Todos os dias equipes percorrem a capital e fazem atendimento médico, promovem assistência social e psicológica para resgatar vidas da exclusão, álcool e drogas
É apenas mais um ser
que já teve de tudo, um dia
mas que por ironia desta vida
viu seu sonho se perder
Faz da rua, o seu mundo
o seu teto… seu sustento…
tomara um dia
ele possa acreditar em sonhos
novamente…
O poema “Morador de Rua” de Regina Azenha, que em sua biografia se declara fã do acreano J.G. de Araújo Jorge, documenta em versos a sofrida rotina de uma pessoa em situação de rua, uma população que vivia excluída dos serviços públicos, mas que atualmente pode contar com acolhimento humanizado no local onde ele passa a maior parte do tempo. Isso mesmo: a Prefeitura de Rio Branco, através da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), mantém, desde 2015, o programa Consultório na Rua, que neste mês de setembro atua no âmbito da mobilização denominada Setembro Amarelo para combater doenças como a AIDS e outras infecções.
Os Consultórios na Rua foram instituídos em 2011, pela Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), como uma modalidade de equipes que realizam busca ativa e qualificada de pessoas que vivem em situação de rua.
Em geral, as equipes são formadas por, no mínimo, quatro profissionais e podem ser compostas por enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, médicos, agentes sociais, técnicos ou auxiliares de enfermagem, técnico em saúde bucal, cirurgião-dentista, professor de educação física ou profissional com formação em arte e educação. No programa de Rio Branco, a equipe é composta por enfermeiro, psicólogo, educador social e um motorista que possui treinamento de cuidador especializado. Na capital do Acre o Consultório na Rua acompanha 230 pessoas e realiza atendimento itinerante em diferentes pontos da cidade todos os dias das 15h às 21h.
As equipes realizam as atividades de forma itinerante e, quando necessário, utilizam as instalações das Unidades Básicas de Saúde (UBS) do território, desenvolvendo ações em parceria com as equipes dessas unidades. O território de atuação das equipes é dividido a partir de um censo da população de rua e cadastro das pessoas localizadas nestes espaços. As equipes de Consultórios na Rua podem também dar início ao pré-natal e vincular a gestante a uma UBS para que faça os exames e procedimentos necessários.
Em conexão ao Consultório na Rua, a rede do SUS possui várias portas de entrada para atendimento da população em situação de rua, como as unidades básicas de saúde; os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs); as Unidades de Pronto Atendimento; o Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (HUERB) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192). Do total de pessoas acompanhadas, 43 são mulheres.
Programa acredita e luta pela reinserção social de afetados pelas drogas, álcool e exclusão
“Mas não desistimos, pois estamos lidando com vidas quando muitos não acreditam mais na reinserção social, mas nós do Consultório na Rua acreditamos. Já presenciamos vários e encontros mudanças, pessoas que hoje trabalham, tem seu lar e voltaram para a família”, completou a coordenadora do programa.
Pacientes e familiares confirmam tratamento humanizado e eficiente
Um importante programa da Rede de Atenção Psicossocial, que é conectado ao Consultório na Rua, é o Famílias Fortes – o PFF. Esse programa busca fortalecer vínculos familiares para prevenir o uso de drogas ilícitas. Em alguns casos, como ocorreu com o agricultor André Rocha, cuja esposa, Francisca da Silva Rocha, o levou para fazer acompanhamento da pressão arterial e exames de sangue no veículo do Consultório na Rua estacionado em frente ao Mercado Elias Mansour, um local de grande movimentação de pessoas e forte presença de moradores de rua. Rocha não estava sóbrio e foi convencido pela esposa a procurar ajuda. “Isso aqui é muito importante, nos ajuda muito como família a cuidar de pessoas que gostam de beber”, disse dona Francisca. O casal mora na Estrada de Sena Madureira e André, machucado por quedas na rua, recebeu curativos no atendimento.
Além de pacientes eventuais, o Consultório na Rua acompanha de perto a saúde física e mental de alguns moradores de rua. Sérgio Santos da Silva, de 44 anos, gosta de artes plásticas e ganhou pincel e um quadro para pintar enquanto a equipe do programa tocava sua rotina de trabalho no Mercado Elias Mansour. “Esse trabalho do pessoal aqui é muito bom. Eu gosto porque é objetivo”, disse Sérgio.
Infelizmente a grande parte dos usuários já perdeu completamente o vínculo com a família, diz a secretária municipal de Cidadania e Assistência, Dôra Araújo, cuja pasta atende pessoas encaminhadas ao Centro POP pelo Consultório na Rua. Segundo ela, “o trabalho da Prefeitura de Rio Branco tem o sentido de dar autonomia a essa pessoa de modo que ela possa tocar sua vida com independência”. Nos casos em que ainda há alguma relação com a família, a avaliação dos programas municipais de atendimento à pessoa em situação de rua é boa. “A visão daqueles que estão próximos é muito positiva”, disse Dôra Araújo.
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