque está sendo apoiada pelo Diretório Nacional do PSDB. Na realidade, a participação de uma mulher na chapa majoritária é uma imposição do partido. Seu nome foi sugerido pela deputada federal Yeda Crucius (PSDB-RS) presidente do PSDB Mulher, que deverá vir ao Acre para o lançamento da sua candidatura.
Vale lembrar que Mara Rocha tem 44 anos, 26 dos quais apresentando alguns dos principais telejornais do Acre. É, portanto, uma personagem conhecida em todo o Estado, que tem um estilo sereno e diplomático de analisar a política. Acompanhe a entrevista com Mara Rocha explicando as suas razões para ser candidata ao Senado, em 2018:
AC24horas – Mara Rocha por que surgiu essa possibilidade da senhora se candidatar ao Senado em 2018?
Mara Rocha – Eu sou presidente do PSDB Mulher no Acre. E quando participei da recente Convenção Nacional, em Brasília, foram apresentados os objetivos da nova gestão que é incentivar a mulher na política. Dando condições para que se candidatem a todos os cargos. Então é uma determinação que saiu desse encontro para que o PSDB tenha o maior número de mulheres disputando cargos majoritários. Surgiu meu nome como uma possibilidade no Acre. A Yeda Cruicis queria conhecer a história de cada estado e as possibilidades. A nossa coordenadora da Região Norte indicou o meu nome a partir da minha história. As mulheres ficaram empolgadas em lançar meu nome ao Senado e tivemos a garantia de apoio do Diretório Nacional. As mulheres do PSDB do Acre também ficaram entusiasmadas, inclusive, as lideranças do partido em todos os núcleos. Já temos o apoio de todo o interior. Como por exemplo, da ex-prefeita de Sena e ex-deputada estadual Toinha Vieira (PSDB), da Branca Menezes (PSDB) do Quinari, entre outras. E as pessoas mais antigas do PSDB e todos os membros que compõe o Instituto Teotônio Vilela estão apoiando.
AC24horas – É uma candidatura do “vera” ou do “brinca” para conseguir outros espaços?
MR – É do vera mesmo. Estamos empolgados e com vontade de participar desse pleito para mostrar a diferença da mulher na política. A nossa proposta não é atrapalhar o candidato A ou B, o Petecão (PSD) ou Márcio Bittar (PMDB), nós queremos nos colocar como uma opção à população que tem o direito de escolher e não ficar limitada a duas candidaturas. Quem vai decidir vai ser o eleitor. A gente torce que a oposição ganhe de uma forma geral e nós queremos estar nesse meio. Serei a única mulher candidata ao Senado. Isso oxigenou o nosso partido e todos estão motivados. Fizemos um ato de filiação no partido e tivemos a adesão de mais de 100 pessoas, inclusive, participaram mulheres representantes de outros partidos que manifestaram apoio a minha pré-candidatura ao Senado. Não estou sonhando sozinha. O PSDB é um partido grande que tem que participar. Não podemos ficar vendo os outros concorrerem a cargos majoritários e a gente na plateia só batendo palmas. Temos que pensar no crescimento da nosso partido formando novas lideranças.
AC24horas – A equação que foi montada na oposição é o Gladson Cameli (PP) candidato ao Governo e o Márcio Bittar e o Petecão ao Senado. A sua candidatura já foi comunicada ao Gladson? E se foi como ele recebeu a notícia?
MR – Na realidade, o PSDB é um partido que tem autonomia para tomar as suas próprias decisões. Essa determinação da minha candidatura é do PSDB Mulher Nacional. Precisávamos dessa garantia e do apoio das nossas mulheres daqui. Dentro da nossa casa estamos com essa ideia fortalecida e bem aceita por todos e partir de agora é o próximo passo.
AC24horas – E qual será o próximo passo?
MR – Será o lançamento oficial com a presença da presidente do PSDB Mulher Nacional e também teremos a presença de personalidades nacionais com mandatos e, possivelmente, a participação do presidente nacional do PSDB.
AC24horas – Quando a senhora fala de autonomia do PSDB para crescer e ter a sua vida orgânica o que se coloca na imprensa é que a candidatura a vice do Gladson será do médico Eduardo Veloso (PSDB), membro do partido. Assim o PSDB já não estaria contemplado na chapa majoritária da oposição?
