“O modelo de desenvolvimento praticado no Acre exclui as pessoas e a economia” disse Assuero Veronez, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária (Faeac), em entrevista exclusiva ao ac24horas. Veronez foi um dos palestrantes do Seminário Estradas e Bandeiras, promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FUG) esta semana, no auditório da Federação das Indústrias do Acre (Fieac), que reuniu um público formado em sua maioria por militantes partidários, mas que formatou um importante documento que será entregue aos pré-candidatos ao governo nas eleições de 2018, com sugestões e alternativas para o desenvolvimento do estado.
“Inibem o avanço de fronteiras e determina de forma muito dura a reconstituição de áreas de reserva legal e de preservação permanente. É uma tarefa muito complicada de executar porque falta tecnologia e variedade genética para desenvolver com vegetação nativa” explicou Veronez.
O presidente também manifestou sua preocupação com outro setor, o madeireiro, que, segundo ele, está falido. Para cercar pastos e áreas de preservação e reflorestamento, os pecuaristas da região utilizam estacas de eucalipto, transportada de Minas Gerais, por que no Acre, falta madeira.
“A visão na maioria das vezes é muito imediatista. Quando você assume obrigações internacionais em busca de apoio, esse compromisso, ou seja, a tarefa a ser cumprida cabe à sociedade, neste caso específico, aos produtores que terão de arcar com esse ônus”, volta a analisar.
O pecuarista segue explicando que no ponto de vista de valores subjetivos, como a biodiversidade, proteção do clima, regime de chuvas, “não há o que se discutir, são valores não remunerados”, mas em contrapartida, os recursos oferecidos para quem mantém essa política de floresta em pé, são poucos.
“O próprio mercado de carbono anda em baixa. Uma crise na Europa e já não se coloca dinheiro nestes programas. Os recursos que vem são muito poucos. A Noruega que deposita um pouquinho no Fundo Amazônia, a Alemanha que destina algum recurso, o governo da Califórnia. Mas na prática, isso não traz grande transformação social”, analisou.
Ainda de acordo o representante Faeac, o governo tem conquistado apenas notoriedade pelo trabalho que é desenvolvido em função da preservação, mas a floresta como ativo econômico não mostrou resultado.
“Vivemos de expectativas de algo concreto na geração de emprego e renda, sem que isso esteja acontecendo, pelo contrário, os setores produtivos estão em dificuldades, o extrativismo não é uma atividade vista como fator de desenvolvimento, apenas social, mas os problemas de regiões pobres não vêm sendo resolvidos” chama atenção o presidente.
“Para esses jovens, dessas regiões isoladas, o futuro é sair de lá, espero que nos próximos anos, o futuro do jovem que vive em Rio Branco, não seja o de sair daqui. Estou começando a ver muita gente fazer o caminho inverso que eu fiz, quando muito jovem vim para o Acre que era uma terra de oportunidades. Hoje, sem a economia dar resposta, não existe oportunidade”, destacou.
Os trilhos amazônicos e a soja como alternativa econômica para o estado
Ao destacar a pecuária como uma economia estabilizada e de forte potencial econômico para o estado, Veronez destaca a diversificação como fundamental saída de desenvolvimento. Ele cita a vocação não somente pela plantação de soja, mas do milho e o arroz.
“A criação de pequenos animais como aves, suínos e peixes, precisa de grãos para comer. A composição de ração precisa de milho e soja, é importante que se produza aqui, para baratear os custos e nos tornar mais competitivos”, disse Veronez.
Segundo a Faeac existem em torno de 500 mil hectares de terras identificadas como de potencial agrícola pela Embrapa, que podem ser aproveitados. O presidente cobra a criação de um ambiente para quem deseja investir em pecuária, a exemplo do que já aconteceu em Mato Grosso e Rondônia.
Com relação ao debate sobre as BRs 364 e 317 e o reflexo disso na competividade do que pode ser produzido no Acre, Veronez cita um novo modal de transporte alternativo para a saída de grãos, o Rio Madeiro, um dos três Mississipi do Brasil.
“O Brasil tem pelo menos três rios que a gente fala que serão três Mississipi – o rio americano que escoa quase toda produção dos Estados Unidos, o chamado Corn Belt (em português Cinturão do milho), que é o Tocantins, o Tapajós e o Madeira”, citou o presidente.
Ele destaca ainda que o Rio Madeira não precisa de grandes intervenções por ser uma fonte navegável sem acidentes geográficos. Veronez disse que as grandes compradoras e exportadoras de grãos já estão instaladas em Porto Velho, facilitando a possibilidade de produção competitiva para quem pensa em fazer agricultura no Acre.
“Nós estamos a 500 km desse mercado, a soja do norte do Mato Grosso muitas vezes anda 2.000 km para ser embarcada em Santos ou Paranaguá. Estamos testando variedades e introduzindo culturas que só tende a aumentar” voltou a destacar.
O presidente da Faeac acredita que é possível plantar sem desmatar, assegura que o setor do agronegócio do Brasil é uma referência mundial nesse aspecto, mantém 66% do país com vegetação nativa, sendo um dos principais produtores de grãos mundial.