Normando Sales está chegando aos 60 anos de idade transpirando política. Ainda que recentemente tenha anunciado o seu afastamento. Ele já foi prefeito de Sena Madureira, deputado estadual e teve três candidaturas a deputado federal, todas frustradas. Atualmente vive da venda de créditos de carbono do Projeto Purus de preservação ambiental.
Mas o papel mais relevante de Normando Sales nos últimos anos tem sido nos bastidores políticos. Uma espécie de guru de alguns setores da oposição. Sempre polêmico, Normando vê nas candidaturas de oposição ao Senado um risco para o objetivo maior que é a vitória ao Governo do Acre, em 2018.
Nessa entrevista exclusiva ao AC24horas, Normando revela as suas análises sobre o quadro político atual do Acre e as projeções às próximas eleições. Crítica a FPA por copiar projetos da oposição e avalia a postura dos principais nomes que deverão disputar os cargos majoritários em 2018.
ac24horas – Normando Sales você foi considerado por um longo tempo como uma das cabeças pensantes da oposição ao PT do Acre. Você era realmente o principal articulador político dos oposicionistas?
Normando Sales – Eu nunca fui o principal articulador da oposição, mas o primeiro político de maior expressão a se desvincular da FPA. Porque quase todos os atuais líderes da oposição vieram de lá. Com exceção de alguns políticos ligados ao PMDB que nunca fizeram aliança com a FPA. Mas o Gladson Cameli (PP) veio de lá, Petecão (PSD) veio de lá, o Bocalom (DEM) veio de lá, eu vim de lá, o Márcio Bittar (PSDB) veio de lá. Então naquele tempo em que ninguém podia falar mal da FPA eu saí da FPA por discordar dos seu métodos. Tive a coragem de me afastar deles e fui fazer oposição. Tenho sofrido muito por causa disso e pago um preço muito alto, mas não tenho arrependimento. Fiz isso com lucidez e segurança.
ac24horas – Mas recentemente disseram que você teria novamente se ligado à FPA, que houve um namoro?
NS – Nunca. Absolutamente nada, sem chances.
ac24horas – Você só foi da FPA no tempo do PSDB?
NS – No tempo do PSDB. Ajudei a estruturar o PSDB, naquele momento, que era capitaneado por mim e pelo Hamilton Rocha, Tião Bocalom, Paulo Veloso e outras pessoas.
ac24horas – Mas por outro lado, o seu irmão Nelson Sales (PV) foi eleito deputado estadual pelo PV na aliança de oposição, mas logo nos primeiros meses de mandato passou para a FPA. As pessoas diziam que você estava por trás disso.
NS – Se meu irmão tivesse me consultado naquela decisão ele não teria ido. Mas posso te afirmar que ele me consultou quando teve um problema interno no PV para sair. Aí eu tive participação e mostrei os motivos pelos quais não deveria continuar apoiando o Governo atual.
NS – Não. Você como jornalista é testemunha que nunca tive nenhuma relação, por exemplo, de proximidade com certos setores da imprensa. Tenho relação com todo mundo de profundo respeito. Sempre fui um homem com uma posição muito bem definida e isso causa um certo constrangimento. Eu nunca fiquei em cima do muro por nada.
ac24horas – Você é considerado um dos principais conselheiros e parceiros do Bocalom. Como você vê essa candidatura do Bocalom ao Senado?
NS – Eu nunca fui conselheiro do Bocalom. Eu posso dizer que sou um dos poucos amigos que ele tem. No entanto, tenho que admitir que o Bocalom, depois da eleição de 2014, com o agravamento da saúde da dona Beth(esposa), a situação pessoal dele ficou muito delicada. Isso fez com que ele se afastasse do Acre. Na medida que se afastou foi perdendo espaço ocupado por outras pessoas para o cargo que pretende. Há um ano e pouco atrás eu conversava com ele sobre essa postulação ao Senado. Vejo que ele tem potencial, mas não do jeito que está conduzindo as coisas. Não só ele, mas todos o partidos que fazem oposição à FPA. Bocalom e companhia limitada, por conta dessas candidaturas ao Senado, podem perder o Governo do Estado que é o principal. As candidaturas de senador não são o foco. Nós temos dois senadores e o que mudou para a oposição? Na vida dos nosso líderes? O que mudou na condução política? Nada. Qual é o papel do senador Gladson? Ele está em Brasília e tem desempenhado um bom mandato. Qual o papel do senador Petecão? Ele tem os seus méritos e os seus valores na sua atuação no Senado, mas como isso repercute no Acre para efetivamente mudar alguma coisa? Nada. Para a militância nada, para as lideranças nada, para os partidos também nada.
ac24horas – Analisando esses cinco pré-candidatos da oposição ao Senado, Vagner Sales (PMDB), Bocalom, Petecão, Márcio Bittar e Major Rocha(PSDB). Entre eles, qual dos dois deveriam ser os candidatos da oposição, na sua opinião?
