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Lula, o santo

O ex-presidente Lula afirma que até o diabo está por trás das investigações que desbarataram a maior roubalheira da história da República do Brasil, levando políticos (entre eles alguns do PT) à cadeia e culminando com o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência.


Na quinta-feira, durante o lançamento da campanha “Um Brasil Justo pra Todos e pra Lula”, em São Paulo, ele afirmou haver um “pacto quase diabólico” entre a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal. O objetivo seria, conforme assegurou, destruir sua reputação e o projeto de país que foi colocado em prática durante seus oito anos de governo.


A começar pelo nome dado à campanha, nota-se que Lula, conforme ele próprio e seus seguidores creem, está acima de todos os demais brasileiros. Senão, bastaria o mote de um país justo para todos. Além disso, situar seus investigadores no campo do demoníaco é colocar-se a si mesmo no terreno da santidade. E quem acompanha a política no Acre sabe que por aqui – desde que o PT chegou ao poder – há uma guerra entre o bem e o mal.


Réu em três processos relacionados a casos de corrupção, Lula resolveu partir para o ataque contra a força-tarefa da Operação Lava Jato. Milhares de panfletos, uma página na internet e perfis nas redes sociais foram criados para divulgar um manifesto em defesa do ex-presidente.


Pessoas renomadas das áreas artística, acadêmica, jurídica, religiosa, política e esportiva assinaram o manifesto em favor de Lula. Assinaram também os que lucraram com os governos do PT e alguns tolos capazes de acreditar em tamanha fantasia.


Na página criada para divulgar a campanha, teve-se o cuidado de se fazer referência apenas aos governos Lula. Os desastrosos anos de Dilma Rousseff não foram lembrados, claro. Como nos clássicos casos de manipulação fotográfica do governo russo, sob a ditadura de Stálin (1923-1953), Dilma aos poucos vai sendo apagada da história do partido.


Mas isso é menos grave do que um político que abraça – ou instiga – uma campanha contra as instituições democráticas.


Assim como Luiz Inácio se acha acima das leis, o presidente do PT, Rui Falcão, descarta a necessidade de o partido pedir desculpas. “Neste momento, o que mais criva o PT são as nossas virtudes. Nossos erros nós saberemos apontá-los, no sentido de correção de rumo mais do que pedido de desculpas”, disse ele em entrevista coletiva nesta sexta-feira.


Não se trata de mera retórica. Nem os petistas acham que nos devem desculpas pela roubalheira na Petrobras e outros setores do governo, como Lula se dá ao desplante de afrontar instituições como o MP, a PF e a Justiça.


Mas se trata, para o bem de todos, da última cartada de quem esteve bem próximo da beatificação. Lula é – para usarmos uma figura de linguagem afeita à sua nova retórica política – um anjo caído; o santo petista que jurava poder fazer o milagre da multiplicação enquanto dividia com os aliados as muitas benesses do poder.


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