As medidas para alterar o funcionamento da indústria de cartão de crédito, anunciadas pelo governo de Michel Temer na semana passada, ainda dependem de negociação com os bancos e empresas das maquininhas para sair do papel.
Isso porque, segundo executivos de bancos ouvidos pela Folha, a redução no prazo de pagamento das compras no cartão para os lojistas teria o potencial de elevar os juros cobrados no rotativo, direção contrária da esperada pelo governo.
Hoje, lojistas levam até 30 dias para receber o pagamento de uma compra feita no cartão de crédito. A equipe econômica de Temer disse esperar reduzir esse período para dois dias, como é em outros países.
Emissores de cartões
reclamam que isso elevaria o custo da operação porque os clientes levam até 40 dias para pagar as compras, sem juros. Por isso, teriam um custo maior com captação de dinheiro para emprestar.“Se for levar a ferro e fogo, aumenta o juro do consumidor. Aumentam os encargos via anuidade”, afirma Boanerges Ramos Freire, sócio da consultoria Boanerges e Cia. e especialista no mercado de cartões.
Nos outros países, o uso do rotativo é maior que no Brasil, e isso ajuda a financiar o pagamento antecipado ao lojista, complementa.
No caso da fintech (empresas de tecnologia financeira) Nubank, a avaliação é que a operação ficaria inviável. Como não tem um banco associado, a emissora de cartões teria um custo ainda maior para captar recursos para realizar os pagamentos antecipados aos lojistas.
Questionada, Cristina Junqueira, vice-presidente do Nubank, não informa quanto mais a fintech precisaria captar, mas afirma que “seria uma mudança significativa nas necessidades de capital”.
Com a polêmica do aumento de custos, são pequenas as chances de o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, apresentar uma solução definitiva para o tema nesta terça (20). Ele concederá entrevista para detalhar medidas que serão adotadas pela autoridade monetária, como a redução do custo do crédito, em linha com o que já foi anunciado.
Nos bancos, pessoas ouvidas pela Folha dizem que deve ser anunciado um compromisso de redução dos juros do rotativo, com taxas que superam os 400% ao ano.
Mas isso não deve ser oficializado com um grande anúncio porque o governo Temer não deseja ser comparado com a gestão da ex-presidente Dilma. Em 2012, a equipe econômica de Dilma usou Banco do Brasil e Caixa para tentar forçar uma queda nos juros para pessoa física.