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Falta de infraestrutura afeta moradores do município do Bujari

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ANTIMARY


Mesmo com a crise que assola a economia brasileira e que atinge diretamente as cidades, o município do Bujari recebeu do governo federal este ano, mais de R$ 10 milhões. Somente para o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) foram R$ 2,8 milhões. R$ 3,2 milhões foram do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Os dados estão disponíveis no Portal de Transparência da Controladoria Geral da União. O município dispõe de um orçamento de 27 milhões por ano, uma média de R$ 2,5 milhões por mês.

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Idealizada por índios que se integraram a sociedade ali instalada com a construção da BR 364 trecho Rio Branco/Sena Madureira, a cidade de Bujari está localizada a 23 km a norte-Oeste de Rio Branco. Originado em 1968, o local foi elevado à categoria de Vila em 1986 e se transformou em município na gestão do então governador Edmundo Pinto, em 28 de abril de 1992.


Sete anos após se tornar município do Acre, a comunidade viveu a primeira expectativa de crescimento a partir da condução de uma política pública inovadora pelo governo do Estado, com a implantação da Floresta Estadual do Antimary (FEA) que visava a melhoria das populações rurais e urbanas.


BUJARI


Em 1999, fazendo uso de um financiamento Internacional Tropical Timber Organization (ITTO) cerca de 1,8 milhões de dólares foram investidos na experiência local de manejo florestal madeireiro, o primeiro certificado pela FSC para o manejo de 77 mil hectares, sendo 66 mil destinados ao manejo florestal empresarial e 11 mil para o manejo comunitário. Este último, com foco em ribeirinhos, seringueiros e populações indígenas, a maioria deles, moradores do município do Bujari.


Na prática, nem tudo ocorreu como o planejado. Em outubro de 2011, o projeto modelo ficou conhecido internacionalmente como “golpe verde” através de reportagem especial na Revista Isto É, em referência a empresas carimbadas como ecologicamente corretas que burlaram as leis, passaram a promover a exploração predatória de florestas no Acre e viraram alvo do Ministério Público.


Ainda segundo a ISTOÉ, os madeireiros eram atraídos para o Acre por facilidades e incentivos fiscais. “Os empresários enriqueceram e geraram divisas com suas exportações. Também abastecem as campanhas da nova elite política regional com polpudas verbas”. O caso chegou a ser considerado como “grave” pelo Ministério Público Estadual. Até hoje não se tem conhecimento do desfecho da investigação aberta pela promotora do meio ambiente Mary Cristina do Amaral.


Em nova aposta econômica, governo do Acre investiu em pescado na região

fábrica de embutidos


Em abril de 2012, o governo do Acre voltava a mexer com os sonhos de crescimento do município através da inauguração da indústria de embutidos de peixes do Bujari com capacidade de processar 30 toneladas de peixes por mês. O prefeito era Edvaldo Teles, o Padeiro.


A parceria com os produtores de peixe parecia consolidar o mercado através da Cooperativa de Produtores e Criadores Rurais. O então secretário de Educação, Daniel Zen, (hoje deputado estadual) participou da inauguração da indústria do Bujari e garantiu que sua secretaria compraria parte da produção de peixes embutidos que seria feita na indústria para incrementar a merenda escolar.


O governador do estado, Sebastião Viana, afirmava que o início dos trabalhos na indústria marcava um momento sólido da industrialização do peixe no Acre. Destacou que o governo colocou a piscicultura como grande vetor do desenvolvimento.

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Mais uma vez se viu muita propaganda e poucos resultados. Praticamente três meses após a sua barulhenta inauguração, o investimento teve as portas fechadas e nunca mais abriu. 30 servidores que trabalhavam foram demitidos em massa.


Para o ac24horas, o governo admitiu o fechamento da indústria alegando a necessidade de uma série de adequações, entre elas, no sistema de energia que tinha uma pequena potência para a capacidade do maquinário. Ou seja, um erro no projeto de implantação da fábrica.


Além de graves problemas financeiros, com dívidas trabalhistas, empréstimos em nome de cooperados e problemas de logística, os produtores não receberam cerca de R$ 338 mil pelo pagamento dos produtos entregues em novembro de ano passado para secretarias do estado.


Um documento que a reportagem teve acesso, assinado pelo ex-secretário de Estado da Sedens, Sebastião Lima, aponta, entre a promoção de retomada de crescimento do negócio, apenas o pagamento de contratos atrasados. Três reuniões foram feitas com a cooperativa, mas não existe nenhuma previsão para que a indústria volte a funcionar.


Com o fechamento da única indústria da cidade, os produtores ficaram sem ter para quem vender a produção de pescado. A única alternativa, a Fábrica de Peixes da Amazônia, oferecia a troca de peixes por ração, o que não interessava os produtores e acabou desestimulando a cadeia.


A notícia de fechamento da indústria de embutidos no Bujari, chegou no momento em que o governador do Acre, Sebastião Viana, liderou uma comissão de empresários e secretários de estado, em Israel, com o objetivo de promover a transferência para o Acre de técnicas que fazem daquele país um dos líderes mundiais em produtividade e cultivo em condições extremas.


Sem tecnologia, precária infraestrutura e uma longa ficha de corrupção

Nem desenvolvimento sustentável, muito menos tecnologia. Bujari sofre atualmente com precária infraestrutura rural e urbana, desemprego, violência e falta de perspectivas para a juventude. O último prefeito eleito, Tonheiro Ramos, está afastado do cargo acusado de fraudar licitações e contratar empresas terceirizadas de pessoal administrativo com notas frias e superfaturamento de serviços.


