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Independência ou morte?

Por
Charlene Carvalho

O que você faria com 51 milhões de reais? O que você faria com 300 milhões de reais? Muitas coisas? Que tipo de coisas? Poderia ser mais específico? Viajaria pelo mundo? Conquistaria aquele amor impossível com viagens, presentes caros? Faria uma repaginada geral no visual? Compraria uma casa para sua mãe? Quantas casas pode se comprar com 51 milhões de reais? Quantos apartamentos se compra com 300 milhões de reais? Quantos diamantes se compra com esse dinheiro?


Veja que estou a repetir quase exaustivamente estes números que você tanto ouviu falar nas últimas horas…


E repito porque nunca vou me acostumar com isso. Sinceramente não sei o que faria com tanto dinheiro. Mas sei exatamente o que jamais farei para ganhar esse tipo de dinheiro – suado e sofrido do povo – cuja a ausência no seu lugar de origem, mata, massacra, aniquila e fazer padecer meninos, meninas, mulheres, homens, idosos, toda a nossa gente humilde e sofrida que jamais terá acesso a uma única garrafa de Perrier desses nobres senhores das capitanias hereditárias do Brasil com z.


Nos últimos anos perdemos as contas dos escândalos que assolaram a nação. São tantos que se me pedires para quantificar não vou lembrar nem da metade. E a pergunta que me faço é: de fato, quantos bilhões foram desviados dos cofres públicos? Quantos bilhões foram transformados em joias, carrões e iates de luxo, apartamentos em endereços de magnatas? Quantos mais estão sendo desviados hoje, nessa hora que é agora? Quantas contas ocultas ainda há por aí? Quantos apartamentos cheios de malas ainda serão descobertos? Difícil dizer, né?


Hoje é dia da pátria. Dia da Independência. Normalmente aproveito o período para reclamar dos tocadores de fogo que destroem nossa saúde, afinal a semana do 7 de setembro é, ou era, tradicionalmente a semana de tocar fogo na pátria. Mas como se preocupar com os pironíacos, embora o fumacê esteja aí para nos dar bom dia, boa tarde, péssima noite! – se estão tocando fogo na nação? Como não usar aqueles emojis de boca aberta e mãos nas bochechas mil vezes diante de malas e malas de dinheiro em um apartamento usado para esconder dinheiro da propina? Como não se escandalizar com a afirmação do ministro que confirma propina de 300 milhões ao ex-chefe a quem acusa de ter feito uma “espécie de pacto de sangue” com a maior construtora do Brasil?


Difícil. Muito difícil. Queria está aqui a falar de flores. De amores. De esperança. De caminhos não percorridos. Mas não há como falar de flores. Precisamos falar sobre caráter. Caráter não define. Vamos falar português claro: sobre vergonha na cara. Sobre a necessidade premente que temos de mudar a nação, não importa quantos mais tenham que cair. E da esperança de que o espinheiro seja cada dia mais lançado no fogo.


O caráter (ou falta de, você escolhe) de boa parte da nossa classe política vem sendo gradativamente revelado. Os lobos em pele de ovelha estão tendo seus rostos escancarados. Revelados gradativamente. E ainda que digam que nada fizeram, que as provas não são contundentes, que as evidências não denotam crimes e que os velhos amigos agora são delatores-sem-alma-sem-caráter-e-sem-escrúpulos, que a justiça age em benefício de poucos e só tolhe os direitos dessa pobre gente tão boa e tão injustiçada, me pergunto se eles realmente acreditam no que dizem. Devem acreditar, né? Afinal tem aquela velha máxima de Joseph Goebbels tão amplamente comentada de que uma mentira contada mil vezes vira verdade…


Os discursos me assustam. De todos os lados. Esquerda. Direita. Centro. E até dos sem lado. E diante da gravidade da situação fico a pensar: será, sinceramente, que essas pessoas acham que nós, pobres mortais pagadores de suas gentilezas e safadezas, somos tão estúpidos ao ponto de não acreditarmos no que vemos? É claro que há inocentes. É claro que nem todas as provas levarão aos culpados, mas cada vez que vejo o “Follow the Money” funcionar, me animo e me entristeço.


Me animo na perspectiva de que um dia, ainda que eu não o veja, nossa nação será livre. Me entristeço porque vejo tantas pessoas sofrendo de miséria, fome, doenças, falta de emprego, dignidade, e que estariam em melhores condições se o dinheiro tivesse ido parar na sangria da corrupção que sustenta os diamantes, as farras em Paris, os jatinhos para viagens, os apartamentos na praia e nos paraísos da nobreza. Ah, Brasil, Brasil, até quando?


Enquanto escrevo recebo mensagem de um amigo. Vou replicar por sua importância no contexto: “Os piedosos desapareceram do país; não há um justo sequer. Todos estão à espreita para derramar sangue; cada um caça seu irmão com uma armadilha. Com as mãos prontas para fazer o mal o governante exige presente, o juiz aceita suborno, os poderosos impõem o que querem; todos tramam em conjunto. O melhor deles é como espinheiro, e o mais correto é pior que uma cerca de espinhos. Chegou o dia anunciado pelas suas sentinelas, o dia do castigo de Deus. Agora reinará a confusão entre eles.”(Miquéias 7:2-4)


Você pode dizer: estavas indo bem até meter Bíblia no meio. Ah, meu querido, entenda, entenda: já devias ter acostumado que em mim a fé se sobrepõem à razão filosófica. Vivo por fé. Para te explicar melhor vou usar palavras de outro amigo: “viver pela fé é a habilidade de manter a esperança em toda e qualquer circunstância. Fé é a habilidade de ver o futuro. E no futuro há esperança. ”


No dia do independência ou morte, minha vontade é repetir três vezes: Pedro, tu me amas? E sigo acreditando na dependência de Deus, na morte do meu eu, na esperança de que dias melhores virão. E que chegue o dia em que tentar enganar o povo seja como tentar esconder o amanhecer do galo.


Haja fé, hein?


Bom dia, boa tarde, boa noite, bom feriado.


Domingo voltamos com a programação normal
Carinhos meus,
Charlene


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Charlene Carvalho

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