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Em entrevista, Marina Silva diz que “Lava-Jato é a reforma política na prática”

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Marina Silva, 58 anos, volta a girar a metralhadora. Depois de um resultado aquém das expectativas para a Rede no primeiro turno das eleições municipais, a ex-senadora aponta para o governo Temer, o PT, o PSDB e todos aqueles que tentam arrefecer os trabalhos de investigação da corrupção. Numa sequência de frases, a ex-ministra do Meio Ambiente e uma das personalidades brasileiras mais respeitadas no exterior, dispara: “A Lava-Jato está fazendo a reforma política na prática”. Ao mudar de assunto, novo alvo: “Temer é hospedeiro da equipe econômica. O Temer só fez pegar o mesmo ministro da Fazenda de Dilma, caso Lula fosse nomeado chefe da Casa Civil”.


Em entrevista ao Correio, Marina relevou a derrota da Rede, partido criado por ela há pouco mais de um ano, e a saída de intelectuais da legenda logo depois do primeiro turno. “Acho que há desprendimento em quem faz um movimento de saída e coloca por escrito as críticas”, diz ela, para em seguida afirmar que há contradições na carta de despedida. Sobre a saída para a crise, Marina não aponta nenhuma medida. Ao ser questionada mais de uma vez, ela finalmente afirma que as propostas devem ser debatidas pela sociedade, e isso só seria possível com novas eleições. “O melhor caminho para o Brasil seria não ter desistido do processo do TSE.” Para Marina, a política está ficando impotente. “O Brasil é um caso típico. A crise econômica que temos é decorrente de decisões políticas equivocadas.” Em Brasília, ela diz que terá candidato em 2018 — e, na conversa, apontou para o distrital Chico Leite na chapa majoritária. A seguir os principais trechos da entrevista:


Como avalia o desempenho da Rede na eleição municipal? Ficou aquém da expectativa?

É claro que um processo político, um partido político, a gente precisa ter algumas métricas para poder fazer a avaliação. Uma delas é o resultado eleitoral. Quando a gente começou o processo de filiação das pessoas, visando ter candidatura em 2016, havia um prazo de filiação e boa parte das pessoas que gostaria de se filiar à Rede tinha se filiado a outros partidos, porque tinha medo, receio, de que esse registro poderia não sair. Mas sempre nos era perguntado, quando conseguimos viabilizar algumas candidaturas em cerca de 156 municípios, qual era nossa expectativa. E a principal expectativa sempre foi ajudar a melhorar a qualidade da política. E acho que, nesse objetivo, conseguimos dar uma contribuição. Uma grande quantidade de pessoas jovens que estavam saindo pela primeira vez com 20, 30, 40 anos, na política, coisa que, dificilmente, nos partidos tradicionais, teriam chance. Pessoas que, com pouquíssimos recursos, alguns segundos de televisão, nenhuma estrutura, conseguiram sair de traço para 8%, 10%, até quase 11%, como foi o caso da Úrsula, no Pará, concorrendo com estruturas da polarização de altíssimo quilate. Então, nesse sentido, temos uma avaliação positiva. Quando as pessoas fazem, comparativamente, o que foram os resultados eleitorais de 2010-2015, elas têm uma tendência a achar, no meu entendimento erroneamente, de que se faz transferência automática de votos. Eu estou dizendo, desde 2010, que voto a gente não transfere, porque o voto não é de quem o recebe, é de quem o dá. E ,no momento em que ele dá o seu voto, ele já recolhe para si mesmo para dar na próxima eleição a quem ele, democraticamente, entende que deve fazê-lo.


