Receio que a clássica divisão esquerda x direita não explique mais com suficiente clareza a complexidade atual da luta política, mundo afora. Norberto Bobbio, eminente cientista político italiano, em seu clássico, ” destra x sinistra”, atribui à primeira a primazia da liberdade, enquanto à segunda cabe mais o cultivo da igualdade. O problema, penso eu, é que estes conceitos tendem a embaralhar-se na prática cotidiana, reduzindo a quase nada suas capacidades explicativas da realidade. Por isso, prefiro a eles o conceito de defesa das regras do jogo da democracia, também apontadas por obra bem conhecida do mesmo Bobbio.
O que se observa é que os Estados Nações ao terem Governos de extrema esquerda ou de extrema direita apontam para resultados idênticos e a vítima é sempre a democracia e seus procedimentos. É a constatação objetiva da teoria da ferradura, na qual os extremos sempre se aproximam e tendem a se tocar, a se imbricarem.
A crise financeira mundial da última década e a crise das dívidas soberanas de países da Zona do Euro propiciaram o surgimento de Governos de direita na Europa Oriental e o crescimento de partidos políticos direitistas em quase todos os países da Europa Ocidental. A Rússia, por sua vez, que jamais conheceu a plenitude democrática em sua história, consolidou o autoritarismo do novo Czar, o Putin, de olho no retorno ao passado de potência da ex União Soviética.
Em verdade, a grande exceção relevante de triunfo da direita no mundo foi dada pela América Latina com a recente expansão do bolivarianismo, ideologia eclética, de extrema esquerda, igualmente hostil aos processos democráticos. Organizaram-se, sob o comando do PT, no malsinado Fórum de São Paulo, em que estratégias foram urdidas para açambarcar para a causa ” socialista bolivariana” a maioria dos países latinos, abaixo do Rio Grande.
Tudo parecia caminhar bem, dentro do script, triunfante, até que a brusca redução dos preços das commodities no mercado internacional acabou com os festejos das experiências latino-americanas do ” novo socialismo”. Ondas fortes bateram de lado e levaram a pique as naus capitânias da Argentina, Venezuela e Brasil e deixaram bem avariados os cascos de Bolívia, Equador, Cuba, Nicarágua etc. Neste ambiente, dá-se a surpreendente eleição de Donald Trump, nos EUA, também de olho no passado poderoso e credor da ainda maior potência econômica do planeta.
O futuro Presidente americano é um fator grave de instabilidade nos cenários mundiais, pois às vezes sua retórica é nostálgica dos ” tempos das diligências”, em que seu avô alemão fazia fortuna explorando saloons e prostíbulos salpicados na corrida para o oeste.
As incertezas aumentarão no mundo inteiro, nos próximos anos. Por mais que o futuro presidente dos EUA não atraiçôe seus eleitores implantando políticas de cunho mais liberal, ele não se furtará a promover o nacionalismo numa nação sabidamente cosmopolita. Serão sinais trocados de mensagens cotidianas no mundo que podem promover uma gigantesca instabilidade.
E ainda teve uma ” direita liberal” que vibrou e festejou a vitória de D. Trump, cá pelo Brasil. Afinal de contas, para essa direita, Barack Obama é um rematado e perigoso…comunista! É o retorno geral da complexa realidade atual para a segurança tosca e primitiva do tribalismo do passado.
Os Estados Unidos da América são a mais longeva e contínua democracia conhecida. Seu federalismo real e eficiente, suas instituições construídas gradualmente, em resposta aos desafios, seu Congresso expressivo da soberania popular, seus cidadãos e instituições solidificadas num respeito implacável às leis,sua separação entre os poderes enraizadas nos corações e mentes de seus cidadãos poderão ser testados com o advento de Trump.
Verificaremos se na Meca do Estado Democrático de Direito do planeta teremos um Governo exercitado pelas Leis ou exercitado pela vontade dos Homens, como ensinava Maquiavel. A conferir.
*João Correia é professor Universitário e ex-deputado federal pelo PMDB do Acre
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