Foi publicado, na última segunda-feira (10), na Folha de São Paulo, um artigo intitulado “Desvendando Moro”, de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp e membro do conselho editorial do jornal. No texto, o autor afirma que há parcialidade no julgamento de Sergio Moro – o que está mais que comprovado, a essa altura.
Senão, vejamos: Moro ordenou a desnecessária condução coercitiva de um ex-presidente da república, autorizou, ilegalmente, a divulgação de conversas gravadasentre esse mesmo ex-presidente e a então presidente da república; e autorizou, desnecessariamente, a prisão de um ex-ministro (tanto que horas depois revogou a própria decisão), entre outros episódios.
O curioso é que Sergio Moro aplica medidas enérgicas e implacáveis apenas a elementos que têm relações com o Partido dos Trabalhadores.
Nesta quarta-feira (12), foi publicada na Folha uma manifestação de Moro na qual, além de sinalizar que vestiu a carapuça – afinal, acusou o golpe -, ele vai além. Eis o que escreve, a certa altura de sua resposta, o juiz parcialmente implacável: “(…) a publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor, sem qualquer base factual, deveriam ser evitadas (…)”.
Antes que me acusem de ser tendencioso e de estar manipulando as palavras do juiz, reproduzo, na íntegra, o período de onde o trecho acima foi destacado: “Embora críticas a qualquer autoridade pública sejam bem-vindas e ainda que seja importante manter um ambiente pluralista, a publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor, sem qualquer base factual, deveriam ser evitadas, ainda mais por jornais com a tradição e a história da Folha”.
Nota-se que ele até começa bem, mas termina dessa maneira lamentável, afirmando que a publicação de certas opiniões deveriam ser evitadas.
Talvez o juiz Sergio Moro deseje que sejam veiculadas em jornais, sites e revistas apenas opiniões favoráveis a ele e à operação Lava Jato. Talvez o juiz se lamente de que todos temos o direito ao livre pensamento e à liberdade de expressão, muito embora alguns queiram sufocar aquele e insistam em limitar esta.
Além de pregar a censura, em sua resposta, Moro também acusa o autor de artigo de “sugerir atos de violência contra o ora magistrado”. Isso porque, ao fim do texto, o autor deixa um recado – eu chamaria de alerta ou conselho – a Sergio Moro: “Em Roma, Savonarola foi queimado. Cuidado, Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira”.
Talvez fosse desnecessário dizer que essa “fogueira” a que se refere o professor Rogério Cezar é uma metáfora. A interpretação lógica desse trecho, que fica muito clara no texto, é a seguinte: Moro será a estrela da operação Lava Jato até o momento em que uma determinada ala da classe política desejar. Depois disso, poderá ser jogado às feras, ou simplesmente escanteado.
Mas o mais provável é que, daqui a alguns anos, ele ganhe um prêmio por sua participação na demonização do PT, como uma indicação ao Supremo Tribunal Federal. A conferir.