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A pedagogia das águas, por Claudemir Mesquita

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*Claudemir Mesquita


Nossos igarapés de água barrenta e de natureza exuberante, Deus deixou na terra para os anjos viajarem simbolizando a fertilidade e a bem-aventurança da vida. Navegam ameaçados de morte, sem o conforto de um ouvido amado e querido. Ainda jovens e sem as rugas da experiência, jogaram as primeiras águas imaginando navegar na linha que faz fronteira entre os bosques e as cidades, em busca de felicidade. Sonho mais acalentado da natureza.


Foi nesse contexto que eles encontraram os atalhos das dificuldades, e sobre tudo, cruzaram a planície sem o auxílio da fé. Na busca da prosperidade e amor, remaram todos os sonhos para as margens escuras da solidão.


O homem chegou e se apossou de suas margens jurando sobrevivência harmônica e um amor plácido. Ledo engano.
Tiraram-lhes o domínio do tempo e o cheiro da terra. Se sentiram na calha fria, navegando fervendo entre a incompreensão e o arroto do excesso humano. Ainda assim, conservaram o silêncio dos sábios, colocando letras nos sonhos, para não morrerem esquecidos, desprezados, estressados na planície da terra fria de cada pessoa.


Entre os igarapés e os homens, há um mar formado pela incompreensão humana. Pelo descaso, pela ingratidão, e não compete ao destino pelo qual o olhar se lança, mas a todos que compreendem essa interdependência vital.


A água que une a humanidade por um elegante fio umbilical é o princípio de todas as coisas. No entanto, quando sai lá do cantinho da mata para cruzar cidades, submerge em infecções, e vai se alojar no berço da solidão.


Verdadeiramente a água é a única bebida para um homem sábio girar o ciclo da vida. Impiedosamente lhe secamos como uma flor que se arranca do solo. Será que é necessário perguntar até quando os igarapés vão se apoiar na face do poder divino para que seu grito de agonia terminal possa ser ouvido?


Será que é preciso lhe dizer em todas as línguas o que é preciso sentir na palavra água para não se perder nada? Quem sabe, a cachoeira dos nossos olhos possa sensibilizar os homens da selva de cimento armado para preservar nossas águas nascentes, cujo ciclo da vida, faz brotar os homens e as flores.


Me dizia as águas de março. Um igarapé não sofre com um soluço, mas com uma pneumonia. Navegam em prantos, implorando o ombro de um ouvido amado pra lhe escutar. Logo eles que navegam enchendo a alma de bonança para despertar o mais sonolento sentimento humano.


Logo eles que trazem à tona os mais submersos desejos: ver os homens enxergarem os vales ricos em sedimentos andinos, deixados como herança dos nossos ancestrais. Seguramente, eles não merecem se arrastarem no seio da planície de dimensão fluvial.


Desejam mesmo é que a chuva equatorial chegue e deixe o vale em festa cheios de virtudes e fé. Reconheço ser este um amor antigo dedicado a estes amigos que todo dia me veem em suas margens e não me canso de admira-los.


*Claudemir Mesquita é professor e geógrafo especialista em planejamento e uso de bacias hidrográficas, presidente da Associação Amigos do Rio Acre e membro da Academia Acreana de Letras


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