A parceria entre o deputado federal Major Rocha (PSDB) e a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado do Acre (Sintesac) já está rendendo frutos. Na manhã desta sexta-feira o deputado e um grupo de diretores do sindicato estiveram em visita a algumas das unidades de saúde do Estado, onde comprovaram uma série de irregularidades.
A visita se deu no Pronto Socorro do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), Hospital Ary Rodrigues em Senador Guiomard e também na sede do Serviço Médico de urgência (Samu).
Com exclusividade, a equipe do ac24horas acompanhou a visita e o resultado será apresentado em uma série de três reportagens, dado a quantidade de problemas identificados.
Por conta do que foi encontrado, o parlamentar e o Sintesac vão unir esforços para ajuizar uma Ação Civil Pública para tentar solucionar os problemas. O deputado disse ainda que, como resultado da visita, vai oficiar imediatamente o Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) para este se manifestar sobre a grave situação.
Para o deputado, a situação já passou dos limites toleráveis pela população e se tornou uma questão intervenção por parte do Fiscal da Lei (MPAC). O ex-presidente do Sintesac, João Batista Ferreira dos Santos, afirmou que o sindicato vai estar atento e cobrando as melhorias das condições de trabalho para os servidores e a melhoria no serviço prestado à comunidade.
Pronto Socorro do Huerb
A situação no Huerb ainda continua sem qualquer solução e os mesmos problemas se repetem. A falta de médicos no setor de triagem faz com que o procedimento tenha de ser feito por enfermeiros, o que resultou recentemente na morte de um paciente com Acidente Vascular Cerebral (AVC) encaminhado para uma das Unidades de Pronto Atendimento da Cidade.
No setor de emergência, os médicos e enfermeiros relataram estar faltando material básico, como cateteres e sondas, além de medicamentos básicos. Neste setor, lotado, não permitiram a entrada da equipe ou fotos.
No setor de cardiologia a situação constatada não foi muito diferente, pois verificou-se estar faltando de remédio para pressão, o que obrigou um dos quatro pacientes internados a comprar o medicamento do próprio bolso.
Rocha criticou as obras de reforma e ampliação do hospital, que já se arrastam desde 2009: “São oito anos e cerca de R$ 30 milhões investidos e o hospital ainda não atende as necessidades da população”.
Hospital de Senador Guiomard sem equipamentos, pessoal e estrutura física precária
A visita realizada na manhã de sexta-feira (3) ao Hospital Ary Rodrigues em Senador Guiomard pelo deputado federal Major Rocha e uma equipe de diretores do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado do Acre (Sintesac) constatou as péssimas condições de trabalho e atendimento no local. Pelo sindicato estavam Francinete Barros, secretária geral do Sintesac, e o ex-presidente do sindicato, João Batista Ferreira dos Santos.
A situação encontrada, com falta de equipamentos sucateados e reagentes químicos mal estocados, problemas de infraestrutura e equipe médica reduzida foram consideradas como extremamente preocupantes.
Além da população da cidade, o hospital atende ainda zona rural e aos municípios de Capixaba e Plácido de Castro, sendo ainda um ponto de apoio para as ambulâncias com pacientes vindos de Xapuri, Epitaciolândia, Brasileia e Assis Brasil.
As visitas as unidades de saúde do Estado são fruto de uma parceria entre o Sintesac e o deputado Rocha para checar a real situação da saúde acreana e orientar as ações futuras. As duas partes estão também buscando fundamentos para o ajuizamento de um Ação Civil Pública (ACP) contra o governo para garantir o direito constitucional à saúde.
“Nós estamos acompanhando de perto para podermos nos interar da situação e vamos tomar as providências cabíveis. Não vamos permitir que nossos servidores sejam expostos, pois sem eles não haverá o atendimento adequado à população”, comentou Rocha.
Falta segurança no local
Logo na entrada, o primeiro problema verificado pelos visitantes foi a falta de segurança. O local é aberto e qualquer pessoa pode entrar sem maiores problemas. O ex-presidente do Sintesac, João Batista Ferreira dos Santos, revelou que há pouco tempo um vigia da unidade de saúde foi assassinado no dentro do hospital.
