A criação do PSD pelo ex-prefeito Gilberto Kassab teria como origem dinheiro da Odebrecht. Até os moralistas do DEM, que denunciavam corrupção no governo Dilma, terão de se explicar sobre o caixa dois em suas campanhas
O escândalo de dinheiro sujo da Odebrecht atinge em cheio dois dos principais partidos conservadores brasileiros: o PSD e o Democratas. A primeira legenda, que saiu da costela do Democratas e é liderada pelo ministro Gilberto Kassab (Comunicações), está manchada pelas suspeitas de ter recebido R$ 17,9 milhões da construtora em 2014, quando o partido precisou se estruturar em todo o país.
Já o Democratas tem alguns de seus principais caciques, incluindo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente da legenda, senador José Agripino Maia (RN) – alguns dos mais radicais entusiastas do impeachment de Dilma, acusada de acobertar a corrupção na Petrobras – são citados nas delações de executivos da Odebrecht, junto com outros seis correligionários, como suspeitos de receber dinheiro de caixa dois.
Em delação que resultou no pedido de abertura de inquérito pelo Supremo Tribunal Federal, o executivo da Odebrecht Benedicto Júnior diz que Kassab pediu recursos não contabilizados para estruturar o PSD para a corrida eleitoral de 2014. Em 2011, o senador Sergio Petecão deixou o PMN para se filiar ao PSD, colocando-se desde então como a principal liderança da legenda no Acre. Sobre Petecão não há denúncias de repasses de caixa dois, até porque o parlamentar foi eleito em 2010 por outra legenda.
O encontro entre Kassab e um executivo da Odebrecht teria ocorrido em 2013. Os pagamentos só viriam a acontecer entre novembro de 2013 e setembro de 2014, sempre em caixa dois, no valor de R$ 17,9 milhões. Segundo Benedicto Júnior, Kassab sabia que o dinheiro era de caixa dois porque aquele era um “valor expressivo”. Em nota oficial, Kassab limitou-se a dizer que “confia na Justiça e que não teve acesso oficialmente às informações”. Segundo o ministro, “é necessário ter cautela com depoimentos de colaboradores, que não são provas”.
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Kassab ainda figura no inquérito 4463 da Lava Jato, que investiga o repasse de R$ 3,4 milhões em caixa dois para a campanha à Prefeitura de São Paulo em 2008, quando o hoje ministro ainda integrava o DEM. Considerado herdeiro da velha Arena, o partido que apoiou a ditadura militar, por sua vez filho direto da conservadora UDN dos anos 50, que virou PDS depois do fim do bipartidarismo no final dos anos 70, pulou do fim do regime militar vestindo o nome de Frente Liberal, depois PFL, e se remoçou já nos anos 2000 como DEM, o partido mais conservador da história republicana também não escapou da Lava Jato.
Pelo menos oito democratas estão entre os suspeitos de levarem dinheiro de caixa dois da Odebrecht. Além do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ) e seu pai, o vereador César Maia (RJ), figuras como Agripino Maia e o filho, o deputado Felipe Maia (RN), além de correligionários como José Carlos Aleluia (BA), Ônyx Lorenzoni (RS) e Rodrigo Garcia (SP) vão ter de se explicar à Justiça. Ainda enfrentarão o constrangimento, nas eleições de 2018, de serem jogados na mesma vala daqueles que sempre criticaram, como o PT, de que também usaram recursos indevidamente nas eleições.
No caso do Agripino Maia, pesa ainda a suspeita de que o senador teria recebido propina da empresa OAS e, em troca, teria ajudado na liberação de recursos de financiamento do BNDES direcionados à construção da Arena das Dunas, em Natal. A OAS venceu a licitação da obra na gestão da governadora Rosalba Ciarlini (DEM). Ele nega que tenha atuado, lembrando que o BNDES estava então sob a gestão do governo de Dilma Rousseff.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso determinou a quebra do sigilo bancário do diretório nacional do Democratas, entre 1º de janeiro de 2012 e 31 de dezembro de 2014, e o dos sigilos telefônicos do presidente da legenda, do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e de Raimundo Maia, primo do senador, pelo mesmo período.
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