A tarefa de jornalista não tem sido fácil ultimamente. São muitas notícias ruins envolvendo corrupção e a mesmice na política acreana. Mas uma coisa tem me chamado a atenção, o processo de mudança que a Universidade Federal do Acre (UFAC) vem passando nos mais recentes anos. Uma olhada rápida para o Campus de Rio Branco e a gente comprova um espaço bem cuidado. Muito diferente de alguns anos atrás quando o mato alto campeava o entorno da Universidade e o aspecto dos prédios era de abandono. Eventos importantes nacionais e internacionais como o SBPC e a Conferência da Ayahuasca, entre outros, têm acontecido com frequência na UFAC. Sem falar nos avanços acadêmicos que são notáveis com o aumento de cursos de graduação, de mestrados que passaram de seis para 14 e, quatro doutorados que antes não existiam por aqui. A UFAC tem atualmente núcleos avançados em praticamente todos os municípios acreanos. Três Campus, um na Capital, outro em Cruzeiro do Sul e o novo de Brasiléia, que tornaram real o sonho de interiorização do ensino acadêmico.
Essas minhas observações, que já vêm de longe, me inspiraram a bater um papo com o responsável por esse avanço da UFAC, o reitor Minoru Kimpara. Um goiano de 48 anos, descendente de japoneses, com uma formação acadêmica completa em educação e uma simplicidade notável. Ele estranhou, a princípio, o meu pedido de entrevista. Acho que pensou que era pelo fato do seu nome ter sido lembrado algumas vezes para concorrer a algum cargo majoritário em 2018. Mas não era bem isso. O meu raciocínio foi simples, alguma coisa está dando certo institucionalmente no Acre e quero escrever sobre isso.
Nessa entrevista Minoru Kimpara fala sobre a sua gestão que rendeu-lhe a sua recente reeleição à Reitoria com 86% dos voto, num universo mais 13 mil eleitores entre professores, alunos e técnicos . Uma marca considerável que confirma a aprovação da comunidade universitária à sua administração. Minoru comemora o curso agora regular de Direito no Campus de Cruzeiro do Sul e a sua batalha para instalar também medicina no Juruá. Ele também revela que não tem mais filiação partidária, depois de estar no PT por alguns anos. Desfaz a “lenda urbana” que é uma “criatura” gestada pelo deputado federal (afastado) Sibá Machado (PT). Admite que sonha no futuro em ocupar algum cargo político eletivo e se mostra consciente da expectativa que gerou aos acadêmicos para dar continuidade a esse trabalho positivo por mais quatro anos em meio a uma das mais severas crises econômicas do Brasil.
Minoru Kimpara – O segredo é montar uma boa equipe. A gente trabalhou na inovação. Quando disputei a primeira eleição com um candidato que tinha sido reitor por oito anos e uma candidata que estava na reitoria, eu nunca tinha sido nem pró-reitor. Mas o desejo de mudança era tão grande que as pessoas me deram esse crédito. Quando me elegi montei uma equipe para administrar a Universidade, inclusive, com técnicos que não tinham me apoiado e estavam nas outras chapas. Um gestor pode ter bons sonhos, mas se não conseguir montar uma boa equipe irá fracassar. A gente antes tinha uma tradição de devolver recursos porque os projetos não ficavam prontos. Nós tivemos muito cuidado com isso porque dinheiro público tem que ser administrado com muita responsabilidade. De 2008 até 2012 teve um processo na educação do país que facilitou a vinda de recursos. Mas nós pegamos o final desse processo, ou seja, não pegamos as “as vacas gordas”. Então tivemos que administrar as “vacas magras”. Era pra Universidade do Acre ter crescido 200%. Acho que houve medo da Universidade crescer. Mas quando nós assumimos montamos uma equipe só para elaborar projetos. A nossa filosofia era que poderia faltar dinheiro, mas não projetos. Antes o recurso vinha, mas chegava no final do ano e era devolvido. Isso desestimula o Governo a investir e os parlamentares a colocarem emendas. Mas com bons projetos a gente ganhou credibilidade dos parlamentares de todos os partidos.
ac24horas – O senhor tem filiação partidária?
Minoru – Eu tinha, mas não tenho mais. Fui filiado ao PT desde 93, mas já fazia tempo que estava afastado. Tomei uma decisão que foi investir na minha vida acadêmica, fiz meu mestrado e doutorado na UNICAMP.
ac24horas – E o senhor tem a intenção de se filiar a algum partido?
