Categories: Destaque 6 Notícias

A pedagogia das águas, por Claudemir Mesquita

Por
web

*Claudemir Mesquita


Nossos igarapés de água barrenta e de natureza exuberante, Deus deixou na terra para os anjos viajarem simbolizando a fertilidade e a bem-aventurança da vida. Navegam ameaçados de morte, sem o conforto de um ouvido amado e querido. Ainda jovens e sem as rugas da experiência, jogaram as primeiras águas imaginando navegar na linha que faz fronteira entre os bosques e as cidades, em busca de felicidade. Sonho mais acalentado da natureza.


Foi nesse contexto que eles encontraram os atalhos das dificuldades, e sobre tudo, cruzaram a planície sem o auxílio da fé. Na busca da prosperidade e amor, remaram todos os sonhos para as margens escuras da solidão.


O homem chegou e se apossou de suas margens jurando sobrevivência harmônica e um amor plácido. Ledo engano.
Tiraram-lhes o domínio do tempo e o cheiro da terra. Se sentiram na calha fria, navegando fervendo entre a incompreensão e o arroto do excesso humano. Ainda assim, conservaram o silêncio dos sábios, colocando letras nos sonhos, para não morrerem esquecidos, desprezados, estressados na planície da terra fria de cada pessoa.


Entre os igarapés e os homens, há um mar formado pela incompreensão humana. Pelo descaso, pela ingratidão, e não compete ao destino pelo qual o olhar se lança, mas a todos que compreendem essa interdependência vital.


A água que une a humanidade por um elegante fio umbilical é o princípio de todas as coisas. No entanto, quando sai lá do cantinho da mata para cruzar cidades, submerge em infecções, e vai se alojar no berço da solidão.


Verdadeiramente a água é a única bebida para um homem sábio girar o ciclo da vida. Impiedosamente lhe secamos como uma flor que se arranca do solo. Será que é necessário perguntar até quando os igarapés vão se apoiar na face do poder divino para que seu grito de agonia terminal possa ser ouvido?


Será que é preciso lhe dizer em todas as línguas o que é preciso sentir na palavra água para não se perder nada? Quem sabe, a cachoeira dos nossos olhos possa sensibilizar os homens da selva de cimento armado para preservar nossas águas nascentes, cujo ciclo da vida, faz brotar os homens e as flores.


Me dizia as águas de março. Um igarapé não sofre com um soluço, mas com uma pneumonia. Navegam em prantos, implorando o ombro de um ouvido amado pra lhe escutar. Logo eles que navegam enchendo a alma de bonança para despertar o mais sonolento sentimento humano.


Logo eles que trazem à tona os mais submersos desejos: ver os homens enxergarem os vales ricos em sedimentos andinos, deixados como herança dos nossos ancestrais. Seguramente, eles não merecem se arrastarem no seio da planície de dimensão fluvial.


Desejam mesmo é que a chuva equatorial chegue e deixe o vale em festa cheios de virtudes e fé. Reconheço ser este um amor antigo dedicado a estes amigos que todo dia me veem em suas margens e não me canso de admira-los.


*Claudemir Mesquita é professor e geógrafo especialista em planejamento e uso de bacias hidrográficas, presidente da Associação Amigos do Rio Acre e membro da Academia Acreana de Letras


Share
Por
web

Últimas Notícias

  • Televisão

César Tralli completa 54 anos e ganha festa de aniversário na Globo

O jornalista César Tralli completou 54 anos nesta segunda-feira, 23, e ganhou uma festa de…

24/12/2024
  • Famosos

Viih Tube celebra véspera de Natal com Ravi em casa após internação

Viih Tube começou o dia com muita alegria ao comemorar a primeira manhã de véspera…

24/12/2024
  • Nacional

Governo publica decreto com regras para disciplinar uso da força pelas polícias

O governo federal publicou nesta terça-feira (24) o decreto do Ministério da Justiça e Segurança…

24/12/2024
  • Televisão

Após baixa audiência, Rachel Sheherazade deixa Record no fim do ano, diz jornal

Confirmando boatos, a Record anunciou que Rachel Sheherazade está fora da emissora. A apresentadora já…

24/12/2024
  • Destaque 3

Nível do Rio Acre sobe muito nas cabeceiras e “pancada” de água deve chegar na capital

Vem muita água por aí no Rio Acre na capital acreana. A Defesa Civil de…

24/12/2024
  • Famosos

Após diagnóstico de demência, Bruce Willis aparece em fotos ao lado da família

A esposa de Bruce Willis, de 69 anos, Emma Heming, compartilhou fotos ao lado do…

24/12/2024