Acompanhei no final de semana parte do Encontro de Jovens Militantes da Rede, em Rio Branco. A estrela do evento era a ex-senadora acreana, Marina Silva (Rede). Ela estava acompanhada da ex-senadora alagoana Heloisa Helena (Rede) e de vários porta-vozes nacionais do partido. Na sua fala aos jovens, Marina afirmou que não se decidiu sobre ser candidata à presidência da República, em 2018, apesar de ser um dos nomes mais bem colocados nas pesquisas.
“Quanto a questão da minha candidatura à presidência eu ainda estou fazendo o meu discernimento, conversando com pessoas, minha família e meus amigos mais próximos. Tenho um senso de responsabilidade muito grande com os mais de 20 milhões de votos que foram dados ao nosso projeto em 2014. Mais ainda com a crise que o Brasil está vivendo. Queremos participar do debate, mas acho interessante que muita gente fica dizendo que a gente não está participando. Por que falo tanto e continuam dizendo isso? Eu cheguei a seguinte conclusão: Como o PT, o PMDB e o PSDB dizem que são contra a Lava Jato e nós afirmamos ser a favor então eles consideram que isso não é uma fala. Como somos a favor de acabar com o fórum privilegiado e eles são a favor, eles dizem que o que dizemos não é uma fala. Como somos contra ao projeto de anistia do caixa 2 de campanha e eles são a favor, o que nós afirmamos pra eles não é uma fala. E como nós estamos defendendo uma nova eleição presidencial desde 2015 e, eles querem a continuidade de Dilma (PT) ou Temer (PMDB), então preferem nos desqualificar. O problema é que não estamos nem embaixo do guarda-chuva vermelho e nem do azul. Nós queremos construir o nosso próprio guarda-chuva para o Brasil ter uma política decente,” afirmou Marina.
A criminalização da política
Um dos principais debates no plano nacional envolve as forças políticas e o Judiciário. Marina Silva revelou o seu ponto de vista sobre o assunto.
“Precisamos melhorar a qualidade da política porque a própria política está em crise não só no Brasil, mas no mundo inteiro. O caso do nosso país é mais grave, porque estamos precisando de um socorro da Justiça. A política brasileira ao invés de resolver problemas passou a criar problemas. É por isso que muita gente fica dizendo que estão judicializando a política. Isso acontece porque alguém criminalizou a política. Se não tivessem cometidos crimes gravíssimos contra as finanças públicas e a democracia não precisaria do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal estarem socorrendo a política. Precisamos transformar a política para que ela volte a ajudar a resolver os problemas,” argumentou a ex-senadora.
As consequências da corrupção
Na opinião de Marina Silva, os repetidos casos de corrupção envolvendo os grandes partidos são os responsáveis pelo retrocesso social, econômico e político do Brasil .
“Faz bem pouco tempo nós éramos a oitava economia do mundo e atualmente estamos em vigésimo lugar. Tínhamos há bem pouco tempo um quadro de pleno emprego e atualmente 14 milhões de desempregados. Ainda há pouco tempo o mundo inteiro celebrava que tínhamos tirados mais de 35 milhões da pobreza absoluta, mas com essas altas taxas de desempregados é fácil ver que voltamos a uma situação crítica. Há bem pouco tempo a gente se orgulhava de ter o FIES, Pronatec, Minha Casa, Minha Vida como programas sociais, ainda que precisassem de ajustes, e agora nós vemos tudo isso ir por água baixo. E quem levou tudo isso pro buraco foi o Governo Dilma-Temer. Eles ganharam juntos, foram absolvidos juntos, fizeram suas defesas juntos, levaram o país para a bancarrota junto e hoje combatem a ferro e fogo a Lava Jato juntos e tentam desmoralizar o juiz Sérgio Moro. Por isso que digo que são irmãos siameses,” disse ela.
Quebrando a polarização política
No seu discurso, Marina deixa claro que a Rede irá atuar para tentar quebrar a hegemonia dos grandes partidos. Apesar de não ter se decidido ainda pela sua candidatura à presidência, Marina revelou que a Rede trabalha numa proposta de Governo para apresentar à Nação, em 2018.
“A Heloisa Helena é responsável para fazer o debate junto às bases da Rede visando uma atualização do programa de Governo em relação a nossa candidatura de 2014. O Brasil precisa sair do presidencialismo de coalizão que já deu o que tinha que dar e levou o país para o buraco. Já que não conseguimos aprovar o parlamentarismo no plebiscito, não dá mais para o presidencialismo se sustentar na distribuição de pedaços do Estado para partidos, lideranças políticas e empresas. Nós precisamos transitar para o presidencialismo de proposição que se sustenta através de programas de governo. Qualquer gestão pode conseguir a maioria nas Câmaras de Vereadores, nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional em cima de programas. Não é com distribuição de renda e nem de aliciamento de votos, como fez o Temer na CCJ da Câmara,” criticou Marina.
Sem radicalismo
A proposta da Rede é quebrar paradigmas da política que giram em torno de si mesmos e visam apenas o poder pelo poder. Marina admitiu que, como em todos os partidos, a Rede também tem pessoas que não estão afinadas com uma nova maneira de pensar a política, mas exaltou os militantes a valorizarem os melhores. A ex-senadora quer que a Rede lance candidatos de qualidade em todos os níveis para concorrer as eleições de 2018.
“A verdade não é patrimônio de nenhum de nós, ela está entre nós. Por isso que as coisas boas precisam ser preservadas. As coisas erradas tem que ser reparadas e as que ainda não foram feitas a gente precisa começar a fazer. Essa é uma outra ideia para a política, compor um governo com base em propostas,” refletiu.
A Rede no Acre
Pelas falas das lideranças do partido, a Rede deverá lançar candidatos ao Governo do Estado e ao Senado. Mas percebi que Marina Silva acha importante conseguir eleger pelo menos um deputado estadual e outro federal no Estado. Ela também deixou claro que, se não houver o Distritão, a tendência é a Rede se unir a outros partidos nas eleições proporcionais.
A força da Jaguatirica
Querendo ou não, Marina Silva é a personalidade política acreana de maior destaque no cenário nacional e internacional. Por enquanto, segundo a pesquisa DataFolha, ela aparece como a única candidatura capaz de vencer Lula (PT), num eventual segundo turno em 2018. Com origens nos seringais do Acre, Marina tem uma trajetória política admirável como deputada estadual, senadora, ministra e candidata duas vezes à presidência da República. Além de questões ideológicas, admiro a capacidade de leitura política da ex-seringueira que se tornou uma referência mundial em questões relacionadas ao meio-ambiente. Apesar de ter uma saúde fragilizada, Marina continua com a força regeneradora da floresta dentro de si para participar dos grandes embates políticos do Brasil.