Dr. Antonio Vendette
Há décadas o fantasma do Câncer amedronta a sociedade mundial. Os tabus ligados ao desconhecimento da doença geram grandes medos nas pessoas em geral. Apenas aquelas que se envolvem diretamente ou indiretamente, através de um familiar ou amigo, como universo da oncologia, imergem num mundo cheio de informações e novidades.
Ali se descobre que o Câncer não é realmente a doença e sim uma palavra que define um grupo vasto de doenças neoplásicas invasivas. No passado, com conhecimentos mais baseados em células e tecidos ou órgãos, dividíamos os canceres apenas em algumas centenas. Mas hoje, com base em biologia molecular e genética, já os subdivimos em miliares de doenças, cada qual com um comportamento mais ou menos agressivo e com possiblidade de terapias eficazes diferentes.
Um grande exemplo disto é o Câncer de Pulmão que na década de 90 e 80 eram divididos em dois grandes grupos, o de Pequenas Células e os de Não-Pequenas Células. Já no princípio do novo milênio, a divisão ocorreu no último grupo, o de Não-Pequenas Células, que passou a ter os subgrupos Escamoso e Não-escamoso (como Adenocarcinoma de Pulmão). Estudos, então, separaram estes pacientes que, comprovadamente, mostraram ser entidades patológicas bem diferentes, respondendo a medicações de forma confrontante. Já no passar do ano 2010 em diante, os avanços no conhecimento molecular e genético, as avaliação através, principalmente, de exames como microarraw, que são chips eletrônicos capazes de rastrear inúmeras mutações numa pequena amostra do tumor, fomos capazes de subdividir apenas o Adenocarcinoma de Pulmão em mais de 30 diferentes doenças, com prováveis terapias alvo direcionada e também quadros de evoluções mais ou menos diferentes dentro do grande grupo de pacientes que, a princípio, apresentavam o mesmo câncer. Sendo assim por diante, mais conhecendo a doença de cada paciente, mais o sucesso em sua cura ou não.
Contudo, por mais que conheçamos a fundo a patologia de nosso paciente, ainda, o mais impactante na cura é a detecção precoce. Poder identificar tumores localizados e pequenos, ao ponto de extirpara-los cirurgicamente, ou mesmo por outra terapia local como Radioterapia, crioterapia, radofrequência, etc, é o grande trunfo da situação.
Ocorre que nos dias atuais dependemos de meios de imagem para visualizar nódulos ou massas, métodos como as Tomografias, Ressonâncias, Ultrassonografias, Cintilografias, PET-Scan, etc. Métodos que muito evoluíram na era digital e no uso de análises bioquímicas dos tumores com uso de feixe de prótons e outros. Mesmo assim, todos necessitam de tumores comum volume mínimo de 1.000.000 de células cancerígenas agrupadas, o que as vezes falha, já que se houverem apenas 990.000 células, nada será considerado relevante e, provavelmente, quando outro exame for realizado, será provável que o tumor já não seja tão pequeno. É neste ponto que perdemos muitos sucessos terapêuticos, ou, talvez, termos que utilizar um tratamento mais intenso e mais agressivo. O que poderia ser curado com uma mera extirpação necessitará de uma cirurgia mais mutilante, seguida de quimioterapia por 6 meses, Radioterapia, etc.
Na contramão deste atraso no diagnóstico surge a Biópsia Líquida, uma ferramenta que vem fazer o diagnóstico quando algumas poucas células já se instalam no organismo. O que se sempre desejou no passado vem a ser uma realidade próxima: saber se tem Câncer por um exame de sangue!!!!
Como falei, com o conhecimento molecular e genético de cada câncer, conhecemos suas digitais em forma de proteínas. Quando no sangue de uma pessoa identificamos tais digitais é possível concluir que células específicas de um câncer estão ocupando seu organismo, passando a uma busca incessante em identificar o foco, que, em alguns momentos, podem ser microscópicos. Isto acelera a detecção, aumenta a chance de cura e minimiza tanto a complexidade do tratamento bem como o custo. Embora pareça algo futurista, na prática terapêutica, junto a alguns tipos de câncer, já utilizamos há algum tempo na Oncoclínica. Entretanto, na forma de rastreio, ainda aguardamos as definições de padrões em valores e tipos de proteínas a serem rastreadas, que serão estabelecidas pelas grandes instituições de pesquisas e Sociedades internacionais e Nacionais, das quais nosso grupo são associados.
Mas, a grande estrada para o tal diagnóstico precoce está quase toda percorrida. Enquanto não a possamos utilizar na sua plenitude para este fim, na nossa prática clínica, no tratamento de nossos pacientes, focando uma terapia mais individualizada, lançamos mão da Biópsia líquida no nosso dia a dia quando indicada. O mais importante em ser lembrado é que o grupo vasto e heterogêneo de doenças chamado Câncer é um universo a ser desmistificado e, dentro da grande maioria de pacientes, extremamente curável.
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