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Haja Luz! Experiências de algumas horas de apagão

Por
Charlene Carvalho

Não é que não goste do escuro. Às vezes gosto. Mas só as vezes. Na maioria das vezes prefiro a luz. E se for para comparar luz e trevas, aí nem há o que se pensar. Luz sempre. Bem, estava eu em uma solenidade acompanhando meu querido chefe e eis que a luz se vai. Pensei com meus botões: ah, foi uma queda de energia. Muito calor – embora o dia tenha sido ameno -, já já volta. Esse já já durou uns oito discursos e uma vinda pra casa quase toda no escuro para chegar e ler essa mensagem que a Ana Cristina Silveira – sempre ela – rapidamente envia:
“A Eletrobras Distribuição Rondônia informa que houve um desligamento geral no sistema de transmissão do Sistema Interligado Nacional -SIN a partir da UHE Samuel, com perda de bloco de geração e que o Operador Nacional do Sistema Elétrico -ONS está apurando as causas, assim como coordenando o processo de recomposição do sistema”.


Me diz aí, leitor: tu entendeste? Nem eu. Mas te digo uma coisa: pensa numa pessoa que tem raiva no mundo desse maldito “Operador Nacional do Sistema”. Pensou? Não se compara à minha pessoa. Pior que isso só o “apurando as causas”. Santa Paciência, Batman!! Essas apurações são mais escuras que a noite mais negra. Ninguém sabe, ninguém viu. E os culpados? Ah, esses são mais ocultos que a equação que sempre coloca nossas contas de luz lá em cima.


Respostas prontas que nada dizem sobre um problema crônico me irritam. Essas da Eletrobrás, então… Parecem aquelas explicações que os médicos nos dão para sintomas terríveis de dor, febre, nariz escorrendo, crianças chorando: é virose. Daqui uns dias melhora. Arght!


Antes, quando faltava luz por aqui a culpa era da mucura. Os não tão jovens lembram disso. Com linhão havia esperanças de que mudança. Pra melhor. Não mudou. A luz apaga e a culpa é das estrelas. Ganhamos a versão digital mucura, só pode. Aff…


Mas, pera…
Bora esquecer isso aí e focar no que estava pensando em escrever para vocês sobre o blecaute nosso de cada dia, que a Eletrobrás tão lindamente nos brinda. Queria falar sobre luz, sobre cuidados. Rebobina a fita e vamos começar tudo de novo.


Tenha paciência…


Lá na solenidade, mesmo com ar ligado tava quente. Do meu lado duas amigas. Uma a irmã deixou a casa toda aberta – portão, portas, janelas, um terror nessa violência que nos assola. Saiu correndo para tentar evitar o pior. A outra fez da casa uma fortaleza e no blecaute o filho queria pular a cerca – elétrica – para entrar, uma vez que só tinha controle remoto do portão (a chave só Jesus sabe onde ele perdeu). Foi preciso ela ameaçar o gajo com a realidade. Explico. Precavido, o marido dobrou as baterias da cerca elétrica. Tens os blecautes, sabe como é, né? Pois é. Era pular e ser eletrocutado. Outra que saiu na carreira. E eu? Bem, eu fiquei né??


Sem microfone o povo ia ter dó e falar menos, certo? Isso mesmo. Errado. Mas tava de boas. Geral falou e nada da luz. Aproveitei para ficar dando uma espiada nos grupos de Whats. Rapidamente – viva os Comunicadores!!! – percebo que o blecaute é geral. Em um grupo de amigos de Sena vem a informação que Rondônia também estava sem luz (de lá também soube que teríamos luz em breve). E entre informações de grupos de notícia, uma boa conversa me distrai. Obrigada, obrigada, obrigada ter internet em meio a esse caos.


Você pode me perguntar: mas Charlene, tu tinhas bateria pra isso tudo? Tinha. Minha pessoa também é precavida, leitor. Não costumo sair pra trabalhar com telefone sem carga. E existe um brinquedinho lindo chamado recarregador portátil. O meu sempre funciona. Moro longe e apagão aqui é de lei. Portanto…


Voltando à conversa, lamentei não poder ouvir os áudios de uma amiga – que tem os melhores áudios da vida e bate ponto no grupo de meninas -sobre o Festival de Food Truck. Concentrei minha atenção entre os discursos e as conversas do Whats. O tempo foi passando, a solenidade acabou e luz que é bom nós não tínhamos. Volto pro carro e, adivinha? Uma criatura das trevas estacionou bem rente ao meu carro. Sair dali só na base do milagre. No escuro então…


Eis que uma alma caridosa aparece. O dono da moto que me atrapalhava à frente. Viu que era uma mulher a manobrar e foi logo avisando: dirigir não sei, não tenho habilitação para carro (obrigada pela honestidade, moço), mas deixa eu lhe ajudar a manobrar. Roda pra lá, roda pra cá, pra esquerda, pra direita, um medo da peste e, shazam!! Saí!! Ô Glórias, vou pra casa. Mas aí pensei (eu sempre penso demais), como vou entrar??


É, portão eletrônico é uma benção. Mas sem luz é um empecilho brabo. Para mulheres sem força então…Já passava das nove da noite. Ter que desenrolar aquele portão… xi…. Chega mensagem de uma amiga de Porto Velho: aqui (lá) a luz voltou. Aqui nada. Ligo pra casa e peço auxílio. Pego a estrada no escuro. Milagrosamente não tive problemas de espera nos semáforos. Muito antes de chegar na rotatória da AABB vejo luzes e vou me animando. Cada parada uma olhada no Whats que a estas horas bombava com o povo anunciando: aqui voltou, aqui voltou!


Quando entro na rotatória, para minha alegria, há luz. Sigo rápido pra casa – respeitando os limites de velocidade, obviamente – e respiro aliviada ao entrar na minha rua mais ou menos iluminada (tem uns postes carecendo de novas lâmpadas). Ufa!! Livrei-me do portão. A garotada da rua tá reunida na calçada da vizinha (sim, sou agraciada por esses benefícios) e não deixo de tirar onda com eles: escaparam de abrir o portão pra mim, hein? Eles riem me dão de ombros e dizem: bem capaz! Mas eles iriam abrir o portão. Ah, se iam. Vejo a festa deles ali conversando, as luzes todas acesas – havia velas acesas ainda – e me dou conta de como é bom poder viver na luz.


Como disse lá em cima, um escurinho pode ter seus bons predicados – do cinema, do seu quarto escuro bem geladinho, do conforto de um abraço preguiçoso, da noite escura de céu estrelado – mas a gente nasceu para brilhar e viver na luz. Somos luz!


Olhando os perrengues da noite – meus e de milhares de acreanos – me irrito profundamente com a nota de telemarketing da Eletrobrás. Não diz nada com nada. Não traz luz a essa escuridão que me recuso a acostumar. E me faz ser grata. A Papai do Céu por seus anjos cuidadores. Aos amigos pelo apoio em momentos difíceis. E à luz da existência.


Sim, consigo enxergar luz nas trevas.


E, gracias, meu anjo, pelo carinho e cuidado!


Boa noite, leitor. Que seu dia seja iluminado.


Carinhos meus,
Charlene


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Charlene Carvalho

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