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Inspirado em Pabllo, cantor deixa gospel e lança disco como drag queen

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Revelação da música gospel, Lucas Fernandes tinha dois bem-sucedidos CDs no currículo, com parcerias com Jéssica Augusto e músicas de Anderson Freire. Evangélico desde os 5 anos de idade, ele ganhou prêmios, fama e uma agenda de shows saturada até fevereiro de 2018, quando se apresentaria em 40 eventos, incluindo congressos e cultos festivos. Mas esse não era quem ele queria ser.


No último fim de semana, o artista chocou fãs e seguidores com uma surpreendente guinada artística. Lucas Fernandes virou Lucas Miziony, cantor de música pop secular e autor do EP “Homem ou Mulher”, cuja capa apresenta duas versões de si mesmo. À esquerda, ele é o que é: um homem gay. À direita, é o que deseja ser na nova empreitada: uma drag “lacradora” e cheia de atitude. A camisa social e o púlpito ficaram no passado.


Nas palavras do cantor, que tem 23 anos e se assumiu homossexual há um ano, duas “ídolas” dividem uma “culpa” nada evangélica no cartório: Beyoncé e, principalmente, Pabllo Vittar. “Minha referência sempre foi a Beyoncé. Também gosto de Anitta e Ludmilla, mas, quando apareceu a Pabllo, me apaixonei imediatamente. Percebi onde eu poderia chegar”, afirma ele ao UOL. “Eu vivia com uma máscara. Agora quero mostrar que sou uma pessoa como qualquer outra. Quero quebrar esse preconceito.”

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Até 2016, Lucas era membro da Assembleia de Deus de São Paulo e frequentava assiduamente diversas igrejas paulistanas. Seguia a linha do pentecostalismo, com atitude avivalista –pessoa que divulga o avivamento cristão ocorrido a partir da mudança de comportamento. A transformação, quem diria, pintou forte nele mesmo. Ao menos em sua “casca”.


“A gente já estava começando a compor os arranjos do meu terceiro CD, que teria cantores gospel famosos. Mas pensei: ‘Vou acabar ficando famoso e denegrindo a imagem da igreja’. Não era isso que eu queria. Também me desvinculei da igreja porque não me sinto mais bem lá. Ela tem o segmento dela, e eu não concordo com a parte sobre a homossexualidade.”


Há quem lamente, quem diga que Deus não quer isso para minha vida, que eu não sou crente de verdade, que só quero aparecer. Eu juro que tentei. Lutei muito contra mim para chegar até aqui. Mas Deus me fez assim, e vou morrer assim.”
Lucas Miziony, que abandonou a carreira gospel


Longe do ministério, Lucas reza. Ainda se considera religioso e um homem de fé inabalável. Sua ideia é servir de inspiração para jovens que passaram pelo mesmo conflito interno e sofrimento. Para ele, não há motivo razoável que impeça religiosidade e homossexualidade de andarem juntas, seja dentro ou fora da congregação.


“Não quero generalizar, mas na igreja existe muita gente sofrendo porque não pode se assumir. Tem gente que tem medo de perder a carreira, a posição. Muitos fazem escondido e, no culto, dizem que não pode fazer porque é pecado”, diz ele, que já confessou ter ficado com um pastor famoso.


Depois que rompeu com a Assembleia, Lucas chegou a lançar um videoclipe secular com pegada romântica, “Lembranças”, em que interpreta um homem heterossexual apaixonado por uma jovem. “Chamei uma amiga minha modelo, mas foi errado. Fiquei com medo do que iam pensar. Ali não era eu. Devia ter chamado um menino.”


“Deus me fez assim, e vou morrer assim”


Desde que anunciou o novo projeto, Lucas vem recebendo uma enxurrada de mensagens nas redes sociais, e a maioria, ele diz, é em tom elogioso. “Muitos homens jovens da igreja estão vindo dizer que estou servindo de exemplo. Fico feliz. Claro que há também quem lamente, quem diga que Deus não quer isso para minha vida, que eu não sou crente de verdade, que eu só quero aparecer. Eu juro que tentei. Lutei muito contra mim para chegar até aqui. Mas Deus me fez assim, e vou morrer assim.”


Sem medo de ser feliz, a potencial nova diva pop já começou a ensaiar música e coreografia para os shows da fase drag. Planeja soltar o trabalho independente nas plataformas de streaming e cair na estrada a partir de janeiro, quando o clipe de “Homem ou Mulher” e das outras faixas do EP, incluindo a sacolejante “Mexe o Bum, Bum”, serão divulgados. Emoção comparável a que sentiu quando se “montou” pela primeira vez.


“Eu fiquei muito perdido. Nunca havia me montado e não sabia como como era. Comecei a pedir ajuda a amigos. Aí comprei cabelo e todo o figurino. Quando me montei, me senti totalmente outra pessoa. Foi como se eu sentisse que, por dentro, era menina, mas por fora continuava menino. É o que eu sou.”


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