A senhora não conseguiu transferir os votos no Rio?
Eu não trabalho com essa ideia de transferência de votos, é exatamente o que eu acabei de dizer. Isso não é um discurso para esta ocasião, se vocês fizerem uma pesquisa sobre o que eu venho dizendo, desde 2010, é exatamente isso que vocês vão encontrar. Acho que o Molon (Alessandro) cumpriu um papel importante com uma candidatura propositiva, tentando ser afirmativa e, como é dos princípios da Rede, com liberdade para ter sua própria estratégia eleitoral. Mas houve uma candidatura que há 10 anos já existe como partido, que foi ocupando um espaço legítimo, seja por suas qualidades pessoais, seja pela quantidade de pessoas que foi conseguindo agregar ao longo do tempo, desde que o Gabeira também deixou de ser candidato, que conseguiu ir para o 2º turno.
A senhora fala de Freixo?
Exatamente. Eu acho que a gente vai para uma eleição disposto a viver a decisão do eleitor, porque ele é soberano para identificar as alternativas. Acho que o Molon cumpriu um papel. Tivemos, sim, um prejuízo. Tínhamos dois vereadores, não conseguiram se reeleger esses dois vereadores e óbvio que o próprio Rio haverá de fazer essa avaliação. A direção nacional quer participar do processo junto com todos os estados onde nós podemos participar. A mesma coisa em São Paulo, uma série de dificuldades de quem não tinha alianças, de quem não pode participar dos debates, de quem tinha apenas nove segundos de televisão. Isso é um resultado que não é o mais promissor do ponto de vista quantitativo, mas o que a gente faz, qualitativamente, com essa informação que o eleitor nos dá em relação a esse momento? Sem subtrair dessa informação as circunstâncias reais e materiais, nas quais foi feita essa concorrência, porque você não pode tratar os diferentes como iguais.
A senhora vai apoiar alguém no segundo turno? Concorda com a avaliação de que se expôs menos do que as pessoas esperavam?

Nós estamos no segundo turno em Serra (ES) com um candidato da Rede, que é o Audifax, temos o Aliel lá em Ponta Grossa (PR) e, obviamente, que eu ajudarei. Até porque, no caso do Audifax, foi uma situação bem traumática, porque ele teve um grave problema de saúde, ficou em coma uma boa parte da sua campanha e quando, graças a Deus, se recuperou, já era na reta final da campanha e está no segundo turno. Temos também o Clécio em Macapá. Onde nós estamos coligados, obviamente, já estou apoiando da forma que for mais adequada, como é o caso do Lamac, que é vice do Kalil lá em Belo Horizonte. No caso do Rio Grande do Sul, nós estamos também, mas é a forma mais adequada porque em uma estratégia de segundo turno as coisas ficam mais tranquilas, até porque as pessoas têm mais tempo, há um equilíbrio maior. Quanto à exposição, talvez fosse bom verificar, fazer um comparativo, entre as lideranças nacionais do PT, do PSDB, do PMDB, a quantidade de cidades que eles visitaram e a quantidade de cidades que eu visitei só para vocês fazerem uma aferição, porque a exposição não é essa que consegue ser acompanhada pela grande mídia.


 


Teve uma carta de integrantes da Rede se desligando do partido e criticando a campanha…
Acho que há um inegável mérito e um inegável desprendimento em quem faz um movimento de saída do partido e coloca por escrito as suas críticas e, inclusive, apresenta algumas contribuições. Eu discordo de algumas questões, acho que tem algumas ali que são muito importantes para reflexão do nosso processo tão recente de construção. Então, colocar essas contribuições de forma generosa, tentando aperfeiçoar a Rede, é algo que recebemos com gratidão. As coisas que discordamos podem ser aprofundadas também porque eu espero, sinceramente, que, até pela qualidade dessas pessoas, por aquilo que elas representaram até agora dentro da Rede, o Luiz (Eduardo Soares, sociólogo), por exemplo, foi a pessoa que coordenou o programa de governo em 2010, na área de segurança, em 2014 também. E quando a gente coloca por escrito é bom, porque , quando você fala, pode ser revelado em um mero ato falho; quando você escreve, pode ser denunciado pela falha do ato. Quem ler aquele documento verificará que, em um parágrafo, diz que eu seria uma pessoa antidemocrática porque o impeachment foi porque as pessoas se curvaram à minha vontade, como se 60% dos que decidiram isso não tivessem vontade própria. E, em seguida, no parágrafo seguinte diz que eu costumo não ter posição e que isso é um estilo dentro da Rede de não assumir posição. Há uma evidente contradição, não precisa fazer muita análise de discurso para chegar a essa conclusão.
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