Nem o mercado espera que o governo Temer consiga aprovar uma reforma da Previdência próxima da proposta original, segundo economistas ouvidos pelo Estado. A avaliação é de que temas que exigem maior capital político, como as mudanças nas regras de aposentadoria, devem se desidratar com a proximidade da eleição.
Para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, o governo Temer, apesar de ter garantido sua sobrevivência, não deve ter mais cacife para tocar reformas significativas, como a da Previdência. “O governo tem condição de lançar uma medida provisória, fazer um projeto de lei, mas não tem mais condições de fazer uma reforma tributária, por exemplo.”
Na avaliação do economista, o maior legado que o governo atual deve deixar para o próximo presidente é a aprovação do teto de gastos. “Apesar de importante, era uma medida mais simples, que mexia com conceitos mais difusos na cabeça da população. Na melhor das hipóteses, Temer conseguirá aprovar algo simbólico para a Previdência. A discussão vai precisar ser retomada pelo sucessor.”
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Armando Castelar diz acreditar que o mercado não está “precificando” o enfraquecimento da proposta original, porque já não contava com a aprovação de nenhuma versão da reforma da Previdência até o fim do mandato de Temer. “Pode até ocorrer o contrário e a aprovação da idade mínima gerar alta no preço dos ativos. O cenário não está dado.”
A economista-chefe da XP Investimentos e colunista do Estado, Zeina Latif, pondera que não é possível fazer uma ponte tão direta entre a perda de apoio do governo no Congresso e a agenda econômica. “Há um alinhamento maior, pelo menos na questão econômica, entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o governo. Para ambos, quanto mais as reformas avançarem, maiores as chances de termos uma economia mais sólida em 2018 e menor o risco eleitoral também.”
Ela concorda, no entanto, que a janela para aprovação da reforma ficou mais estreita. “Em maio, o deputado tinha mais tempo para se justificar. Acho que ainda é possível passar (pelo menos idade mínima). É claro que hoje é difícil atribuir probabilidades elevadas.”
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