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Depressão e suicídio.- o que fazer diante de um deprimido?

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*Jorge Araken Filho


Há dois dias, logo ao despertar, deparei-me com uma tragédia, infelizmente rotineira no mundo moderno: mais uma jovem se suicidou. Desta vez, ao vivo, pelo Instagram… Ontem, os pais da jovem, quase tão jovens quanto ela, certamente desesperados com a tragédia, transmitida ao vivo, também se suicidaram… Perdas irreparáveis, que, infelizmente, cairão no olvido.


Não me canso de escrever sobre a depressão, como os meus leitores mais fiéis devem saber. Eu mesmo, apesar da consciência que tenho da minha doença, sofro de grave depressão. Sinto, na pele e no coração, a dor dessa jovem, o desespero de não ver saída. Cada dia é um tormento, cada segundo uma eternidade. Entre rendições, desistências e autossabotagens, vou lutando, todos os dias, para não me deixar seduzir pela pulsão de morte, essa força voraz que palpita no meu peito.

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Aos depressivos desse mundo, gente como eu, a minha solidariedade. Não se sintam sozinhos! Estou aqui, no mundo virtual. Conversemos… Conte-me a sua dor, divida o seu fardo. Eu sobreviverei… Na verdade, sobreviveremos juntos… Nem tudo está perdido. Existe gente como você. Apenas se reconecte consigo própria através dessas almas que também sofrem por aí… De mãos dadas, a gente se encontra, e o peso se torna mais leve. Não enfrente tudo sozinha, nem se envergonhe de estar doente! Procure ajuda de amigos, parentes e, principalmente, de profissionais. Ter depressão não é vergonhoso. Vergonhoso é destilar preconceito.


Aos idiotas desse Planetinha azul, que tratam como frescura uma grave doença, o meu mais profundo desprezo. Leiam o meu texto e reflitam sem preconceito! Quem se mata não é fraco, apenas está doente. É verdade!, depressão é doença! Só você, um intolerante cheio de certezas, é que não sabe. A depressão se trata com remédios e um bom Psiquiatra, a sua intolerância provavelmente não tem cura.


Aproveitando as tragédias, que continuam a acontecer, sobretudo nas Cidades grandes — quase rotineiras, infelizmente —, devo relembrar, pela enésima vez, que depressão não é doença de ricos e inconsequentes, nem é frescura, como costumam dizer os desinformados e preconceituosos!


Depressão, na verdade, é o abandono de si próprio, é a insatisfação com o próprio eu, mas não é só isso; é uma patologia que envolve predisposição genética e afeta o equilíbrio químico do cérebro.


Depressão é uma doença crônica, muitas vezes incapacitante, que produz alteração do humor, quadro de tristeza profunda e sem fim, sentimentos de amargura, desencanto com a vida, desesperança sem motivo, déficit na autoestima e culpa recorrente, associada, quase sempre, à autopiedade.


Nos quadros depressivos, degrada-se, muitas vezes com graves consequências, a capacidade para lidar com as múltiplas perdas que a vida impõe aos seres humanos, e aqui me refiro não somente às mais óbvias — pessoas e objetos —, senão também às perdas da libido, da autoestima e da pulsão vital, que se expressam através de inibições como a anorexia, a insônia, a abulia e a indiferença diante da dor e do destino.


Mais do que tristeza, a depressão gera melancolia, um sentimento prolongado de revolta com o próprio ego e de frustração com a existência, um desânimo intenso, que envolve, em alguns casos, a recusa à vida, afastando o deprimido dos amigos e das atividades profissionais. O abuso das drogas — consentidas ou proibidas —, só agrava o quadro, abrindo o abismo sem fim que acaba engolindo o deprimido.


Frases do tipo: — Tão jovem assim, com a vida pela frente! Ou, ainda pior: — Como uma pessoa tão bonita e cheia de vida, comunicativa, repleta de amigos, pode estar deprimida? Todas essas afirmações e perguntas refletem o preconceito que, como uma serpente venenosa, se aninha no desconhecimento de que a depressão é uma doença, um desequilíbrio na química cerebral com graves consequências, não raro o suicídio. Tanto pior, quando associada ao abuso das drogas.


Depressão não é sinônimo de tristeza nem de desânimo, embora essas emoções se exacerbem nos quadros depressivos. O deprimido recrimina-se do que não fez e sofre com delírios de autopunição, reduzindo-se, progressivamente, a sua capacidade de amar e interagir com o mundo.


A depressão imobiliza o sujeito, mina os desejos e a energia para realizá-los. O deprimido se sente derrotado, imaginando que todo esforço seria inútil. Ele se paralisa na autocomiseração!


Não tem fé em si mesmo, nem se conecta com as próprias emoções: ao contrário, encontra nas expectativas dos outros, que nunca imagina atender, a fonte perene das suas frustrações, buscando, no exterior e no que as pessoas dizem que é certo, a felicidade que nunca consegue alcançar.


Como Don Quixote, vive a perseguir ilusões e objetos irreais, num mundo em que a fantasia retroalimenta as suas angústias e frustrações.