MR – A candidatura do Dr. Eduardo Veloso foi uma escolha pessoal do candidato Gladson Cameli. A gente tem que respeitar a sua escolha. Mas não podemos ficar limitados a essa escolha. As mulheres querem isso, minha candidatura tem esse clamor.
AC24horas – Quer dizer que o Eduardo Veloso não é uma indicação do PSDB?
MR – Eduardo Veloso será candidato e aceitamos a escolha dele, mas o PSDB quer participar diretamente desse processo com suas próprias decisões.
AC24horas – E se tivesse uma reviravolta e a senhora viesse a ser convidada a ser vice do Gladson? Abandonaria a sua pré-candidatura ao Senado?
MR – Isso é página virada. Eu não aceitaria. O nosso objetivo é o Senado e vamos concorrer. Entraremos na campanha com garra.
AC24horas – Então não existe nada que possa fazer a senhora mudar de ideia?
MR – Não. Essa história de vice é página virada. O nosso foco é o Senado e vamos com esse objetivo até o fim.
AC24horas – Qual será a sua principal bandeira na campanha para o Senado?
MR – Vamos trabalhar muito com a mulher. Mas não vamos esquecer dos produtores rurais. Tem muita coisa pra gente trabalhar no Acre além desse foco da mulher na política. Sou apaixonada pelo setor produtivo. Passei 12 anos com um programa rural na TV, meu pai é proprietário rural e tenho um irmão que é pecuarista. Trabalhei com os pequenos, médios e grandes produtores. Foram 12 anos ouvindo o que eles têm de necessidades e conhecendo a realidade deles. Então sei dos anseios dessa classe que é tão desmerecida no nosso Estado.
AC24horas – A gente observa que a senhora entrando na disputa as candidaturas ao Senado contemplam os vários segmentos da nossa sociedade. O que já não acontece com as candidaturas ao Governo porque existem muitas tendências que não são contempladas nessas três pré-candidaturas postas. Como a senhora analisa esse fato?
MR- Vejo que as pessoas querem uma mudança. Vivemos um momento em que a política está desacreditada e as pessoas não querem os políticos que já passaram por aí e que não mostraram resultados. As pessoas não estão se sentindo representadas. É como falou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na nossa Convenção Nacional, “os políticos têm que colocar os ouvidos no chão e ouvir o que a população está pedindo”. Tenho credibilidade da população acreana pelo trabalho com o jornalismo na TV. Então creio que as pessoas querem escolher quem possa trazer mudanças.
AC24horas – Como a disputa terá duas vagas ao Senado com quem a senhora fará a dobradinha na campanha? Quem seria o outro candidato para ir junto?
MR – É complicado. Faremos uma campanha sem agressões e estaremos agregando forças políticas.
AC24horas – Mas quem seria o seu parceiro de chapa?
MR – Na realidade quero agregar todas as pessoas que estão insatisfeitas com a política que está aí.
AC24horas – Então a senhora não vai trabalhar com o segundo voto?
MR – Não vou trabalhar contra ninguém e nem o discurso do ódio. Quero o meu espaço e tenho muito a contribuir com a política do Acre. Não vou falar mal nem do PMDB e nem do PT. Quero mostrar algo novo, estou me preparando para isso. A população quer resultado.
AC24horas – Todos sabem na política do Acre que o seu irmão deputado federal Major Rocha (PSDB) e o Márcio Bittar são desafetos e não se entendem. Essa sua candidatura seria uma vingança contra o Bittar? Ou uma sugestão para que a tribo do PSDB tenha uma opção que não seja o Bittar?
MR – Não de maneira nenhuma. Inclusive nós queremos o segundo voto de quem vota no Bittar e de quem vota no Petecão. Também queremos ser o primeiro voto. Vamos lutar para representar o povo. Não existe briga ou vingança, o que está acontecendo é o pleito das mulheres que querem se sentir representadas. Muitas pessoas se identificam comigo. Conheço muita gente que iria anular o voto e vai votar em mim. Eu sou um novo conhecido das pessoas. No Acre todos se conhecem e todo mundo sabe da minha história e do meu caráter. Muita gente se identifica comigo indiferente do partido A ou B porque tenho credibilidade.
AC24horas – Uma parte da oposição vai alegar que a sua candidatura ajuda aos candidatos do PT. O que senhora pensa sobre isso?
MR – Eu não acho que ajuda os candidatos do PT. Não vejo dessa forma. A minha candidatura é uma opção a mais para a população que quer algo novo.