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À espera de um milagre

Não há o que chame mais a atenção do eleitor esclarecido do que o paradoxo entre a saúde financeira dos municípios e a quantidade de postulantes ao cargo de prefeito.


No Acre, ao que parece, quanto maior for a indigência dos cofres municipais, mais acirrada será a disputa pelo privilégio de carregar as chaves no bolso.


Ao eleitor cabe, então, a responsabilidade de escolher com cautela o futuro prefeito, visto que por parte da maioria dos candidatos não há senso de responsabilidade e compromisso compatível com os enormes desafios que serão enfrentados nos próximos quatro anos.


O afastamento do peemedebista Everaldo Gomes da prefeitura de Brasiléia, e mais recentemente a prisão do ex-prefeito de Sena Madureira Nilson Areal por peculato, são dois exemplos de como a representatividade política pode ser daninha para a coletividade.


Outros tantos casos se somam a estes para indicar que os municípios padecem não apenas dos males decorrentes da repartição desigual dos tributos, mas também de que o acesso ao poder significa uma garantia ao proveito pessoal.


Nossos representantes carecem da clareza de que, uma vez eleitos, não se tornam proprietários dos bens coletivos, mas servidores daqueles que os alçaram ao cargo máximo da municipalidade.


O próprio prefeito de Rio Branco, Marcus Viana (PT), mostrou outro dia que não se vê impelido a dar satisfação ao eleitor ao dizer que “prefeito não tem patrão”. O recado se destinava aos seus partidários, é certo, mas o endereçamento resvalou na impropriedade.


Prefeitos têm patrões, sim, – e estes são as comunidades que os elegeram para o cargo.


Por isso mesmo as democracias estipulam prazos para os mandatos. É como um contrato de serviço, que uma vez prestado em desacordo com as expectativas do contratante, pode ser rescindido após um único quadriênio.


Se as faltas forem muitas, porém – como no caso da ex-presidente Dilma Rousseff –, haverá outras maneiras de pôr o eleito no olho da rua.


Reeleger nossos representantes políticos infelizmente não tem sido garantia alguma de que eles prestam relevantes serviços à população.


Enquanto aos eleitos falta o que chamamos acima de senso de responsabilidade e compromisso, os eleitores precisam ter a dimensão de sua força coletiva. Saber votar já um começo importante. E conhecer os próprios direitos, um passo ainda maior.


Enquanto esse dia não chegar, haveremos de viver com a sensação de que nossos representantes são as autoridades ungidas por uma força maior – e que por isso mesmo podem nos meter a mão no bolso enquanto rezamos para que um milagre aconteça.


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