O Estado do Acre vem sofrendo com uma onda de violência e o aumento das mortes violentas, notadamente os homicídios. Na região da capital acreana e nas três cidades do seu entorno, a média diária de mortes tem ultrapassado um homicídio por dia. Para fazer uma análise sobre o tema, a equipe do ac24horas procedeu ao acompanhamento das mortes noticiadas nos meios de comunicação locais ao longo do mês de março e, com isso, poder traçar um breve perfil das ocorrências.
A pesquisa mostrou que os mortos são, em sua maioria, homens (95,12%) e jovens, com idade média de 27 anos, com as execuções ocorrendo principalmente em bairros periféricos e em plena rua. Diferentemente de outros tempos, onde as armas brancas e outros meios eram utilizados, as armas de fogo de uso comum foram os instrumentos com o maior número de registros (78,57%). A maior quantidade de registros foi de execuções.
Previsão: 109 homicídios por 100 mil habitantes em 2017
Contudo, verifica-se que as 98 mortes registradas na capital desde o primeiro dia de 2017 mostram um índice de 29 mortes por grupo de 100 mil habitantes somente nos três primeiros meses do ano. Ou seja, neste período já se matou mais em Rio Branco que a média nacional para todo o ano de 2014 (último registro atualizado).
Ocorre que estes foram apenas os três primeiros meses do ano, com uma média superior a uma morte por dia. Caso as ocorrências se mantenham neste mesmo ritmo ao longo de todo o ano, ao final de 2017 a proporção de mortos por grupo de 100 mil pessoas vai estar em 109, praticamente o triplo da registrada no Estado no ano de 2014.
Jovens são a maior parte das vítimas
A pesquisa mostrou que a metade dos mortos tinha idade entre 15 e 30 anos, com 22 ocorrências (54,76%) e idade média de 27 anos. A maior concentração das mortes ocorreu entre a adolescência e pós-adolescência para o grupo com menos de 21 anos, com 13 execuções e praticamente uma em cada três mortes (30,95%).
O segundo grupo com mais registros foi com idades entre 22 e 30 anos, com 10 mortes (uma morte a cada quatro, 23,81%), seguido da faixa etária entre 31 e 40 anos, com sete registros (16,67%).
É preciso destacar ter havido uma morte de uma pessoa com 80 anos de idade, o que altera a média geral de idade. Outro ponto foram as oito ocorrências onde a idade não foi revelada (19,05%), mas este grupo foi excluído do cálculo da média de idade dos falecidos.
Para facilitar o estudo, pois não tem caráter científico, os bairros foram agrupados em regiões próximas. Assim, toda a região do Bairro São Francisco e adjacências foi tratada como Cidade Alta. Da mesma forma, toda a região da Sobral foi identificada como Baixada da Sobral. A medida foi apenas para facilitar a leitura dos dados e não tem correlação com as divisões geográficas da cidade.
O agrupamento dos bairros permitiu identificar que a metade das mortes ocorreram em três regiões: “Cidade Alta” concentrou uma em cada cinco mortes durante o mês de março, com um total de oito registros e 19,05%; “Baixada da Sobral, com praticamente a mesma proporção, com sete ocorrências e 16,67%, seguida da “Cidade do Povo”, com seis ocorrências e 14,29%.
A quarta, quinta e sexta regiões onde mais se registrou homicídios foi no Taquari (cinco, 11,90%) Estação Experimental e Placas estas, cada uma com quatro mortes e 9,52% do total. As demais regiões registraram um homicídio cada e 2,38%.
Outro ponto que chamou a atenção no estudo realizado se deu por conta do local onde ocorreram os homicídios. A metade das ocorrências foram registradas em plena rua, com 21 registros.
Mas a questão da violência é mais cruel quando se verifica ter havido praticamente uma em cada quatro mortes dentro de residências, revelando a falta de proteção dentro do próprio domicílio. Dentro de casa foram registrados 10 homicídios e 23,81%.
As desavenças em bares e similares, bem como em comércios em geral, foram responsáveis por duas mortes e 4,76% do total. Contudo, há que se ressaltar que em 9,52% (quatro ocorrências) não consta o local e em 7,14% (três ocorrências) a vítima foi “encontrada morta”.
Oficialmente a PM foi responsável pela morte de uma pessoa e outra, um presidiário, foi morta dentro do Presídio Francisco de Oliveira Conde pelos colegas de cela.
Arma de fogo, o instrumento mais usado
Se nos anos anteriores, a história mostra serem as armas brancas bastante utilizadas nos homicídios em Rio Branco, o mês de março de 2017 mostrou estarem as armas de fogo de uso comum (pistolas e revólveres) na preferência dos criminosos.
Este tipo de armamento – e de forma isolada – foi responsável por praticamente oito em cada 10 homicídios (78,57%) praticados na região estudada. Mas se for computados todos os casos envolvendo arma de fogo, independentemente do tipo e uso de outros instrumentos, este tipo de artefato foi usado em nove em cada dez mortes.
As armas brancas (facas, facões, punhais) foram utilizadas em apenas 4,76% dos casos, sendo que espancamento, espingarda e meio não identificado tiveram apenas um registro (2,38%).
A metodologia da pesquisa
Para se chegar a estes dados foi preciso tabular as ocorrências fatais e ligadas ao crime, separando por data, nome da vítima, idade, sexo, local do crime (bairro/região), causa e também a circunstância da morte. Os dados foram coletados em diversos meios de comunicação e tabulados em planilha eletrônica. O espaço de tempo avaliado vai do dia primeiro até às 17 horas do dia 31 de março.
Também adotou-se a “Grande Rio Branco”, composta pela capital e as três cidades a ela ligadas: Senador Guiomard, Porto Acre e Bujari, ainda que somente duas mortes tenham sido registradas nestas. Nesta linha, para fins de facilitar a análise, os bairros foram agrupados em regiões que não correspondem às regiões oficiais, mas são de fácil identificação e localização por parte da população.
Para calcular a taxa por 100 mil habitantes dos municípios dividiu-se o número de ocorrências no município/região, durante determinado período (no caso, três meses), pelo número de habitantes do município (Rio Branco). Então, multiplicou-se o resultado por 100.000.
É preciso ressaltar que os dados são passíveis de erro, pois foram baseados em registros oficiosos (imprensa) e não nos registros oficiais/policiais. Da mesma forma, não foram consideradas possíveis mortes posteriores aos eventos (tentativas) e que não tenham sido divulgadas na imprensa.
Silêncio oficial
Um pedido de informações sobre o elevado número de mortes registrados no mês de março foi encaminhado para a Polícia Militar do Estado do Acre (PMAC) e para a Secretaria de Segurança Pública (SESP).
Por meio de seu assessor de comunicação, a PMAC disse ser atribuição da SESP se pronunciar sobre o tema. Por sua vez, a SESP não retornou o pedido de informações. Os pedidos foram encaminhados ainda na quarta-feira (29).
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