As enfermeiras, por sua vez, revelaram serem comum as agressões, em sua maioria verbal, o que tem levado algumas a não mais fazerem plantões noturnos. No período da noite é comum a vinda de pessoas suspeitas, os quais fazem ameaças veladas em busca de dinheiro. Além disso, é comum acontecerem furtos, tendo inclusive uma camionete sido roubada no estacionamento.
“Como pode um trabalhador exercer sua função se o princípio básico da segurança em seu local de trabalho não é oferecido? Como vai se sentir uma pessoa debilitada sabendo destes riscos?”, questionou o deputado Rocha, ao mesmo tempo em que pediu uma intervenção imediata do Estado.
Sem reagentes para exames para o laboratório
Outra queixa apresentada pelos servidores foi a falta kits para exame de hormônios em geral, como tireoide e Antígeno Prostático Específico (PSA). Isso tem levado os usuários a se deslocarem para a rede privada de Rio Branco para poderem realizar os exames. Além disso, está também havendo demora no retorno dos exames das grávidas enviados para serem analisados em Rio Branco.
Uma das grandes reclamações foi por falta de material para a identificação de enzimas cardíacas ou marcadores de necrose miocárdica (mostram a morte de células do músculo cardíaco), indispensável para o diagnóstico do infarto do miocárdio. Por conta disso, um paciente pode ser enviado para Rio Branco sem necessidade e outro pode morrer sem o devido atendimento.
Além disso, a informação é de que o material médico hospitalar é o mínimo e muitas vezes é preciso trocar medicamentos com outras unidades para poder atender a demanda. Além disso, o hospital está sem o aparelho para Eletrocardiograma (ECG) há meses, tendo este sido removido para a UPA do 2° Distrito da capital.
Estrutura física condenada e inadequada
Mas o problema da unidade de saúde não se resume a falta de material médico, mas está também na falta de condições físicas do prédio, o qual precisa de reforma ou reconstrução urgente. Os pacientes internados reclamaram de que as goteiras da chuva de quinta-feira (2) mais pareciam uma cachoeira no quarto. O aguaceiro foi tanto a ponto de interditarem uma das camas.
Mas o grave problema verificado foram as rachaduras nas paredes por todo o hospital, principalmente no centro cirúrgico, onde somadas com as infiltrações são um foco para contaminações hospitalares.
Além disso, o hospital como um todo apresenta problemas hidráulicos generalizados, necessitando de dedetização, desratização e o extermínio dos muitos pombos. Na entrada do PS, constatou-se estar o batente da porta de entrada destruída pelos cupins, sendo uma fonte de contaminação. Outro ponto detectado neste local foram as guardas de proteção das macas quebradas, o que pode favorecer a queda de algum paciente.
Documentos mal armazenados e maternidade sem uso
A sala de controle de internações (AIH) está onde deveria existir um hemocentro, mas este nunca funcionou. O AIH é responsável pelos relatórios dos atendimentos para posteriormente o Estado receber os recursos do SUS. No local falta um computador e são muitas as goteiras, provocando a perda de documentos por falta de local adequado para armazenar. Os documentos de internação precisam ser guardados por cinco anos e os de partos por 20 anos.
Outro ponto a chamar a atenção foi que, apesar de ter uma ala construída para ser uma maternidade, esta nunca funcionou e não há obstetra no hospital. Por conta disso, as parturientes são encaminhadas para Rio Branco.
Sobrecarga de trabalho por falta de pessoal
O Hospital Ary Rodrigues tem, normalmente, só um médico de plantão para atender a todos, exceto a visita aos internados pela parte da manhã. Por conta disso, uma médica chegou a realizar 150 atendimentos em um único dia. Os plantonistas ficam encarregados de atenderem a emergência de adultos, infantis e partos/maternidade, bem como os pacientes internados e o ambulatório. Este ainda existe por uma determinação do SUS.
Para os três técnicos em enfermagem fica a responsabilidade de atender o trauma, a emergência e a pediatria. Mas se chegar um acidente com dois ou mais feridos, todos estes serviços param por falta servidores. Esta sobrecarga tem exposto os servidores à diversos problemas de saúde.