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Nesse delírio de autopunição, representa seu ego como algo sem valor e desprezível, incapaz de qualquer realização digna, num quadro delirante de inferioridade física e moral, que é acompanhado, quase sempre, de insônia e da recusa em se alimentar ou, em alguns casos, da compulsão por comida, um quadro patológico em que o instinto de sobrevivência é superado pela dor. Não raro, surge, como válvula de escape, o abuso das drogas, uma tentativa infrutífera de neutralizar a melancolia, que vai se tornando, pouco a pouco, um monstro devorador de sentimentos e emoções. Abusar das drogas, para aplacar a depressão, é como lançar gasolina ao fogo, na ilusão de apagá-lo… Só o médico pode receitar drogas, e apenas as lícitas.


O sintoma mais persistente da depressão, talvez o mais nocivo, é a autossabotagem. Quando o deprimido começa o ciclo de autodestruição, mergulhando na chamada pulsão de morte, inicia-se a negação da doença e do tratamento. Ele simplesmente não vai ao psiquiatra ou abandona a psicoterapia e, pior ainda, a medicação. A ajuda dos parentes e amigos não passa pela prescrição de receitas milagrosas, mas pelo segurar o outro pelas mãos e levá-lo a buscar ajuda especializada. Convencer o paciente de que não vergonhoso ir ao Psiquiatra é o primeiro passo. Mostre que não tem preconceito, e ele acolherá a sua mensagem, percebendo que depressão é doença e que o psiquiatra é o especialista mais indicado. Se fosse uma mal do estômago, o indicado seria um gastroenterologista, no pulmão, um pneumologista, no coração, um cardiologista, na mente, um Psiquiatra. Simples assim!


Estar deprimido não é fraqueza nem falta de Deus; é como entrar no labirinto do Minotauro sem porta de saída…


— Acabado, sem amor, gasto pelo tempo, cabelos brancos, rugas no rosto, olheiras profundas, bolsas sob os olhos, músculos flácidos, pele sem brilho… Isso não é justo! — Dizia o homem, enquanto examinava, com estranho fascínio, a triste figura em que se transformara.


Confuso, diante da imagem decadente que se refletia no espelho, ele vislumbrou, sob a velha carcaça, os traços da juventude que se perdera no outono da vida. Ele sorriu, pensando, talvez, que ainda lhe restassem alguns traços de formosura debaixo da pele encarquilhada:


— Pense, homem! Seria ainda pior, se você fosse mulher… Pelo menos a celulite não habita o seu corpo… — Ele dizia isso com uma estranha maldade nas palavras, um sabor acre que escorria dos lábios.


Depois de um breve momento de esperança, uma repentina fé na vida, a sua fisionomia se fechou, restando, no rosto envelhecido, um amargo sorriso, a enunciar a nuvem negra que encobria a sua mente:


— E desde quando você não tem celulite? Não seja autoindulgente com toda essa flacidez! Nem por piedade, aceite autoelogios! Você foi abandonado, trocado por carne mais jovem, com músculos mais rijos e pele sedosa, um rapaz jovem, com uma carreira pela frente! Ela o abandonou! Também, trinta anos mais jovem… O que você esperava? Que ela afagasse seus cabelos brancos ou trocasse suas fraldas geriátricas na velhice? — Ele disse a si mesmo, ao estilhaçar o espelho, com os punhos cerrados.


Perdendo a luta com o tempo, ele se sentia derrotado, incapaz de ver em si mesmo o sonhador que fora um dia. Sem qualquer aviso, a vida se tornara um lento e nostálgico remoer do passado, uma busca incessante do tempo perdido. Sentia-se impelido a escavar velhas culpas, a destilar lamentos pelo perdão que negava a si mesmo.


Foi assim, hipnotizado pelas gotas de sangue que pingavam no tapete branco, que ele conheceu a depressão…


Sei que muitos fazem pouco da depressão, tratando-a como tristeza ou simples incapacidade para lidar com os desafios da vida. Por isso, encerro com o poema de Boris Vian, citado pela Psicanalista
Maria Rita Kehl no Preâmbulo de“O tempo e o cão: a atualidade das depressões”:


“Morrerei de um câncer na coluna vertebral


Morrerei de um câncer na coluna vertebral


Será numa noite horrível


Clara, quente, perfumada,


sensual Morrerei de um apodrecimento


De certas células pouco conhecidas


Morrerei de uma perna arrancada


Por um rato gigante surgido de um buraco gigante


Morrerei de cem cortes


O céu terá desabado sobre mim


Estilhaçando-se como um vidro espesso


Morrerei de uma explosão de voz


Perfurando minhas orelhas


Morrerei de feridas silenciosas


Infligidas às duas da madrugada


Por assassinos indecisos e calvos


Morrerei sem perceber


Que morro, morrerei


Sepultado sob as ruínas secas


De mil metros de algodão tombado


Morrerei afogado em óleo de cárter


Espezinhado por imbecis indiferentes


E, logo a seguir, por imbecis diferentes


Morrerei nu, ou vestido com tecido vermelho


Ou costurado num saco com lâminas de barbear


Morrerei, quem sabe, sem me importar


Com o esmalte nos dedos do pé


E com as mãos cheias de lágrimas


E com as mãos cheias de lágrimas


Morrerei quando descolarem


Minhas pálpebras sob um sol raivoso


Quando me disserem lentamente


Maldades ao ouvido


Morrerei de ver torturarem crianças


E homens pasmos e pálidos


Morrerei roído vivo


Por vermes, morrerei com as


Mãos amarradas sob uma cascata


Morrerei queimado num incêndio triste


Morrerei um pouco, muito,


Sem paixão, mas com interesse


E quando tudo tiver acabado


Morrerei.”


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.


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