Minoru – Nesse momento não. Se a gente está num determinado partido acaba despertando desconfianças. Mas pelo processo do nosso trabalho na UFAC e o resultado dos votos que tive para a reeleição com a avaliação positiva do nosso trabalho sempre surgem especulações de possíveis candidaturas. Mas prefiro ficar livre para a Universidade receber apoio dos parlamentares de todos os partidos.
ac24horas – Nesse aspecto da política sempre o seu nome esteve relacionado com o do deputado federal Sibá Machado. Foi o Sibá que articulou a sua eleição para reitor? Qual a sua relação com o deputado?
Minoru – Não. Sou um concursado na Universidade e professor titular que é o máximo que se pode chegar na nossa carreira. Eu nunca precisei e nem tive cargo político mesmo anteriormente tendo ligação partidária. Não preciso disso para viver e posso respeitar as minhas opções ideológicas. Tenho amizades as pessoas ligadas a todos o partidos. O deputado Sibá Machado sempre ajudou a Universidade, desde que foi senador, em todas as reitorias. Tenho uma amizade com ele que continuará eu estando ou não no PT. Porque a gente tem que ter maturidade para divergir no campo ideológico e das ideias e continuar a ser amigos. A minha gratidão ao Sibá é a mesma que os outros reitores também têm por ser uma pessoa que sempre teve esse viés voltado para a educação.
ac24horas – Mas ele não é, digamos assim, o responsável pelo senhor chegar à Reitoria?
Minoru – Claro que não. Aliás não sei se você sabe. Mas temos aqui quase 300 doutores na UFAC e outros 300 mestres que hipoteticamente são pessoas esclarecidas. E quando a gente trabalha com pessoas desse nível a ingerência política ao invés de te ajudar pode atrapalhar. Aqui eu recebo pessoas de todos os partidos. Hoje posso te dizer que meu partido é a UFAC. Como meu nome começou a aparecer nas especulações políticas, às vezes, as pessoas se sentem ameaçadas e começam a te ver como possível adversário o que atrapalha a instituição. Tenho que pensar na Universidade nesse momento difícil que estamos precisando de muito apoio.
ac24horas – Estamos vivendo um momento delicado na política do país. Com o seu êxito na Reitoria e o reconhecimento da comunidade acadêmica isso não pode te despertar para dar um passo maior na política?
Minoru – Fico muito feliz pela votação que tive entre os estudantes. Eles são muito críticos, principalmente, num momento em que as pessoas querem mudança. A gente sente uma certa descrença nos políticos por tudo que está acontecendo no país. A votação que tive entre eles me orgulha, mas desperta ainda mais a minha responsabilidade. Tenho que fazer uma administração ainda melhor e tem muita coisa ainda para ser feita. O importante é que apesar das dificuldades conseguimos melhorar a Universidade. Agora, nesse contexto de crise econômica teremos que usar mais criatividade, fazer a gestão num momento de tormenta. Eu vejo o meu nome nas redes sociais que o professor Minoru vai ser candidato a isso ou aquilo. Tem um lado bom. Acho que isso está acontecendo porque as pessoas veem um exemplo de gestão que está dando certo. Acho que em todos os níveis estão precisando de bons gestores. Não atribuo isso a mim, mas a minha equipe que está sendo reconhecida. Mas tem um lado negativo que os outros políticos podem começar a me ver como um adversário sem eu ser. Assim podem deixar de alocar um recurso, uma emenda, num momento em que a gente está precisando. Acham que ao colocarem dinheiro na Universidade vão estar potencializando o reitor que poderá ser candidato. Por isso prefiro ficar sem filiação partidária porque os interesses da instituição tem que estar acima dos pessoais.
ac24horas – Quer dizer que nas eleições de 2018 o senhor não pretende ser candidato a nada?
Minoru – A gente nunca pode dizer que dessa água não beberei. Mas a minha posição hoje é não ser candidato. Falo isso até para tranquilizar as pessoas que me veem como possível adversário. O que preciso dos políticos é que apoiem a instituição. Temos aqui gente de todos os partidos, outras sem partidos, pessoas de todas denominações religiosas e aquelas sem religião. A Universidade é plural. A minha cabeça está focada para continuar a administrar a UFAC e peço o apoio de todos partidos.
ac24horas – Como o senhor avalia a situação política atual? Acha que tem uma luz no fim do túnel?