Equipamento sucateado
Mas grave situação do hospital de Senador Guiomard e referência para os municípios vizinhos pode ser medida também na falta de equipamentos. Logo no corredor interno verificou-se uma cadeira de rodas quebrada e jogada de lado.
Outro grave problema são os equipamentos de iluminação do campo cirúrgico. Nenhum dos dois funciona a contento, sendo que um está amarrado com pedaço de esparadrapo para a fixação. Por conta disso, aas cirurgias está sendo usado um aparelho de iluminação portátil.
Na cozinha, conjugada com o refeitório, até existe um forno elétrico, mas sempre que este é acionado, a rede de energia não sustenta e algum aparelho é danificado em outro local. O fogão, além de inadequado e não atender a necessidade, deixa as panelas enegrecidas de fuligem.
Mais equipamento sem uso
A máquina de passar roupas está com defeito praticamente desde o dia em que foi entregue. Por conta disso, as roupas de cama não estão sendo passadas. E já são 10 meses desde a detecção do problema.
O autoclave, utilizado para esterilizar as roupas, está quebrado há 20 anos e outra unidade foi instalada, mas mesmo com todas as gambiarras elétricas ainda não funcionou. Por conta disso, o material é desinfetado na Fundhacre.
Um possível crime ambiental ainda foi detectado, pois o material químico utilizado na revelação de radiografias está sendo estocado de forma incorreta na própria sala de revelação e, segundo os servidores, uma grande quantidade do produto está estocada em uma outra sala.
“Deixar o SAMU sem viaturas e servidores sem condições é um crime contra o povo”, diz Major Rocha
Dando prosseguimento ao trabalho de fiscalização das unidades públicas prestadoras de serviço para a saúde do povo, o deputado federal Major Rocha (PSDB) e representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado do Acre (Sintesac) estiveram no fim da manhã de sexta-feira (3) na sede do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU), onde também constataram sérios problemas. O principal foi a falta de viaturas pelo envelhecimento da frota e a falta de condições de trabalho para os servidores.
Para o deputado Rocha, é tudo uma questão de gestão e vontade de resolver os problemas: “Se ao menos soubessem ouvir o servidor, já ajudaria bastante, pois são eles que sabem onde está o problema. Aí caberia ao gestor buscar as soluções”.
Para o ex-presidente do Sintesac, João Batista Ferreira dos Santos, a situação é grave o governo do Estado precisa olhar melhor para as condições de trabalho dos servidores: “Como pode alguém que se alimenta e dorme mal poder atender a contento a população?”
Carros velhos e quebradores
Conforme o revelado pelos servidores do SAMU, no dia da visita somente duas viaturas estavam funcionando, com outras quatro paradas no conserto. Atualmente existe também uma ambulância na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do 2° Distrito e outra na UPA da Sobral.
Segundo as informações prestadas, é uma questão de arrumar e quebrar de novo, pois são veículos muito velhos. A orientação do SAMU é de que cada ambulância deve rodar por apenas três anos, pois depois disso expõe a vida do paciente em caso de pane no veículo. Mas a maioria das viaturas de Rio Branco têm 12 anos. Uma informação não confirmada dá conta das ambulâncias estarem retidas na oficina dado o governo não pagar o serviço há quatro meses.
Outra reclamação dos servidores é de que, no Acre, o SAMU faz todo tipo de atendimento, até dor de barriga. Mas no restante do país é somente para atendimento de emergências. Por conta disso, o ideal seriam cinco viaturas em ação e uma de reserva para o caso de pane, além da unidade de suporte avançado.
Comida ruim, falta de trato e espaço de descanso
Os servidores reclamaram também que as refeições são em pouco quantidade para a quantidade de pessoas, pois a empresa contratada não está trazendo a comida contratada. “Já teve muita gente adoecendo por conta disso. E também cortaram os lanches para nós. Mas nas UPAs tem”, disse um trabalhador.
Houve ainda reclamações sobre o tratamento dá chefia, pois tem faltado com a ética ao destratar publicamente os servidores.
Além disso, como o local serve ainda de ponto de apoio para os motoristas do interior, tem faltado espaço. Ao menos dois colchões estão colocados diretamente no chão por falta de camas. Outro ponto detectado foram os colchões velhos e rasgados.
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