EXCLUSIVO: Maria Rosilene Soares do Nascimento Souza, madrasta de C. A. O. J. de apenas 17 anos, resolveu quebrar o silêncio e denunciar o que ela afirma ter sido uma ação de policiais civis da Divisão de Investigação Criminal (DIC), em sua residência, na madrugada do dia 05 de setembro, no Beco Morada do Sol, no Jardim Eldorado. Segundo Rosilene, sua casa foi invadida por policiais que usavam touca balaclava. “Eles levaram meu enteado, drogas de seu consumo, uma televisão e R$ 900 em dinheiro”. Procurado pela família, amigos e vizinhos, que fizeram uma varredura nas delegacias de Rio Branco, o menor só foi encontrado horas depois na Estrada do Panorama em frente à sede do Corpo de Bombeiros. O adolescente teve hemorragia interna no intestino provocada por estupro. O adolescente, em gravação feita para o ac24horas disse que foi espancado por policiais. “Um deles tem uma tatuagem no pescoço”, acrescentou. Uma lesão no reto baixo foi provocada, segundo a vítima, por uma barra de ferro.
A suposta violência teria ocorrido dentro da DIC. A reportagem teve acesso ao laudo do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (HUERB), assinado pelo médico cirurgião Rodrigo de Amaral Firmino que confirma trauma abdominal por agressão física. Procurado, o coordenador da Divisão de Investigação Criminal (DIC), delegado Karlesso Nespoli, através da assessoria de imprensa da Policia Civil, se negou a gravar entrevista.
Para entender o caso:
Segundo o que consta nos autos da investigação iniciada pela Promotoria Especializada de Controle Externo da Atividade Policial e Fiscalização de Presídios, na madrugada do dia 5 de setembro, homens pularam o muro da residência de Maria Rosilene, onde ela e o menor C. A. O. J. dormiam. Rosilene contou que ao arrombarem a porta da casa, os supostos policiais, utilizando balaclava (gorro de malha que cobre a cabeça), pediram para ela se deitar ao chão, gritando: “deita filho da puta!”. Assustada, Rosilene que está grávida de três meses, ainda perguntou pelo mandado que permitiria a entrada em sua casa, o que não foi apresentado pelos supostos policiais.
Após uma revista em todos os cômodos, moveis e roupas da casa, seu enteado, o menor de 17 anos foi arrancado da cama onde dormia em um dos quartos para dentro de um carro descaracterizado. “Eles falaram que eram da Policia Civil e que aquilo era um serviço de rotina”,disse Rosilene que foi aconselhada pelos supostos homens encapuzados a ficar em casa na companhia de um outro filho recém-nascido.
A madrasta seguiu relatando que os policiais apreenderam junto com o menor, uma quantidade de drogas, uma televisão de 16” e cerca de R$ 900 em dinheiro. A partir desse momento, avisada, a mãe biológica do menor, Elaene Barbosa de Souza, vizinhos e amigos, começaram a fazer uma varredura em delegacias para onde o adolescente deveria ser levado.
“Eu cheguei na Delegacia do Menor por volta de 1h45 e me disseram que meu filho ainda não tinha sido encaminhado para lá. Uma hora depois, eu voltei até o plantonista, ele passou um rádio, foi ai que informaram que C. A. O. J. estava sendo encaminhado para a Delegacia de Flagrantes”, acrescentou Elaene. Ao chegar na Delegacia de Flagrantes, a mãe foi surpreendida com a informação de que no local não se encontrava nenhum menor preso por policiais civis. “Eu entrei em desespero”, contou a mãe.
Segundo depoimento da família, horas depois, C. A. O. J. conseguiu um telefone e avisou que tinha sido largado na estrada do Panorama, na região do bairro São Francisco. Ele foi resgatado por um advogado que pediu para não ter seu nome identificado e sentindo fortes dores na região do abdomem foi levado para o HUERB.
Karlesso nega que DIC tenha efetuado prisão de menor
Procurado na manhã de ontem (12), através da Assessoria de Imprensa da Policia Civil, o coordenador da Divisão de Investigação Criminal, delegado Karlesso Nespoli, disse desconhecer a prisão de algum menor em operação da Policia Civil na madrugada do dia 5 de setembro. Mesmo tomando conhecimento sobre a gravidade da denúncia feita por familiares de C. A. O. J., o delegado não quis gravar entrevista.
No dia 6 de setembro a Policia Civil deu ampla publicidade em uma operação que ocorreu na região onde o menor vítima estava com sua madrasta, em residências do bairro Chico Mendes e Eldorado, apreendendo segundo o que foi publicado na imprensa, armas, produtos de procedência duvidosa, drogas e ainda um vasto material para embalagem de entorpecentes. E como afirmou Nespoli, ninguém foi preso.
A pista – Ao terem acesso a uma das imagens divulgadas pela imprensa dos objetos apreendidos na operação, a madrasta e a mãe de C. A. O. J. identificaram quatro objetos pessoais que supostamente são do menor. “O cordão de ouro e o de prata com uma estrela de Davi, o boné branco e o relógio que aparecem na imagem, não tenho dúvidas, pertencem ao meu filho”, disse Elaene.
Para os familiares, a imagem dos objetos é uma das provas que C. A. O. J. passou pela DIC, onde ele [o menor] afirma ter sofrido fortes agressões físicas. Uma delas com a utilização de uma barra de ferro que provocou o trauma abdominal pelo empalamento (antigo suplício que consistia em espetar o condenado pelo ânus).
A família de C. A. O. J. já denunciou o caso na promotoria de Especializada de Controle Externo da Atividade Policial e Fiscalização de Presídios e à coordenadoria dos Direitos Humanos. Nesta quarta-feira (14) será recebida pelo juizado da infância e adolescência. Uma queixa crime contra o estado também foi registrada na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) por estupro e lesão corporal dolosa.
“C. A. O. J. é filho de alguém que deve à Justiça e que já se encontra à disposição do estado, nada justifica a agressão feita ao meu filho, nossa família não pode pagar pelos erros dos outros”, desabafou Eleane, se referindo a Cleydvar Alves de Oliveira, pai do menor vítima que cumpre pena no presídio de segurança máxima Antônio Amaro, em Rio Branco.
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O adolescente teve alta no último sábado, dia 10. Ele foi submetido a uma laparotomia exploradora sendo evidenciado lesão em reto baixo e lesão peritoneal em fundo de saco. Segundo laudo de requisição, o menor vai utilizar por período indeterminado uma bolsa de colostomia e voltará para intervenção cirúrgica.
Para o advogado da família, que pediu para não ter seu nome revelado, sendo confirmado os fatos, “o modo operandi se assemelha ao que ficou conhecido no tempo de Hildebrando Pascoal como Guarnição Filé!”, disse o defensor.
Depoimentos de testemunhas que estão prontas para falar em juízo sobre o caso, afirmam que a família do menor já tinha sido avisada sobre uma operação de supostos investigadores da Policia Civil e Militar que “queriam pegar o filho do Cleydvar”. A suspeita foi informada na Corregedoria da Policia Militar do Estado do Acre.
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