Quando puser a boca no mundo, Eduardo Cunha não poupará àqueles que entender que foram traidores.
O agora ex-deputado federal Eduardo Cunha está experimentando, muito amargamente, o que diz a velha máxima: “rei morto, rei posto”. A provar que sim, basta verificarmos como votaram os deputados federais, justamente, na seção que iria definir não apenas o seu presente, assim como, o seu futuro político. Resultado: pelo acachapante placar de 450 votos a favor e minguados 10 votos contrários, Eduardo Cunha teve o seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos. E o mais constrangedor: ele se fazia presente, de corpo e alma, na referida seção.
Como a maioria dos mais de 200 deputados federais que integravam o tal centrão, criado e liderado pelo próprio Eduardo Cunha, votaram maciçamente a favor da cassação do seu mandato, certamente, será contra eles, caso venha fazer uma delação premiada, e tudo leva a crer que sim, que ele irá destilar todo o seu estoque de veneno.
À despeito da sua propalada expertise, Eduardo Cunha errou, e feio, em não ter levado em consideração que na nossa atividade política, o aliado de hoje, não raro, poderá se transformar no inimigo de amanhã. E vice-versa. Ele próprio e o ex-governador Anthony Garotinho retratam esta realidade, até porque, de leais e confidentes amigos, de repente, transformaram-se em viscerais inimigos.
Em tendo chegado à presidência da Câmara dos Deputados, baseado em seu prestígio pessoal, caprichosamente construído, ainda não satisfeito, a seu jeito e modo, Eduardo Cunha tratou de ampliar os seus poderes e o leque de parlamentares da chamada “bancada do Cunha”, a ponto da sua liderança ter sido comparada a do saudoso Ulisses Guimarães, até então, o mais respeitado e prestigiado presidente da nossa Câmara dos deputados, e em todos os tempos. Vale ressaltar que nem o hoje presidente da República, Michel Temer, nas três vezes que veio presidi-la, conseguiu acumular tantos poderes, ou seja, chegou tão longe.
Por estas e outras, engana-se quem pensar que o agora presidiário Eduardo Cunha, e nas condições que lhes estão sendo impostas, resignadamente, se manterá. Não vai. Definitivamente, não vai. Sobretudo, por ainda lhes resta uma única e isolada alternativa a fim de minorar as suas elevadíssimas condenações, e esta atende pelo nome de delação premiada.
Como nos seus bons tempos, todas as grandes negociatas que acontecia no nosso ambiente político ele tina ciência, ninguém melhor que o próprio Eduardo Cunha para historiá-las, não apenas pela sua condição de usufrutuário, mais ainda, porque era ele quem repartia a dinheirama arrecadada. A quem deu, porque deu e quanto deu a cada um dos integrantes do centrão, ou de fora dele, basta ele confessar ou delatar.
Por fim: Eduardo Cunha continua sendo o que sempre foi – um homem bomba -, entretanto, quando vivia em liberdade, muito provavelmente, agia com alguma moderação, mas preso, tudo ficará por conta da sua sofreguidão, que se imagina, tenha ultrapassado todos os limites.
Narciso Mendes de Assis é engenheiro civil, empresário da construção civil de das comunicações e já ocupou mandatos de deputado estadual e federal. Hoje se dedica as suas empresas de comunicação. Atualmente dirige o jornal O Rio Branco, o mais antigo do Acre.