O ex-presidente Lula concedeu entrevista exclusiva ao vivo nesta quinta-feira, dia 29, à Rádio Difusora Acreana, no programa Gente em Debate, apresentado pelo jornalista Júlio César. Investigado na operação Lava Jato, Lula, como de costume, falou sobre sua relação com o Acre e fez recheados elogios aos irmãos Viana, mas não perdeu tempo ao criticar o governo de Michel Temer.
Em 45 minutos de conversa com a rádio acreana, o ex-presidente deixou claro que é vítima de perseguição porque pode ser candidato à Presidência da República em 2018. Lula criticou a forma com que o Brasil vem sendo governador pelo PMDB, e afirmou que, no âmbito da Lava-Jato, já provou que é inocente e que espera dos investigadores ao menos uma prova de que é culpado.
Lula disse que as pessoas discriminavam o Acre até na hora de fazer investimentos para a construção de pontes ou estradas. Também fez críticas aos cortes nos repasses da Noruega para o Brasil, dinheiro que financia a preservação da floresta amazônica. No final, o petista falou sobre o que os brasileiros podem esperar dele, caso eleito presidente outra vez. A entrevista promete repercutir no meio política acreano.
Ao lado do presidente Michel Temer, em um pronunciamento, a primeira-ministra Erna Solberg, confirmou, na semana passada, que a ajuda que a Noruega dá ao Fundo de Preservação da Amazônia vai cair pela metade em 2017 por causa do desmatamento. Mas o Acre, como propagado pelo governo reduziu 67% das derrubadas nos últimos anos, motivo para Lula comentar.
“Nós tínhamos aprovado uma lei que até 2020 iriamos diminuir o desmatamento. Agora, o que agente tem assistido, é que podem vender nossa terra para os estrangeiros. A sociedade, ela também tem responsabilidade. No caso do Acre, a verdade é que o desmatamento foi diminuído em cerca de 64%. É uma demonstração de que e possível fazer”, lamentou o ex-presidente.
Não bastasse o comentário, Lula fez questão de dizer o que acredita: que os cortes não são resultado do aumento no desmatamento, mas da crise política que teria se instalado no Brasil desde o impedimento do ex-presidente Dilma Rousseff, e, consequentemente a posse de Michel Temer para conduzir o país.
“Quando o presidente vai para a Noruega, e eles anunciam que vão diminuir o investimento, é porque eles acreditam que o governo é resultado de um golpe. Eu espero que logo, logo, esse país tenha um presidente eleito democraticamente. Nós já tivemos muita credibilidade. Era motivo de orgulho você ter um passaporte brasileiro”, completa.
E sobrou até para os parlamentares acreanos que votaram a favor do afastamento de Dilma Rousseff: “Nós perdemos tudo isso por irresponsabilidade de um bando de golpistas, inclusive com a participação de deputados do Acre, de senadores do Acre. Se as pessoas querem governar o país, se preparem, e se ganhar, governem. O que não pode, é dar um golpe. Tiraram uma pessoa democraticamente eleita, com 54 milhões de votos. A verdade é essa: plantou-se vento, está se colhendo tempestade”, disse.
O Brasil conta com quase 17 mil km de fronteiras terrestres e 10 mil delas estão na Amazônia. Parte dela no Acre. Em 1950, eram mil homens do Exército na região. Hoje, são 20 mil. Mesmo assim, o número não tem sido suficiente para a entrada e saída de drogas ilícitas pela faixa fronteiriça do Brasil. O Acre é porta de entrada da droga estrangeira no país.
Sobre isso, Lula diz que é preciso montar uma estratégia unificada entre as forças de segurança dos Estados e União. Uma das regiões mais vulneráveis para o narcotráfico é o Vale do Juruá. Há pouco tempo a Força Aérea Brasileira apreendeu um avião particular carregado de drogas. Não sendo suficiente, uma plantação de maconha foi encontrada ás margens da BR-364, sentido Cruzeiro do Sul. Sem falar que parte dessa droga abastece outras regiões do estado.
“É preciso que a gente se una com as forças armadas de outros países. É preciso que a gente conte com a Polícia Civil. Vamos ter eleição em 2018. Se o PT for participar, vamos apresentar uma proposta de segurança construída para que a gente possa evitar o tráfico. Você veja como os Estados Unidos gasta dinheiro nisso, você vê a Europa. Alguém sempre dá um jeito de ela [a droga] chegar em algum lugar”, diz Lula.
Réu em cinco ações penais, três delas no âmbito da Lava Jato, Lula comentou sobre a operação da Polícia Federal e se mostrou favorável às investigações. Mas classificou que há “pirotecnia” ao falar no ex-presidente. Além disso, o petista alega que nenhuma prova contundente o aponta como beneficiado em esquema de corrupção ligado à Petrobrás.
“Primeiro, eu sou favorável. Acho que o povo brasileiro está de acordo que tem que se combater a corrupção. Mas eu defendo que seja combatido com mais inteligência. Não para as pessoas serem presas e fazerem delação premiada. Eu lamento que o processo da lava jato tenha se transformado em uma pirotecnia. Eu até agora estou na expectativa de que [os investigadores, promotores] apresentem uma prova, um papel assinado, um cheque, uma digital minha”, comenta.
Lula classifica os processo contra ele como uma briga política para impedir uma provável candidatura nas próximas eleições presidenciais. Muito disso, deixa claro, é culpa da Rede Globo. “Eu tenho dito para todo mundo que eu já provei a minha inocência. Quero saber como a Globo vai se explicar se eu for julgado inocente. Mais de vinte horas de Jornal Nacional falando mal de mim. Eu sinceramente aguardo esse momento. Alguém vai ter que me pedir desculpas. À operação Lava Jato, continue fazendo seu trabalho”, completa.
Lula deixou claro que se vê como vítima da mídia e daqueles que os querem fora da política ou atrás das grades. Ao citar as acusações contra ele na operação Lava-Jato, Lula diz que esses são alguns dos motivos que fizeram a esposa dele, Marisa Letícia, morrer em fevereiro deste ano. Ele diz que foi acusado também no Acre, e que espera um pedido de desculpas de seus acusadores.
“Eu quero que o povo do Acre saiba o seguinte: a única coisa que tenho a oferecer é a minha inocência. Aos que me acusaram no Acre, eu quero que me peçam desculpas. Se as pessoas tiverem caráter, as pessoas saberão pedir desculpas. Não tenho mais mulher porque morreu, inclusive, uma das razões para a morte da Marisa foi essa”, diz.
Ao comentar a denúncia contra o presidente Michel Temer, Lula se mostrou político. Não quis chamar o presidente de acusado, nem o sugeriu como inocente. Apenas disse que provas precisar ser apresentadas antes de uma condenação, e voltou a dizer que não é necessária uma operação de pirotecnia para manchar a imagem de ninguém.
“Se o procurador geral da república tem uma denúncia, ele primeiro precisa provar. Eu quando falo isso é porque sou achincalhado desde 1982 quando criei o PT. Não basta dizer que a pessoa cometeu um erro. Mas eu acho que se a gente fizer isso com menos show de imprensa, se o presidente estiver culpado, ele tem que ser julgado”, afirma.
Para Lula, se Rodrigo Janot, que atualmente é o chefe do Ministério Público Federal não estiver dizendo a verdade sobre Temer, o procurador geral da República precisa ser investigado e responsabilizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público, órgão que pune os membros da magistratura. “Ninguém pode acusar ninguém sem ter provas materiais. Eu acho que ninguém pode ser acusado de forma irresponsável”, completa.
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