Quem perdeu verdadeiramente as eleições municipais no Brasil inteiro foi a classe política. O grande número de votos brancos e nulos, além das altas taxas de abstenções, mostra que uma grande parcela de brasileiros não acredita mais na política como instrumento de transformação social. Por exemplo, no Rio de Janeiro, os votos brancos, nulos e as abstenções somaram pouco mais de dois milhões, enquanto o vencedor Marcelo Crivela (PRB) teve hum milhão e setecentos mil votos. Uma diferença de 300 mil votos a favor do “desânimo” e da “descrença”. Os cariocas mostraram estar indiferentes a quem vai reger a prefeitura da Cidade Maravilhosa nos próximos quatro anos. Sem falar que o movimento pelo voto nulo teve até campanha nas redes sociais. Se a gente for analisar as outras capitais brasileiras por esse prisma os resultados serão muito parecidos. Ou seja, a maioria dos brasileiros preferiram se abster da responsabilidade de conduzir algum político ao cargo executivo municipal. Nunca se viu uma atividade social tão em baixa junto à população como a política.
Cansaço
Esse grande número de votos brancos, nulos e abstenções é resultado da corrupção. Ninguém acredita mais em “salvadores da pátria”. Para o cidadão simples, todos os políticos são iguais, ou seja, querem mandatos para benefícios pessoais. O que de uma certa maneira não deixa de ser verdade.
Herança deixada pelo PT
Outra questão que ficou clara é que os brasileiros rejeitaram o PT. Só Rio Branco, entre 27 capitais, terá um prefeito petista. Ainda assim Marcus Alexandre (PT) fez uma campanha “negando” todos os ícones tradicionais do petismo. O PT desde a sua fundação sempre representou a possibilidade de um novo paradigma para a política brasileira. Mas os casos recentes de corrupção envolvendo membros do partido gerou essa onda de descrédito que acabou contaminando a política em geral.
Caso contraditório
Andei esses dias por Tarauacá. Conversei com políticos locais e alguns populares. O que aconteceu ali nas eleições é digno de um estudo sociológico. A gestão do prefeito Rodrigo Damasceno (PT), que concorreu à reeleição, foi muito boa. A cidade nunca esteve tão bem cuidada. Isso é notável andando pelas ruas. Mas mesmo assim foi derrotado de maneira acachapante.
Radiografia da derrota
O que pude entender, é que Rodrigo não foi um bom político, apesar de excelente administrador. O que me disseram é que ele deu mais valor a adversários do que aliados. Demitiu em massa funcionários municipais em ano eleitoral. Não manteve diálogo com a população e fez uma campanha por um viés errado. Sem falar no fato de ter se assumido como petista durante a eleição. Mandaram para Tarauacá uma tropa de militantes que não era bem vinda em Rio Branco.
Empurrando bêbado em ladeira
Por outro lado, a eleita Marilete Vitorino (PSD), trabalhou a rejeição popular do seu adversário. Simplesmente incorporou o discurso que estava nas ruas. Pela minha leitura, o que aconteceu em Tarauacá foi quase uma vingança pessoal dos eleitores com Rodrigo Damasceno.
Herança
Ao contrário de outras prefeituras em que os eleitos irão encontrar a “casa bagunçada” a prefeitura de Tarauacá está adimplente. Muitas obras concluídas, milhões em emendas parlamentares. Uma situação favorável à prefeita eleita Marilete deixada pelo atual prefeito.
Mistério
Na sua página pessoal do Facebook, Rodrigo Damasceno, postou que na segunda, dia 31, “assumirá uma postura independente que teria demorado a entender”. Não sei se pensa em deixar o PT. O fato é que se comenta em Tarauacá que a derrota mexeu bastante com o seu emocional.
Pode ser um rumo
A amizade entre Rodrigo e o senador Gladson Cameli (PP) é fato. Os dois sempre mantiveram um bom diálogo e Gladson ajudou bastante a prefeitura de Tarauacá com emendas. Possivelmente o prefeito derrotado possa estar pensando em se unir ao PP.
Por outro lado…
Uma coisa interessante que observei em Tarauacá. Os adversários de Marilete não temem pela sua gestão. Ela, inclusive, tem a simpatia de muitos deles. Mas a maioria se arrepia de medo das “possíveis” ações políticas do vice, Chico Batista (PP).
Será?
Uma fonte de Tarauacá, que participou das articulações da chapa de oposição, me contou que há um acordo pré-eleitoral entre Marilete e Chico Batista. A prefeita eleita renunciaria depois de dois anos para concorrer a uma vaga de deputada estadual, em 2018, deixando Batista na titularidade. Sinceramente não acredito nessa hipótese de Marilete trocar o certo pelo duvidoso.
Demora
Ainda não foi julgada aquela “confusão” da suposta tentativa da compra de um candidato a vereador tucano pelo PMDB de Cruzeiro do Sul. Essa lentidão da Justiça se pronunciar é prejudicial a todos os lados que participaram da eleição. Mas, principalmente, deixa a população cruzeirense sem saber se o voto que depositou na urna valeu ou não.
Caminho errado
Acho precipitado o governador Tião Viana (PT) incentivar seus secretários a serem candidatos a deputado estadual, em 2018. Ele não tem noção do estrago político que causou a si próprio quando apoiou alguns dos seus secretários nas eleições de 2014. Repetir a dose é temerário. Mesmo porque o rastro de mágoas deixado para muito aliados, naquela eleição, ainda não se apagou. Sem falar, que muitos dos atuais parlamentares da base governista na ALEAC, não estão nada satisfeito com essa história. Dois anos antes do período eleitoral alguns desses secretários já estão vendo os atuais deputados como seus adversários. Isso é uma insanidade sem tamanho. O momento político e econômico do Estado requer união e muita atenção para soluções rápidas. Uma disputa política antecipada pode deixar as coisas ainda mais difíceis.
Problema à vista
Cresce entre os atuais deputados estaduais um movimento para que haja emendas impositivas. Os parlamentares querem agradar as suas bases políticas no ano que antecede a disputa à reeleição. Em 2013, já houve uma tentativa que foi barrada por articulações políticas da Casa Rosada. Mas com o desprestígio do Governo do qual alguns deputados da base estão reclamando, o movimento poderá voltar muito forte. Em tempos de “vacas magras” isso poderá ser um grande problema para o atual Governo do PT.