Nada a se comemorar ao final de 2016. Acho que nem os prefeitos eleitos nas urnas têm motivos. Afinal, a maioria vai encontrar as prefeituras “quebradas” e “extorquidas” pelos gestores anteriores. Sem falar que a perspectiva de liberação de recursos do Governo Federal para 2017 não é otimista. Os novos prefeitos, na realidade, terão muitas dificuldades para atender os anseios dos eleitores que os colocaram no “trono”. Esse quadro catastrófico começou a se desenhar com a eleição de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República, em 2014. Ela omitiu a real situação econômica do país. Quando reassumiu o Planalto, em 2015, traiu as premissas dos governos anteriores do PT de não retirar direitos trabalhistas e fomentar o mercado de consumo interno. Dilma foi na contramão e fez um governo desastroso que acabou no seu impeachment em 2016. Realmente não caiu por “pedaladas fiscais”, mas por ter perdido a sua base de parlamentares no Congresso Nacional e por uma política econômica recessiva mais parecida com a dos seus adversários políticos. O impeachment feriu a frágil democracia brasileira. A continuidade da apuração dos escândalos sucessivos perpetrados por políticos de todos os partidos com a farra do dinheiro público balançaram ainda mais as estruturas da Nação. Após o impeachment as instituições democráticas se fragilizaram e assistimos uma “guerra” entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Um desastre como não se via no Brasil há muitas décadas. A política se tornou uma atividade criminalizada. Para a opinião pública os atores desse “circo de horrores” caíram em descrédito. Ser político se tornou “quase” sinônimo de “desonesto”. Abrindo flanco para oportunistas que sonham, quem sabe, com uma ditadura militar, judiciária ou legislativa no país. Tempos de chumbo e de perdas de importantes avanços sociais e democráticos que começaram nos governos de FHC (PSDB), seguiram durante a era Lula (PT), mas estão em vias de se perder com as presidências de Dilma e de Temer (PMDB).
Nuvens negras no Acre
Se os governos de Jorge Viana (PT) e Binho Marques (PT) conseguiram avanços sociais importantes o “descontentamento” parece ser a marca de Tião Viana(PT). Pairam muitas dúvidas sobre os projetos de desenvolvimento “industrial” do Estado. Dinheiro público investido em iniciativa privada ou mista, como é o caso Dom Porquito e da Peixes da Amazônia S/A. Categorias funcionais com problemas de reajustes salariais e condições inadequadas de trabalho na saúde e segurança pública. Nunca se matou tanto no Acre. O pior que a maioria das vítimas são jovens que parecem não ter tido acesso à educação de qualidade que já foi o carro chefe dos governos petistas. O projeto ZPE o vento levou junto com milhões investidos no sonho de tornar o Acre uma zona de exportação. Foram gerados empregos, poucos, e ainda de má qualidade em empresas instaladas com o apoio governamental. A sustentabilidade virou apenas uma palavra de retórica. As madeireiras esfregam as mãos com a perspectiva de explorar a nossa floresta e terem lucro fácil a custa da depredação da natureza. Na prática a sustentabilidade como a filosofia mais adequada para o desenvolvimento de um Estado no coração da Amazônia se tornou um arremedo de práticas para se viabilizar mais empréstimos externos. O Acre continua sem produzir o suficiente e a depender dos recursos federais e empréstimos contraídos no exterior.
Alívio temporário
Vale frisar que neste final do ano o governador Tião Viana ainda conseguiu inaugurar algumas obras importantes. Como o Parque do Remanso, em Cruzeiro do Sul e pavimentações e saneamentos em alguns outros municípios. Mas nada que represente uma reviravolta do quadro “depressivo” que assola o Estado. Faltam empregos para a juventude, a saúde pública com os fantasmas constantes da doenças infectocontagiosas como a malária e a dengue. Se não houverem cuidados urgentes poderemos viver novamente epidemias graves dessas enfermidades tanto no interior quanto na Capital.
A BR virou um ramal
Enquanto se inventa investimentos em indústrias, que parecem não decolar, as condições de infraestrutura do Acre continuam muito ruins. A BR 364 ligando Rio Branco a Cruzeiro do Sul se transformou num ramal lamacento e repleto de crateras nas suas vias. O Governo Federal assumiu há poucos meses a obra. Mas esqueceram dos bilhões jogados fora. Não houve e nem haverá investigações desses recursos públicos empregados numa rodovia que continua a ser um pesadelo e um perigo para os seus usuários. O sonho de integração regional continuou a ser uma quimera de retóricas políticas eleitoreiras.
Questão de lógica
Como se falar em industrialização do Acre com as estradas horríveis? Os problemas de fornecimento de energia elétrica constantes? As passagens aéreas caríssimas? A verdade é que o Acre, num certo aspecto, continua isolado do resto do país. Acho difícil um grupo empresarial serio investir no Estado com as atuais condições de infraestrutura para alavancar os seus negócios.
Megalomania
O atual Governo não cumpriu o dever de casa. Deveria ter se empenhado mais na melhoria da saúde, da educação, da segurança pública. Investir pesado em ações do dia-a-dia que afeta o acreano. Superadas essas etapas de melhoria das condições sociais aí sim teria lógica partir para um projeto de produção com uma infraestrutura adequada. Antes disso é delírio, megalomania e desperdício de recursos públicos.
Nada pessoal
Sinceramente não tenho nada contra o governador Tião Viana que, na minha opinião, foi um excelente senador. Mas acho que errou em pontos cruciais da escolha da sua equipe. Além de ter fomentado um clima de permanente contenda política no Estado com a oposição. Como parlamentar brilhante que foi e tendo ocupado os principais cargos no Senado, presidente e vice, poderia e deveria ter usado mais a diplomacia. Experiência não lhe faltaria para apaziguar ânimos e promover a paz. Teria hoje uma oposição menos raivosa e radical. E, quem sabe, condições de promover, nos últimos dois anos do seu mandato, uma conversão política para amenizar os efeitos da crise econômica e política do país sobre os acreanos.
União, sempre a melhor saída
Acho que está na hora de se parar simplesmente de apontar os problemas que assolam o Acre. No momento, o que está em questão não é o domínio do partido A ou B, da FPA ou da oposição, mas da melhoria da qualidade de vida da população. Em 2018, haverá troca de Governo. As disputas políticas que fiquem para os palanques. O quê me assusta como jornalista e morador há 14 anos no Acre são as atuais condições de vida da população que podem se complicar com o agravamento da crise nacional. Epidemias, violência, desemprego. Tudo isso é muito serio. O caminho é o diálogo. Um pacto político entre todas as correntes para uma reversão dessa caminhada em direção ao caos. Ou vão disputar o quê em 2018? O rescaldo de uma tragédia? Não acredito em salvadores da pátria. As mudanças devem acontecer com o envolvimento de toda a sociedade. E isso só é possível através do diálogo e do exercício mais puro e consciente da democracia.
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