O governador Sebastião Viana nem esperou que esfriasse o cadáver político da companheira Dilma Rousseff para começar a colocar na conta do sucessor, Michel Temer (PMDB), a culpa pelos próprios erros como gestor do Acre. Entre o impeachment que nos livrou da petista, e a declaração dada por Sebastião de que a culpa pelo caos na Segurança Pública acriana é do governo federal, houve um curto intervalo de 48 dias.
Em entrevista coletiva na terça-feira, 18, o governador e demais representantes do Sistema Integrado de Segurança Pública do Estado fizeram contorcionismos retóricos para responsabilizar Temer pelo contingenciamento de recursos destinados à área de segurança.
Desse “congelamento”, argumentou Sebastião, decorreram os fatos que culminaram em tiroteio ontem, 18, às portas da Papudinha, cuja vizinhança é formada, em parte, pelos abastados que vivem na Chácara Ipê – incluindo, claro, o próprio governador petista.
Ocorre que no final de agosto deste ano, o ac24horas revelou, em reportagem exclusiva, que o atual governo havia destinado, no orçamento de 2016, mais de 12 milhões de reais para a Comunicação Oficial, e apenas 7,6 milhões para a Polícia Militar.
Como a mentira, a demagogia tem pernas curtas, portanto não cabe ao governador atribuir a outrem a culpa pela falta de investimentos no setor da Segurança Pública, quando ele próprio insiste em pôr na mídia quase o dobro dos valores gastos com a manutenção e aparelhamento da PM.
Como também os fatos não perdoam as versões delirantes, Sebastião Viana precisou engolir a verdade sobre as facções criminosas cujos tentáculos operam no Acre – bem ao contrário do que havia dito há bem pouco tempo ao negar a existência do crime organizado entre nós.
Da priorização da mídia governamental – que mantém no cabresto curto jornais e emissoras de rádio e TV – em detrimento de necessários investimentos nas forças policiais acrianas, tira-se a lição de que temos um governo que fala demais e age pouco, sobretudo quando o assunto é a segurança do cidadão.
São inúmeras as denúncias segundo as quais as delegacias de polícia deixam de operar por falta de material de expediente, como cédula de identidade e tinta nas impressoras. O mesmo ocorre com a PM, cujos membros são obrigados a vestir coletes balísticos vencidos, atuar com parca munição, poucas viaturas e obrigados a gastar o mínimo de combustível.
Tudo isso, convenhamos, nada tem a ver com Michel Temer. Ainda que dele fosse a responsabilidade pelo descalabro vivido em todos os setores da administração estatal acriana, sua culpa teria de ser minorada pela crise em que nos mergulharam os próprios petistas.
E por falar nisso, podemos desde já intuir que os 545 cargos comissionados que serão extintos do governo de Sebastião Viana não farão a mínima falta na engrenagem administrativa.
Fosse previdente o Sr. Sebastião Viana, teria, ao longo dos anos, economizado os recursos gastos com essa turba de inaproveitáveis para usá-los (os recursos, claro) nesta hora em que estamos com a lama pelo pescoço, graças às trapalhadas da defenestrada companheira Dilma Rousseff.