Há um velho consenso segundo o qual os novos gestores públicos precisam ter pelo menos 90 dias de trégua, seja por parte dos eleitores que os guindaram aos cargos, seja por parte da imprensa. É um período destinado ao ajuste de contas, ao reconhecimento dos problemas administrativos e à montagem da equipe de apoio.
Não obstante os quase 60 dias de administração do peemedebista Ilderlei Cordeiro, sente-se no ar de Cruzeiro do Sul a ansiedade na solução dos problemas que cabem ao poder público resolver. O povo tem pressa. E reclama com razão. Os principais desafios hoje são a recuperação da malha viária – o que o prefeito já providenciou nos principais corredores de ônibus –, a iluminação pública e a precariedade nos postos de saúde.
Quanto a esta última questão, a explicação que me foi dada por uma representante da Secretaria de Saúde é que o município já começou a adquirir o equipamento que faltava e os medicamentos destinados à distribuição dos pacientes.
Quem conhece Ilderlei tem dito de suas boas intenções. Algo que não condiz, por exemplo, com a sua tentativa – barrada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) – de emplacar mais de 600 pessoas no quadro provisório da prefeitura. Trata-se de uma contradição com a sua decisão de cortar 25% do próprio salário – medida essa extensiva ao vice-prefeito, secretários e demais comissionados.
Gastos extras com pessoal acarretam, claro, desfalque nas verbas necessárias para dar conta das prioridades administrativas. O mesmo que ocorre no governo de Sebastião Viana (cujo número de comissionados nunca foi divulgado) e na prefeitura da capital, onde o petista Marcus Viana tem o poder de nomear 480 apaniguados.
Só para efeito de comparação: o governo do Reino Unido emprega 300 pessoas. O da Alemanha, 500. São dados do instituto Transparência Brasil, referentes a 2013.
Cabe a pergunta, portanto, sobre o porquê de as prefeituras brasileiras, que alegam falta de recursos – sobretudo neste momento de crise gerada no governo de Dilma Rousseff – utilizarem o pouco que tem para remunerar tantos aliados. Coisa simples de responder, é claro, e bem conhecida dos que se acostumaram a ver batalhões de militantes em ação, em época de campanha eleitoral.
Voltando ao caso de Ilderlei Cordeiro, nota-se que parte de seu secretariado, herdado da administração passada, negligencia atividades importantes. Agem como se não devessem dar satisfação ao povo, que os remunera, e nem ao próprio prefeito, como se este não passasse de um mero subalterno do antecessor.
Do pouco que conheço de Cruzeiro do Sul, nestes meses em que me encarrego de fazer a cobertura dos fatos para o ac24horas, percebo que o novo gestor precisa impor, e com urgência, autoridade sobre o seu staff. Creio que lhe falta, afinal, mostrar a alguns quem é que agora manda na prefeitura.
Caso contrário, por maior que seja a disposição e o empenho de Ilderlei em fazer o melhor pelo município, esses atributos acabarão por esbarrar no desleixo dos que agem como se o prefeito ainda fosse Vagner Sales.
Archibaldo é jornalista e correspondente do ac24horas na cidade de Cruzeiro do Sul