Um clima bastante seco na área das hidrelétricas brasileiras e projeções de chuva abaixo da média nos próximos meses devem fazer com que o ano de 2018 comece já com pressão nas contas de luz, que poderão ter cobranças adicionais, segundo projeções oficiais e especialistas ouvidos pela Reuters.
As preocupações vêm em um momento em que o governo já conversa sobre a possibilidade de promover uma campanha a partir da reta final deste ano com o objetivo de incentivar a população a reduzir o consumo, diante da perspectiva de custo elevado para atender à demanda em meio à menor oferta de geração hídrica.
Atualmente, a bandeira tarifária das contas de luz é amarela, o que significa um custo adicional de R$ 2 a cada 100 kilowatts-hora em eletricidade consumidos. A bandeira vermelha eleva o adicional para R$ 3 em seu primeiro patamar e para R$ 3,50 no segundo patamar, o que deve ocorrer já em outubro, segundo avaliação do diretor-geral da Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino.
A consultoria Thymos Energia estima que o nível médio de armazenamento das hidrelétricas ao final de setembro deverá ser de cerca de 24%, praticamente o mesmo visto em igual época de 2001, quando o país precisou recorrer a um racionamento de eletricidade.
A situação atual só não é pior porque o Brasil depende menos de energia hídrica do que no passado e conta com melhor infraestrutura de transmissão.
E, com o clima seco, a perspectiva ainda é de demora na recuperação dos lagos das usinas mesmo com a retomada das chuvas, disse o analista de energia da Thomson Reuters, Claudio Vallejos.
“A baixa umidade do solo agrava a situação hídrica… temos o fim de setembro mais seco desde 2010 no Nordeste e no Sul, e o segundo mais seco desde 2010 no Sudeste e no Norte”, apontou ele.
Na prática, isso significa que é preciso mais chuva para recuperar o nível de armazenamento das usinas, uma vez que as primeiras precipitações serão absorvidas pelo solo excessivamente seco.
Para o sócio da Thymos, João Carlos Mello, a atual projeção de hidrologia desfavorável gera a perspectiva de que 2018 já comece com bandeira tarifária vermelha ou amarela nas contas de luz, o que eleva os custos para os consumidores.
Criadas para incentivar uma redução do consumo quando a oferta de geração é menor, as bandeiras tarifárias geram custo extra quando acionadas no patamar vermelho ou amarelo. Se as condições são favoráveis, a bandeira é verde e não há cobrança adicional.
“Mesmo que venha uma chuvarada, um toró, tipo Arca de Noé, nem assim você consegue salvar, em termos de custo… vai ter um custo maior (para a energia) em 2018. Não sei se vai ser bandeira vermelha ou amarela, mas acho que não vai ser verde em 2018”, disse Mello.
Dessa forma, os consumidores e indústrias sofrerão com custo adicional mesmo no período úmido, em que deveria haver maior oferta hídrica.
A previsão de custo maior é devido à necessidade de acionamento de termelétricas, cuja produção é mais cara que a energia das hidrelétricas.
Operação cara
De acordo com projeções atualizadas nesta segunda-feira pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o cenário hídrico desfavorável deve manter o custo de operação do sistema em níveis elevados até março ou abril de 2018.
As projeções da CCEE são de que o custo de operação do sistema poderá exigir acionamento de bandeira vermelha nas contas de luz até ao menos novembro deste ano.
Entre dezembro e março de 2018, com a chegada de alguma chuva, as simulações da CCEE indicam um custo de operação que significaria bandeira amarela nas contas de luz, em todas regiões.
Ainda segundo as projeções da CCEE, a bandeira amarela ainda poderia ser acionada em abril devido a uma recuperação mais lenta esperada para as hidrelétricas do Nordeste.
As simulações da CCEE apontam os reservatórios do Nordeste podem fechar novembro com apenas 7% de armazenamento.
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