NS – É um assunto extremamente delicado, mas eu não vou ficar em cima do muro. Eu diria que as chances hoje são maiores para o Petecão que é detentor do mandato e é legítimo que dispute a reeleição. Não é conveniente sacar uma candidatura assim como fez o PT com o Anibal Diniz (PT), em 2014. Por outro lado, na minha avaliação, o Bocalom é um excelente nome, mas tem pouca retaguarda política nesse momento. O nome do Rocha é muito bom e está em ascensão. Temos o Bittar que é um nome extremamente divulgado, mas já teve todas as oportunidades como candidato a prefeito, senador e governador. Pelo Vagner Sales tenho muito carinho, mas acho que esse é o nome mais inadequado. Ele quer atrelar a sua candidatura a um projeto familiar. Quer fazer a esposa deputada estadual, manter a excelente deputada federal Jéssica Sales (PMDB), filha dele, na Câmara Federal e ele quer ser senador. Acho que é muito para uma família só.
ac24horas – O nome que se articula ao Governo na oposição é o de Gladson Cameli. Você acha que o senador tem condições de derrotar a FPA e fazer uma boa gestão no Estado?
NS – Politicamente tem condições porque já derrotou a FPA, como candidato a senador. Embora não tenha sido o meu candidato, eu votei no Roberto Duarte (PMDB), em 2014. Mas temos que reconhecer que o Gladson, como candidato a senador, foi maior que o governador Tião Viana (PT) no primeiro turno. Para o Governo é o nome posto e mais comentado. No entanto, eu não conheço ninguém que se elegeu antes de se abrir as urnas. Portanto, se vier a ser o candidato terá que convencer o eleitorado, as lideranças políticas, os setores da sociedade organizada e a população. Mas estou extremamente apreensivo pela falta de uma certa coordenação política por parte do Gladson.
ac24horas – Você já disse que sempre esteve na oposição e nas articulações depois de sair da FPA. Então como explica essas seguidas vitórias do PT e da FPA tanto para o Governo quanto para a prefeitura da Capital?
NS – A desunião de todos aqueles que se dizem de oposição.
ac24horas – Qual a fórmula para mudar essa tendência, em 2018?
NS – Todos os que pretendem os cargos majoritários se tiverem a humildade de entender que o todo é mais importante do que o seu projeto pessoal aí, nós teremos chance. Se isso não acontecer poderemos perder de novo.
ac24horas – Um dos argumentos que o PT usa sempre nas eleições é que a oposição não tem projeto. Você concorda com essa tese?
NS – Não é verdade e não vou muito longe. Quem defendia o estimulo à produção rural com mecanização agrícola, assistência técnica, ramais de boa qualidade e escolas rurais de formação? Quem sempre defendeu isso foi o Bocalom. Aí o governo do Tião Viana (PT) seguiu esse mesmo caminho que está correto. Aquilo que a gente pregava eles habilmente nos desqualificaram, a população entendeu e eles fizeram. Quem não lembra da eleição a prefeito de Rio Branco, em 2012? O Bocalom dizia que queria criar um centro administrativo onde as pessoas pudessem morar e ter uma série de serviços. Eles chamaram a cidade do Bocalom de Bocalândia. Aí eles vão e criam a Cidade do Povo. Esses são projetos da oposição. Tentaram ridicularizar, na mesma eleição, o Bocalom que dizia que iria usar o aquífero do Segundo Distrito para pôr água nas torneiras sem precisar de tratamento químico. Eles zombaram. E o quê eles estão fazendo? Aquilo que nós dizíamos que faríamos. Nós sempre falamos que o desenvolvimento e a produção só iriam acontecer no Estado com a participação da iniciativa privada. Eles não deixam a iniciativa privada promover o desenvolvimento e querem usar o Governo pra promover o desenvolvimento. Haja visto os fracassos na Fábrica de Tacos, Fábrica de Camisinhas, que só tem o Ministério da Saúde como cliente, que se um dia deixar de comprar os produtos, a Natex fecha. Aí temos o complexo Dom Porquito, pegaram o dinheiro emprestado do BNDES e entregaram para o empresário amigo. Esses núcleos de processamento de madeira nos municípios todos abandonados. Eles não tem uma política orgânica de licenciamentos ambientais. Qual a nossa principal matéria prima da riqueza do Acre? É a madeira. O Jorge Viana (PT) é engenheiro florestal e o quê ele fez? O legado que deixou é um mal exemplo para o povo do Acre. Você vê quantos engenheiros florestais temos formados aqui na UFAC e na Uninorte. E veja quantos estão desempregados. Se você analisar quantos proprietários rurais fizeram manejos florestais e não têm para quem vender. Não tem indústrias por falta de fomento. E olha o endividamento do Acre. E o quê tem para investimento no setor produtivo? A Peixe da Amazônia, do ponto de vista de projeto é um grande projeto. Mas o Estado como fomentador de geração de empregos, como tocador de uma indústria, deu provas de incompetência. A imprensa vive divulgando que aqueles que entregam seus produtos para a Peixe da Amazônia só conseguem receber em ração ou na Justiça. O que é uma vergonha. É preciso deixar os empresários decidirem naquilo que querem investir para termos desenvolvimento.
ac24horas – Dizem que você tem sido um dos conselheiros do deputado federal Alan Rick (PRB). Coincidentemente a sua proximidade, o Alan anunciou que sairá da FPA e está para se filiar ao DEM. Isso foi uma articulação sua?
