Em entrevista à Agência PT, o senador Jorge Viana (PT-AC) fala pela primeira
vez como foram as 48 horas em que esteve no centro da crise institucional
“Eu trabalhei para que a crise não viesse para o nosso colo, porque não é responsabilidade nossa, ela deve ficar junto a seus criadores”, analisou o senador Jorge Viana (PT-AC), em uma conversa franca com a Agência PT na qual fez um balanço das últimas 48 horas, período em que quase foi de vice a presidente do Senado, acabou sendo arrastado para o centro do noticiário político nacional e viu seu nome ser fruto de diversas especulações.
Nos parágrafos a seguir, o ex-governador explica como o golpe parlamentar foi o detonador de toda a crise política institucional atual, diz que “jamais faria o mesmo que eles fizeram”, explica como atuou para jogar a crise para longe do PT e, por fim, condena duramente a PEC 55, cuja segunda votação no Senado está marcada para a próxima terça-feira – “ela irá danificar o Brasil de morte”. Leia abaixo os principais trechos:
Nessas 48 horas de crise institucional – onde, por uma decisão do ministro do STF Marco Aurélio, se determinou o afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros – tivemos mais uma consequência da gravíssima crise que o país está vivendo desde o falseado impeachment da presidenta Dilma. Tudo tem origem na intolerância daqueles que perderam a eleição de 2014, que resolveram sabotar o governo da presidenta, forjando um impeachment sem crime de responsabilidade. As consequências vieram fortemente: primeiro veio a crise econômica, que virou recessão, e que agora virou depressão econômica. Os indicadores sociais e econômicos só pioraram no governo Temer. O que eles vendiam de facilidades, do país melhorar imediatamente, está acontecendo exatamente o contrário. E a crise político-institucional ficou explícita. Um parlamento danificou nossa democracia, tirando a presidenta eleita e colocando um presidente sem legitimidade, e a ação do Supremo agravava a situação.
E o que um vice-presidente faria numa situação dessas? O que me ocorreu é de não fazer com eles aquilo que eles fizeram conosco. Não virar uma espécie de Michel Temer, um Waldir Maranhão. O caminho que peguei foi fazer a mediação entre o Congresso e o Supremo. Sempre conversando e dando satisfação para a bancada. O que eu pedia é que não discutíssemos nada de pauta enquanto não tivéssemos uma decisão do pleno do Supremo sobre como ficaria a presidência do Senado.
Meu trabalho foi para evitar que essa crise viesse para o colo do PT, porque não é responsabilidade nossa. Vamos imaginar que ficássemos na mesma situação que tivemos com Dilma e Temer: dois presidentes. Um afastado, e eu, com minoria dos votos, sendo a primeira e a última palavra sobre as pautas-bomba do governo Michel Temer. Pautas que agravam a crise do pais, tiram direitos dos trabalhadores e ameaçam o social. Eu elogio a solução do Supremo porque vejo exclusivamente a parte institucional. Independente de quem esteja no posto, acho que presidência do Senado é prerrogativa do Senado, como a presidência da Câmara é da Câmara.
Não caí na tentação do poder. Eu não fui eleito para ser presidente do Senado, fui eleito pra ser vice. Acho que não deveria fazer com eles o que fizeram com a gente; eu tinha que pensar o país. Meu mandato acaba na semana que vem, com o recesso do Senado.
Na semana que vem o Supremo entra em recesso, o Congresso entra em recesso, e vão ficar os inquilinos do Palácio do Planalto respondendo ao país às cobranças pela pauta que eles trazem, que danifica economia e ameaça os direitos dos trabalhadores.
Tentaram passar a ideia de que eu iria renunciar. Isso poderia ser mais um desejo de alguns membros do PMDBou de outros partidos; nunca discuti ou pensei isso. Também passaram a ideia de que eu poderia agir de um jeito ou de outro com a agenda do Senado. E eu sempre agi com cautela, esperando a manifestação do pleno do Supremo. Ontem ficou muito claro que não tem sentido que um poder interfira na presidência de outro poder. A harmonia entre três poderes é fundamental para que o caos não se estabeleça no Brasil. Quem quebrou a harmonia entre os poderes foi quem deu o golpe parlamentar, tirando a presidente Dilma do poder.
Estou trabalhando com a bancada, temos que evitar que o mal maior aconteça. Temos que evitar que essa pauta passe. Essa pauta, que atende aos clamores do mercado, que é quem dá as cartas hoje, agrava a situação de sofrimento do povo brasileiro e vai danificar o brasil de morte. Vai demorar muitos anos para o país se recuperar dessa crise que estão levando o Brasil a viver. Por muito menos, Fernando Henrique saiu do governo e ficou no ostracismo; não era levado nem ao palanque pelo PSDB.
Por Lino Bocchini, da Agência PT de Notícias
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