Enquanto estava aquela quentura (como se diz no Acre) do lado de fora na Avenida Ceará, Rio Branco, dentro do prédio do Tribunal de Contas do Estado (TCE), as autoridades acreanas se reuniam, protegidas por seguranças e potentes ares-condicionados. Comemoraram os 30 anos da entidade responsável por fiscalizar o dinheiro público do Estado, na sexta, dia 15, durante uma manhã inteira de longos discursos e homenagens. O calor externo e o clima quase suíço no auditório do TCE talvez sirva para mostrar a contradição entre a realidade das ruas habitadas por pessoas comuns com a elite que governa o Estado, desde sempre, numa perpétua dança de troca-a-troca conveniente de personalidades e partidos. O paradoxo é que a expressão irônica “Tribunal de Faz de Conta”, foi cunhada pela então deputada estadual do PT Analu Gouveia, atualmente uma das sete conselheiras do TCE, para se referir à ineficácia do órgão do qual agora faz parte. Acho que a Analu, que não participou do evento por estar de férias, se referia a um tempo de gastanças do erário público ao bel prazer dos governantes. Mas será que isso mudou? Não tenho parâmetros para avaliar se realmente nesses 30 anos, com a atuação do Tribunal, o dinheiro do povo acreano está sendo melhor utilizado. O que sei é que os problemas com segurança pública, saúde, transporte e educação aumentaram bastante nos últimos anos. Se investiram corretamente os recursos públicos nessas áreas delicadas só quem pode responder é o próprio TCE, mas esses temas não foram abordados durante a celebração. Obviamente que ninguém iria apontar o dedo na cara de ninguém. O momento era de comemoração e de se escrever matérias “chapas brancas” em que, como nos contos de fadas, todos serão felizes para sempre.
Na hora H, todos juntos…
Agora o que me chamou a atenção foi a cordialidade entre os políticos do PT e da oposição. No Acre, pelo atual quadro político eleitoral, tudo caminha para continuar exatamente como sempre foi. Não esperem grandes escândalos ganhando a FPA comandada pelo PT, ou a oposição. A elite não condena a elite. Ninguém vai revolver o passado, seja quem for o próximo governador. Lá estavam todos muito cordatos e educados com todos. Dava gosto de ver…
Besta é tu
É nessa hora que me lembro das escaramuças e de trocas de ataques nas redes sociais entre os internautas militantes dos dois lados da nossa política. Enquanto se digladiam, por este ou aquele candidato, terminada a eleição, todos se confraternizam e se abraçam nos bastidores. Se bobear eles até brindam com champanhe enquanto sobra processos, ódios, rancores e inimizades para os tolos…
Dividiram até o Montana
O clima de fraternidade entre os políticos de “lados opostos” era tão grande que o anão Montana Jack transitava faceiro entre os senadores Sérgio Petecão (PSD) e Jorge Viana (PT). Conversava no “pé de ouvido” com os dois, sabe-se lá sobre o quê. Nos bastidores se dizia que Montana já até definiu os seus dois votos ao Senado, em 2018.
Zoom geral
Mas o número de políticos chamava a atenção durante a solenidade do TCE. Os mais importantes estavam lá. O governador, o prefeito da Capital, o presidente da ALEAC, os três senadores e alguns deputados federais e estaduais. Afinal, são eles que mandam no Acre e nos recursos públicos. O Tribunal é o órgão fiscalizador e nunca se sabe quem pode eventualmente cair em “desgraça”. Até alguns prefeitos e vereadores do interior estavam lá em pose de “notáveis”. Ninguém sabe do futuro…
Por toda a eternidade…
Entre os conselheiros todo mundo sabe quem foram os políticos que indicaram cada um aos cargos perpétuos. Não sei se no TCE existem nomeações técnicas de conselheiros sem nenhuma interferência política. Mas aí cabe uma indagação. Como um conselheiro vai condenar alguém que o ajudou a chegar ao cargo? Mesmo eu acreditando na lisura e na imparcialidade de cada um dos conselheiros, a pergunta procede, e já deixo o espaço aberto para quem quiser responde-la.
Um olho acolá
A importância do TCE é tão grande na política do Acre que alguns dos seus conselheiros têm sido até especulados para eventuais vice de Gladson Cameli (PP). Será verdade? Prefiro não acreditar nesses boatos. Porque se isso for verdade ficará caracterizada a ambição política e de poder por quem optou em apenas fiscalizar. E isso não seria justo e nem ético …
Sabedoria popular
Agora, sem frescura. Quem pode avaliar se o TCE tem tido uma atuação efetiva é a população do Acre. Será que o cidadão ou cidadã acreana acha que a vida por aqui melhorou nos últimos 30 anos? O dinheiro público está sendo melhor fiscalizado? As Câmaras Municipais, as prefeituras, a ALEAC, o Governo do Estado, estão todos na “linha”? Mas como na solenidade não tinha “povo” para dar depoimentos sobre a importância do TCE para o Acre a gente não vai saber da resposta, por enquanto. Uma pena…