José Marques Carneiro Junior¹
Giselle Mariano Lessa de Assis²
A pecuária de corte é caracterizada pelas fases de cria, recria e engorda, que podem ser exploradas como sistemas de produção isolados ou combinados. A cria, período que compreende da cobertura até a desmama, é considerada a fase mais importante da vida dos bovinos, pois o bezerro precisa alcançar, no intervalo de 7 a 8 meses, de 25% a 50% do peso final de abate. Nessa fase, preconiza-se não só a qualidade dos bezerros, mas também a condição corporal e saúde das vacas, dos touros e das novilhas que irão substituir as vacas de descarte. O objetivo de quem investe na cria de bovinos de corte é obter de cada vaca do rebanho um bezerro pesado e saudável por ano.
Para obtenção de bezerros de qualidade é necessário o investimento em três pilares essenciais: o melhoramento genético, a nutrição e o manejo sanitário do rebanho. A aplicação correta de recomendações previstas pela pesquisa é determinante para o bom desempenho reprodutivo das vacas e desempenho pré-desmama de bezerros. Nesse aspecto, a definição de planos de melhoramento genético com objetivos claros e critérios bem estabelecidos é fundamental para o sucesso da atividade.
Para garantir a rentabilidade do sistema é necessário melhorar índices zootécnicos ligados à reprodução e ao peso dos animais, como idade ao primeiro parto, que está relacionada com a precocidade reprodutiva das fêmeas; intervalos de partos, característica que condiz com o manejo reprodutivo das matrizes, sendo ideal intervalo de 12 meses; peso do bezerro aos 120 dias, critério que está correlacionado com a habilidade materna; e peso à desmama, que tem relação com a habilidade da mãe e o peso de abate do animal.
Basicamente duas ferramentas estão disponíveis para promover o melhoramento genético na pecuária de corte: seleção e cruzamento. Seleção é a escolha dos animais que serão utilizados como parentais da próxima geração, já o cruzamento é o acasalamento entre as diferentes raças. Essas ferramentas não são excludentes e quando o objetivo for a produção de bezerros meios-sangues devem ser utilizadas de forma conjunta.
O melhoramento genético deve ser direcionado de acordo com o sistema de produção desejado e com os índices zootécnicos observados na propriedade. Entretanto, na maioria das vezes esse processo é realizado de forma aleatória, sem a definição precisa de onde se quer chegar e dos meios que serão utilizados para esse fim. O resultado da ausência de planejamento é a falta de constância na melhoria dos animais, fator que pode resultar em ganhos genéticos temporários e, em muitos casos, retrocesso no desempenho dos indivíduos.
Para obter ganhos genéticos duradouros é importante que o produtor rural defina objetivos e critérios de seleção para o seu sistema de produção. O objetivo de seleção pode ser entendido como o resultado desejado para o desempenho dos animais, por exemplo, o aumento do número e do peso de bezerros desmamados, e a sua definição depende basicamente do sistema de produção e da expectativa do mercado em relação ao produto. O desempenho atual, associado a fatores relacionados ao clima, manejo e valor de mercado, indica a ênfase a ser dada a determinado conjunto de características.
O critério de seleção, por sua vez, é definido pelas características-base que devem nortear o processo seletivo e estar alinhadas aos objetivos previamente definidos. Na fase de cria, por exemplo, o peso aos 120 e aos 240 dias, a idade ao primeiro parto e o intervalo de parto são as principais características a serem consideradas como critério de seleção, se o processo tiver como objetivos aumentar o peso dos bezerros desmamados e o número de bezerros produzidos por vaca.
A implantação de estratégias de melhoramento genético na propriedade é uma alternativa para elevar a rentabilidade da atividade pecuária, mas requer um controle zootécnico eficiente. Nesse sentido, o uso de fichas para acompanhamento do desempenho reprodutivo e para controle de peso aos 120 e 240 dias de idade permite melhor conhecimento sobre esses indicadores.
Uma das estratégias de melhoramento genético em sistema de cria é a utilização de índices de seleção de touros que combinem as características definidas como critérios de seleção nas proporções desejadas e/ou necessárias para melhoria da atividade. Recomenda-se a definição de índices baseados nas deficiências observadas nos indicadores zootécnicos da propriedade. A partir desses índices define-se o sêmen de touros testados e aprovados, disponíveis em catálogos específicos, de acordo com o valor das Diferenças Esperadas nas Progênies (DEPs), que representa o valor genético dos touros para cada característica utilizada como critério de seleção.
É importante considerar também que a seleção realizada para uma determinada característica pode afetar outras de acordo com as correlações genéticas existentes. Assim, a seleção direta, aquela realizada para a característica-alvo, pode afetar outra característica, resultando na seleção indireta caso a correlação existente seja favorável. As possibilidades de combinar objetivos e critérios de seleção, pelas formas direta e indireta, são inúmeras em um programa de melhoramento genético em gado de corte na fase de cria. Na seleção de touros em gado nelore são comumente utilizadas as seguintes combinações:
Objetivos de seleção | Critérios de seleção |
Aumentar o peso à desmama | Seleção direta: peso aos 240 dias Seleção indireta: peso aos 120 dias Seleção indireta: peso ao sobreano Seleção indireta: peso ao abate |
Melhorar a fertilidade de vacas | Seleção direta: idade ao primeiro parto Anúncio Seleção direta: intervalo de parto Seleção indireta: circunferência escrotal |
Melhorar a docilidade de vacas | Seleção direta: temperamento do animal |
Reduzir problemas no parto | Seleção direta: facilidade de parto |
¹Pesquisador da Embrapa Acre
Zootecnista, doutor em Genética e Melhoramento
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²Pesquisadora da Embrapa Acre
Zootecnista, doutora em Genética e Melhoramento
[email protected]