NS – Eu não sou o conselheiro do Alan. Muita gente não sabe que o Alan é meu primo e nós sempre tivemos um excelente relacionamento fora da política. Desde de maio do ano passado eu me aproximei bastante dele politicamente, mas não ao ponto de ser o seu conselheiro. Nunca exerci um cargo comissionado do gabinete dele e nunca tive nenhuma função gratificada indicada por ele.
ac24horas – O Alan te falou, nessa sua relação informal, por que quis sair da FPA?
NS – O Alan contribuiu para o governador Tião Viana ser reeleito. Ele teve mais de 15 mil votos só em Rio Branco. A diferença do Tião Viana para o somatório do Bocalom e do Bittar foi muito menos que a metade disso. E eles não consideram. O Alan faz um excelente mandato. E o quê ele tem recebido da FPA? Só achincalhamento porque votou de acordo com a opinião pública brasileira pelo afastamento da Dilma Rousseff (PT). Dali pra frente o inferno astral dele na FPA todos já sabem. Mesmo apoiando o Marcus Alexandre (PT) na eleição de prefeito o Alan foi hostilizado nos comícios da FPA. Confesso que cobrei dele, como outros amigos, uma postura em relação a isso.
ac24horas – Como amigo e primo o quê você aconselharia ao Alan? Ser candidato a quê em 2018? Reeleição, vice-governador ou senador?
NS – A princípio eu falaria: “Alan não diga que você é candidato a nada.” Vá conversar com a população do Acre. Pegue a sua cota parlamentar de passagens e vá visitar os municípios. Depois dessa rodada ele ainda tem pelo menos um ano para as convenções partidárias da próxima eleição. Então tem muito tempo para decidir. Ele é muito jovem e tem um grande futuro no Acre.
ac24horas – Como que você vê esse quadro que se desenha de uma disputa entre o Gladson e o Marcus Alexandre ao Governo?
NS – Eu considero que a FPA nunca esteve tão confusa nesses 20 anos. Não vejo hoje o prefeito Marcus Alexandre candidato a governador, por motivos óbvios. Eles não vão correr tanto risco. Todos sabem que as relações políticas e pessoais entre o Marcus e os caciques da FPA não são das melhores. Na minha visão, o estilo do Marcus Alexandre é diferente e os caciques sempre quiseram pessoas obedientes. Pelo que se percebe o prefeito Marcus Alexandre não é tão subserviente.
ac24horas – Você disse que teria se afastado da política, mas até agora só falou de política. Você realmente se afastou?
NS – Eu estou me afastando. Na eleição passada eu já não participei. Preciso ver o resultado interno da família porque o meu irmão Nelson Sales deverá ser candidato a deputado federal. Se ele for vou avaliar. Se me envolver será basicamente com a eleição do meu irmão.
ac24horas – Você pessoalmente pode vir a fazer uma dobradinha com o Nelson e sair para estadual?
NS – Sem chances nenhuma. Não tenho sequer filiação partidária desde de 2015 e não pretendo ter. Quero é ter amizades com todos. Na FPA tenho pessoas muito próximas assim como na oposição. Não está mais no meu projeto de vida disputar eleição. Daqui pra frente só quero diminuir o ritmo porque cheguei aos 60 anos e isso é um privilégio. Na politica tive algumas situações de sucesso, mas também decepções. Posso eventualmente ajudar como um cabo eleitoral.
ac24horas – Só pra encerrar. Você acredita que chegou a hora da oposição ganhar o Governo do Acre, em 2018? E terá quadros técnicos para fazer a gestão do Estado?
NS – Eu penso que a hora da oposição chegou desde 2010. Não ganhamos por conta de alguns quadros. Em 2014, poderíamos ter tido um desempenho melhor, mas pela desunião não ganhamos novamente. Agora, o quadro é 100% favorável à oposição e, pela inabilidade, falta de humildade, falta de compreensão do processo político, eu ainda vejo que a oposição pode perder por questões menores. Candidaturas que não agregam a composição do que o povo quer, ou seja, a mudança. Os quadros da oposição só discutem, nesse momento, quem serão os dois candidatos a senadores. Ninguém ouve falar nada que possa ser feito para mudar. Começar a discutir alguma coisa nova em relação ao que o PT deixou de fazer nesses 20 anos. Acho que a oposição tem a sua melhor oportunidade, mas ainda pode perder.
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