RIO — O que há em comum entre os prefeitos de Boa Vista, Salvador, Rio Branco, João Pessoa e Teresina, além de serem candidatos à reeleição em capitais do Norte e Nordeste? Nesta campanha, o grupo suprapartidário tem se mantido, pesquisa após pesquisa, entre os mais bem avaliados pelo eleitor. Seus índices de aprovação variam de 72% a 48%, segundo a última sondagem do Ibope — um feito e tanto na terra arrasada que a política e a economia brasileira atravessam nos dois últimos anos. Se não houver graves acidentes de percurso, para eles a reeleição estará garantida em 2 de outubro.
Como conseguiram isso? Eis a grande questão.
— Não perguntamos o porquê da aprovação, mas é óbvio que, nestas cidades, as pessoas estão vivenciando benefícios concretos — afirma a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, para acrescentar: — Com a exposição da propaganda eleitoral, alguns destes candidatos tiveram resultados ainda melhores.
É o caso do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), hoje expoente maior do Carlismo. No ranking dos mais populares, ele estava em segundo lugar e empatou em primeiro, com Teresa Surita (PMDB), prefeita de Boa Vista — ambos têm 72% de avaliação ótima e boa e apenas 4% de ruim e péssima.
FOCO NO AJUSTE FISCAL
Longe de resolver todos os problemas — mesmo porque são capitais com até 60% de índice de pobreza, fora do chamado Sul Maravilha —, esses gestores adotaram medidas, coincidentes nos cinco municípios, que fizeram a diferença. A primeira delas se chama ajuste fiscal: buscaram aumentar a arrecadação (sem criar novos impostos) e enxugar despesas. Assim, sobrou dinheiro, mesmo em tempos de crise, para investir em demandas sociais, modernizar serviços públicos e, de quebra, embelezar cartões-postais — algo que parece mexer com a autoestima dos moradores.
O segundo fator é conhecer a cidade, graças não só a mandatos anteriores, em muitos casos por forte tradição política, mas por ações cotidianas. Os cinco prefeitos e seus secretários costumam passar mais tempo na rua do que no gabinete. Por fim, apesar de o grupo ser alvo de denúncias, que crescem em período eleitoral, não estar envolvido na Lava-Jato também ajuda a não ser campeão de rejeição.
— A primeira coisa que fiz foi equilibrar as contas. E quase tudo que aplicamos veio de recursos próprios. Dilma segurou meus financiamentos; agora é que vou assinar o primeiro, com a Caixa Econômica Federal, de R$ 408 milhões para um sistema de ônibus BRT — reclama ACM Neto, que teve a ex-presidente e tem o governo estadual petista como opositores.
Primeira no ranking há tempos, Teresa Surita (ex-senhora Romero Jucá, de quem se separou em 2008) caminha a passos largos para o quinto mandato.
— Temos um planejamento muito seguro para não ter atrasos de salários, nem de fornecedores. Continuamos cortando despesa porque a crise está aí — afirma ela, arrematando: — As coisas mudaram: ou você responde as cobranças da população com eficiência, ou está acabado como político.
PRÓXIMOS AOS ELEITORES
O discurso da austeridade também está na boca do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, ex- PT, hoje no PSD, que implantou o sistema de gestão por resultados. Em Teresina, Firmino Filho (PSDB) diz ter realizado bons projetos graças à contenção de gastos. Como precisam arrumar dinheiro sem recorrer ao impopular aumento de impostos, os prefeitos inovam: em Rio Branco, Marcus Alexandre (PT), por exemplo, conseguiu elevar em um terço a arrecadação do IPTU colocando uma van que roda os bairros da capital acriana, que emitia boletos e recebia pagamentos na hora.
Rodar as localidades, aliás, é o que estes prefeitos mais fazem. O petista Alexandre divulgou ter feito 580 visitas no primeiro ano.
— Minha rotina é quatro dias na rua e só um na prefeitura — reforça ACM Neto. — Na campanha, quando peço voto, já fui no lugar 20, 30 vezes antes. Faz toda a diferença.
Teresa diz que não só ela, mas os secretários são reconhecidos:
— No gabinete, a cidade é de papel. Saio com a equipe, fiscalizo a obra, ouço as pessoas e despacho na rua. Trabalho muito por WhatsApp — conta.
A proximidade com os eleitores é destacada por Cartaxo, quatro vezes vereador em João Pessoa. E Firmino Filho resume:
— Cuidar da cidade: esse é o feijão com arroz.
POPULARES TÊM EM COMUM TRADIÇÃO POLÍTICA
Dos cinco candidatos à reeleição para prefeito que lideram o ranking de popularidade do Ibope, quatro são veteranos na política. Se vencerem, Teresa Surita (PMDB) vai para o quinto mandato em Boa Vista; Firmino Filho (PSDB), para o quarto em Teresina; Luciano Cartaxo (PSD), o segundo como prefeito, após quatro legislaturas como vereador em João Pessoa. E Antônio Carlos Magalhães Neto, que disputa o segundo mandato municipal, já foi deputado federal três vezes e é herdeiro de um revigorado Carlismo.
O único mais neófito nas urnas é o prefeito de Rio Branco, o engenheiro paulista Marcus Alexandre (PT), apadrinhado pelos irmãos Jorge e Tião Viana. O cientista político e professor Carlos Melo vê nestes prefeitos e em suas redes de apoio uma característica comum:
— São profissionais que sabem lidar com o sistema como ele é. Políticos experientes, e digo isso sem juízo pejorativo, que mostram conhecer o complicadíssimo esquema da política brasileira.
Melo afirma que todos “implementaram choques de gestão que contornaram os problemas financeiros”, mas não crê que “a habilidade gerencial possa suplantar a habilidade política”:
— Política significa unir, articular, conseguir aprovar o que se quer e barrar o que não se quer. Com quais métodos não sabemos exatamente.
Na lanterna do Ibope, os cinco piores avaliados são os prefeitos de Goiânia, Paulo Garcia (PT), Florianópolis, Cesar Souza Junior (PSD) — que não são candidatos — Aracaju, João Alves Filho (DEM), Porto Velho (PSB), Mauro Nazif, e São Paulo, Fernando Haddad (PT).
O Globo