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LONGE DE CASA: a história de quem há anos passa a virada do ano distante da família

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Pedro Paulo Braga (57 anos) e Gercino Pedro de Oliveira (60 anos). Dois homens, duas histórias com enredos e caminhos parecidos e destinos iguais: o Lar dos Vicentinos, em Rio Branco. Lugar onde moram outros 54 idosos como eles.


À esquerda: Pedro Paulo, 57 anos: “Deixei a família aos 16 anos. Nunca mais vi meus familiares. Nunca procuraram saber sobre mim. Mas eu sou feliz aqui”. Já à direita, Gercino, 60 anos: “Meus parentes? Vocês são meus parentes”.

Gercino nasceu em Galiléia, interior de Minas Gerais. Pedro Paulo é carioca, nascido na cidade do Rio de Janeiro.


O mineiro tem um filho chamado Paulo Ricardo que não vê há anos. Fruto de uma relação com Regina, o único amor da vida dele, que passou. Gercino lembra vagamente do irmão Geraldo. Os pais morreram quando ele ainda era jovem em Minas Gerais. O tempo, os anos de sofrimento e as muitas pessoas que passaram em sua vida o fez esquecer parte seus familiares.

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Ele está há um ano no Lar dos Vicentinos. Quando chegou a Rio Branco em 2007 foi morar em um centro de recuperação mantido por uma igreja. Depois foi transferido para o Hospital de Saúde Mental do Acre e, por fim, encaminhado ao Lar dos Vicentinos, onde deve viver o resto da vida.


Quando é perguntado se tem parentes, Gercino é tomado por uma emoção, seus olhos ficam vermelhos, lacrimejam e ele responde: “Você é meu parente, ele e ela são meus parentes”, diz apontando para quem está ao seu redor.


A distância da família já não é mais motivo algum de crise para ele. Tanto que no Réveillon, Gercino garante que quer passar junto com sua família do Lar dos Vicentinos. “Eu já tenho tudo aqui”, diz.


Pedro Paulo mora há mais de 15 anos no Lar dos Vicentinos. É sempre simpático e receptivo e como qualquer morador do lar gosta de conversar, contar histórias, falar sobre os lugares por onde passou.


Cedo, Pedro foi internado numa unidade socioeducativa no Rio com seus irmãos Evaldo, Araújo e Luiz Claudio. Era de uma família na linha da vulnerabilidade social. Seu pai alcoólatra, a mãe trabalhava fora para criar os filhos.


Ainda na juventude, ele viajou para Belém (PA). Na capital paraense, foi amparado por Dolores, uma senhora generosa, dona de uma hotel que o hospedou e dele exigia apenas serviços em troca da estadia. “A dona Dolores, era dona de um hotel. Foi ela que me amparou lá. Ela não me cobrou nada. Me dava roupa…”, lembra Pedro tomado de nostalgia.


Pedro Paulo conta que veio parar no Acre depois de ser avisado por um primo que sua mãe, dona Carmen, estaria morando em Rio Branco. Mas Pedro nunca a encontrou. Quando chegou à capital do Acre foi para a zona rural. “Trabalhava para comer”, recorda. Ele não esquece da benevolência das pessoas que conheceu no Acre, mas quando fala dos familiares não tem boas recordações. “Nunca procuraram saber de mim, como estou, se estou vivo. Mas estou feliz aqui.”


42 homens e 12 mulheres moram no Lar dos Vicentinos. Muitos deles recebem visitas semanais de familiares ou em datas especiais como aniversários, Natal, Dia das Mães e Dia dos Pais.


O ambiente é familiar, cheio de apego e amizade entre os moradores. À tarde, eles mantêm o costume de se sentar em uns banquinhos na área externa do Lar dos Vicentinos, embaixo de uma frondosa Mangueira. O ambiente é convidativo para recordações, parece remeter a coisas do passado. Tem um pequeno gramado entre a Mangueira e um Jambeiro onde eles brincam de futebol.



Carlos Costa (60 anos), está há 09 anos no abrigo. Ele se emociona ao falar dos amigos que morreram no local. “Acho que faz uns cinco anos, eu não lembro o nome dele, mas era um homem muito firme, que falava em Deus, de repente teve um infarto, morreu”, diz ele com ar de tristeza.


Manutenção do Lar dos Vicentinos

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O Lar dos Vicentinos existe há 62 anos. É mantido por meio de doações e pelos próprios idosos. Parte da remuneração deles, 70%, é destinada a manter o abrigo.


“Se não fosse as doações seria impossível manter”, diz Simone D’Ávila que há seis anos preside o Conselho Particular de Rio Branco Sociedade São Vicente de Paula, o Lar dos Vicentinos.


Alguns dos idosos são encaminhados para o local a partir de solicitações do
Ministério Público por causa de denúncias de maus-tratos no seio familiar. A idade mínima exigida é de 60 anos.


O Estado paga uma equipe de médicos, enfermeiros e técnicos para atender os idosos no local.


O lugar está aberto para visitas diariamente, entre 14h e 16h. Informações sobre doações ao Lar dos Vicentinos em Rio Branco podem ser obtidas pelo telefone 32278531.


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