Junto com os prefeitos de Santa Rosa do Purus, Rivelino Mota, e o prefeito de Plácido de Castro, Roney Firmino, Tonheiro é acusado de desviar R$ 2 milhões dos cofres públicos. Ele ficou preso por mais de dois meses na sede da Policia Federal.


Relatório de desmandos –Em dezembro de 2015, os órgãos controladores começaram a expor a longa ficha de desmandos do prefeito Tonheiro Ramos frente ao município. Entre eles, desvio de verba; obras paralisadas; aquisição de gêneros alimentícios, medicamentos acima do preço de mercado e um prejuízo de mais R$ 600 mil foram apontados. O caso chegou ao Ministério Público Federal.


Dinheiro que deveria ir para a merenda escolar foram aplicados de forma criminosa, com a contratação de uma empresa para fornecimento de alimentos com preços acima do praticado no mercado, que totalizou um “sobrepreço” de mais de R$ 159,5 mil. Também foi apontada a ausência de documentos de comprovação de despesas.


Ainda relacionado à verba destinada a Educação, foi identificada a utilização de recursos oriundos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para o pagamento de tarifas bancárias. Além desses, o relatório apontou atuação deficiente e falta de infraestrutura do Conselho de Alimentação Escolar (CAE), inexistência de documentos de distribuição dos alimentos às escolas e ainda uma licitante vencedora sem cadastro na Junta Comercial do ramo alimentício. O total de prejuízos na área de educação ultrapassam os R$ 132,7 mil, diz o relatório.


Na saúde, outra área fundamental da gestão pública, mais exemplos de má gestão. Licitações apontaram sobrepreços de R$ 43 mil na aquisição de medicamentos e compra irregular com recursos do Bloco de Atenção Básica. Outros R$ 67 mil foram pagos por serviços e bens não prestados ao município.


O dinheiro que era para pavimentar ruas com tijolos, proveniente do Ministério da Integração Nacional foi transferido para as contas bancárias da prefeitura. Nem obra e nem a devolução de R$ 400 mil ocorreu.


Ruas e ramais estão em precárias condições de trafegabilidade

ruas centrais do bujari


Quem chega à cidade do Bujari, considerada como um bairro de Rio Branco, se impressiona com as condições de trafegabilidade de suas principais ruas. A rua J. P. Gurgel, principal acesso à zona central do município, tem enormes crateras que dificultam o acesso ao coração comercial da cidade.


“Essa situação é de quatro anos, ninguém nunca tomou nenhuma providência, ela se agrava a cada dia” disse uma comerciante que pediu para não ter seu nome revelado.


O acesso pela rua Geraldo Mesquita também é precário. No inverno rigoroso, segundo moradores da região, carros chegam a atolar tamanho são as crateras. Segundo o vereador mais votado nas últimas eleições, Luciano Queiroz, a população não tem saneamento básico, sofre com falta de limpeza pública e iluminação.


Governo dá com uma mão e retira com a outra – Com 900 km de ramais e três projetos de assentamentos na zona rural a situação não é diferente. O sofrimento com ramais em péssimas condições de trafegabilidade prejudica a produção de milhares de agricultores.


Em junho de 2016, nas vésperas do início da campanha eleitoral, a produção rural familiar recebeu incentivo de R$ 5 milhões para mecanização de 250 hectares e o atendimento de 125 famílias, assinou ainda, bônus de certificação pelo abandono da prática do uso do fogo para cada produtor que recebeu em média R$ 500.


Mas por outro lado, retirou através do Deracre, a cota de óleo diesel para manutenção dos ramais e a única caçamba que ajudava a patrulha mecanizada. O município ficou apenas com uma patrol. A falta de trafegabilidade nos ramais para escoamento da produção é um dos principais gargalos enfrentados pelo atual gestor.


Com recursos próprios, após o afastamento do prefeito Tonheiro Ramos, o prefeito tampão, Adaildo Oliveira, conseguiu recuperar o ramal Espinhara, de 32 km, mas esse é apenas um dos corredores produtivos.


Sem chegar à cidade é o maior desafio para quem planta e depende da produção para sobreviver.


tonheiro bananeiraPrefeito afastado voltou as atividades agrícolas e virou produtor de banana

A reportagem tentou várias vezes falar com o prefeito afastado Tonheiro Ramos. Alguns funcionários da prefeitura e vizinhos, informaram que ele dificilmente vem à cidade, tem se dedicado após sair da prisão, a atividades agrícolas, plantando bananeiras.


“Quando está por aqui joga dominó com amigos, mas evita de falar em gestão pública ou nos processos que responde” acrescentou o vizinho que pediu para não ter o nome revelado.


A casa de Tonheiro, localizada em área nobre da cidade, vive completamente fechada.


Prefeito eleito diz que dificuldades administrativas são monstruosas

O novo prefeito da cidade, Romualdo de Souza, disse ao ac24horas que as dificuldades encontradas durante a complicada transição são enormes, principalmente na área administrativa. Ele acusa o ex-prefeito Tonheiro de perder ações trabalhistas pela ausência de um procurador.


Romualdo confirmou que as máquinas da patrulha mecanizada estão todas quebradas. Para tentar equilibrar as contas públicas, o comunista disse que vai trabalhar com redução de 50% das contratações.


“As dívidas com o Ministério do Trabalho se apresentam como um sério desafio somado a contas de energia, FGTS, INSS, inadimplência e outras situações que vão exigir muito do nosso administrativo”, disse Romualdo.


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