Minoru – Acho que o Brasil terá uma grande oportunidade para mudar. Tem que ser passado a limpo. A corrupção é algo que envergonha o nosso país. Estive recentemente no Japão e via na televisão notícias falando sobre essa corrupção. A gente precisa urgente de uma Reforma Política. Costuma-se dizer que depois da tempestade vem a bonança, mas não sei quanto tempo ainda vai demorar a tempestade. O Brasil é um país que tem possibilidades fantásticas, mas precisa de bons gestores. Nesse modelo se elegem boas pessoas, mas quando chega em Brasília ficam amarrados e têm que usar o Diário Oficial para ficar nomeando para poder passar um projeto porque existem muitos partidos que colocam a sua barraquinha para negociar votos por cargos. Se desagradar meia dúzia de políticos fecham o caminho. É complicado.
ac24horas – Por falar em corrupção reitor, o senhor encontrou indício de corrupção na Universidade quando assumiu o cargo?
Minoru – Não encontrei sinais de ações intencionais. Ser gestor é algo muito complicado com os vários órgãos de controle. Eu não fiz nenhum curso para ser gestor de universidade, mas sempre tive o cuidado de trabalhar dentro da legalidade que não é uma opção, mas um princípio. A gente tem alguns ex-reitores que estão impossibilitados de serem candidatos por problemas. Eu prefiro acreditar que foram problemas que aconteceram por falta de conhecimento e de uma boa assessoria. Não conheço nenhum ex-reitor da UFAC rico.
ac24horas – Professor Minoru como o senhor avalia o fato de toda essa corrupção do país ter vindo à tona justamente durante um governo de esquerda ou progressista, no caso, o PT?
Minoru – Não podemos nos iludir achando que esse processo de corrupção começou agora. Fui uma pessoa que acreditou muito no projeto do PT, quando olhei para a sua história e os seus ideais de justiça social e de fazer um governo que pudesse atender os mais pobres. Votei no Lula (PT) por várias vezes e acredito que ele tenha feito muitas coisas positivas para o Brasil. Mas o seu maior erro foi não ter feito a Reforma Política que era necessária. Acho que a política brasileira precisa renascer das cinzas.
ac24horas – A corrupção sempre existiu realmente no Brasil. Agora, o que me choca é o fato de ter continuado a existir durante um governo de esquerda que vinha com a proposta de mudanças.
Minoru – Para se fazer uma Reforma Política é preciso ter força e apoio popular. O Lula quando deixou o mandato tinha mais de 70% de aprovação. O grande erro foi tentar melhorar a vida das pessoas utilizando os mesmo métodos dos outros governos. Com mais de 30 partidos no Congresso fica difícil governar o país, por mais honesto e bem intencionado que seja o presidente. Aí começam as alianças, a fatiar os ministérios e as nomeações. É um sistema político que aprisiona o governante que tem que se submeter as regras. E o PT teve a oportunidade para mudar isso, porque tinha aprovação popular e base política no Congresso. Se não fizerem a Reforma Política, vamos imaginar quem será o próximo presidente, um Dória (PSDB) ou a Marina (Rede), ou seja lá quem for, com essa quantidade de partidos ficarão refém desses partidinhos de aluguel. Hoje falta no país uma liderança política no Brasil como o Lula foi, mas que hoje está desgastado. Qual a liderança que temos atualmente? Não temos uma pessoa que os trabalhadores e os empresários acreditem, que consiga unir os vários setores da nossa sociedade. Mas precisamos de uma Reforma Política profunda para que o país possa seguir adiante.
ac24horas – O senhor já disse que não será candidato agora. Mas se um dia for, qual o cargo eletivo que o senhor sonharia em ocupar?
Minoru – A gente tem que saber zelar por tudo que é público. Acho que consegui fazer uma marca como gestor e a gente precisa de bons gestores no Brasil. Tenho uma vocação com a educação. Vejo os jovens morrendo nesse processo de criminalidade. Então a educação é fundamental para o país poder se desenvolver. É preciso dar oportunidade para as pessoas fazerem um curso superior para não serem cooptadas por essa criminalidade. Quando olho para o nosso Estado vejo que o principal objetivo de parte de quem estuda na UFAC é ser funcionário público, passar num concurso. Acho que a gente precisa ter outras possibilidades. Santa Catarina há uns 30 anos vivia praticamente de turismo e pesca. Hoje 42% do PIB de lá é ciência, inovação e tecnologia. O Acre atualmente acho que só tem um PIB melhor que o de Roraima. Temos um patrimônio maravilhoso que é a nossa floresta, mas a gente precisa gerar riquezas para a nossa população sem destruí-la. Aí acho que é quando entra a Universidade, ciência, inovação e tecnologia para desenvolver o Estado sem destruir a floresta. Seria algo executivo, mas não penso em ser governador, prefeito, deputado, nesse momento, embora, todos os dias lancem meu nome para algum cargo. E fico feliz com esse reconhecimento. Se meu pai estivesse vivo ficaria muito feliz.
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