17h do dia 16/08 – O assaltante Marcio Pires Teles do Nascimento é morto no bairro da Vila Acre, Segundo Distrito da capital, após fazer família refém durante um assalto. Ao empreender fuga e trocar tiros com a polícia, o jovem assaltante de apenas 18 anos foi morto.
Madrugada de 17/08 – Facções criminosas dão ordens de dentro do presídio Francisco de Oliveira Conde (FOC) para onda de incêndios a órgãos ligados à Segurança Pública em represália ao que o crime organizado chama de “morte do irmão”. Na primeira noite de ataques, nove ocorrências foram registradas somente na capital. Em Senador Guiomard, município localizado 23 km de Rio Branco, cinco ônibus escolares e um caminhão pipa foram alvos do maior ataque da facção. Prejuízo foi mais de R$ 1 milhão.
Noite de 18/08 – Bandidos dão toque de recolher, mesmo com 300 policiais nas ruas, atentados se ampliam para cidades do Juruá. Um ônibus foi incendiado na BR 364. Na capital, quiosque no Parque da Maternidade ficou totalmente destruído pelo fogo. A polícia através de uma força-tarefa iniciou sua reação e prendeu 30 pessoas suspeitas de participar da onda de ataques.
Noite de 19/08 – O remanejamento de alguns presos suspeitos de comandarem ataques de dentro da FOC, provoca rebelião. Mais de 50 presidiários são atendidos às pressas no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco.
As forças militares e a Polícia Judiciária estão preparadas para enfrentar o crime organizado?
Nas quatro noites de ataques em cinco cidades do estado do Acre o crime organizado demonstrou o que o próprio nome sustenta: organização e planejamento, detalhes que muitas vezes faltam ao estado. Contra organizações que se armam, roubam e matam com disciplina profissional e estrutura empresarial, a Associação dos Militares do Acre (AME) denuncia: “para combater organizações que navegam sobre uma lama submersa, os nossos militares precisam de mais estrutura e inteligência”.
Diante dessa estrutura do crime, o Estado precisou agir em diversas frentes, cabendo, segundo a AME, seguir o velho ditado: manda quem pode, obedece quem tem juízo. “Nossos policiais estão nas ruas atuando com coletes vencidos, falta-lhes tudo, até balas” , acrescentou Joelson Dias, presidente da categoria.
Segundo a AME, ida de militares para os Jogos Olímpicos tem jogo de interesses mútuos
Outra revelação feita pela presidência da AME está relacionada a ida dos militares para atuar na Segurança Nacional dos Jogos Olímpicos que terminaram ontem (22). Joelson afirma a existência de interesses tanto de policiais que ganham pouco e viram uma oportunidade de melhorar seus salários, quanto da instituição, que, segundo Dias, vai pegar alguns materiais e trazer para o estado.
“Essa questão estrutural a gente vem alertando há muito tempo”, acrescentou.
Para a AME, a atitude chancelada pelo governador Sebastião Viana de ceder sua tropa para outros estados, reflete a falta de investimentos no setor. “Nossos coletes nesse momento estão vencidos, nossas viaturas a grande parte estão baixadas, nas operações conjuntas para combater a onda de violência, observe que grande parte dos veículos são cedidos por outras secretarias”, alertou Dias.
O efetivo, segundo a AME tem defasagem de 100%, o que leva naturalmente o desgaste físico com a sobrecarga de trabalho e por outro lado, ausência de militares em pontos críticos. Para Dias, a estratégia de fazer mega operação para combater ações do crime organizado após a morte de “um bandido” é louvável, mas está errada.
“Ora o trabalho de investigação seria de fundamental importância para evitar esse tipo de coisa. Por outro lado, a situação não tem que ser trabalhada somente por uma questão de repressão. A Policia Militar e as forças de segurança pública só trabalham pelas falhas de outras instituições como educação, geração de emprego e renda e da própria família”, comentou.
Sindicato de agentes penitenciários não descarta “jogo” do estado para contratações temporárias e interesses políticos
Outra séria crítica contra os operadores de segurança pública do Acre é ter permitido os ataques à população para tentar contratações temporárias ilegais objetivando um curral eleitoral para fortalecer o seu candidato à prefeitura da capital.
“A impressão que tenho é que o Governo do Acre não quer combater efetivamente a criminalidade, não mostra empenho e tão pouco valoriza os operadores de segurança publica acreanos que ganham uma miséria de salários e enfrentam as piores condições de trabalho possíveis. Quem estiver contra a segurança pública estará contra a sociedade!”, assegura Marques.
Ainda de acordo o sindicato, o Acre teve negada recentemente a transferência de 13 presos para penitenciárias federais e uma decisão formulada por um juiz federal de Mossoró, pediu no prazo de 30 dias, provas em relação a necessidade de transferir esses presos. Marques segue dizendo que a segurança pública não fez o dever de casa e prefere colocar a culpa nos presos que tiveram mudança de endereço penal negada.
“Assim o Estado, rapidamente, vai dar uma resposta para a população. Mas uma resposta rápida, que pode ser enganosa, apenas para todo mundo ir para a TV e dizer que o problema foi resolvido”, concluiu o presidente do sindicato.
Segurança parece ter aderido à propaganda enganosa
Segundo a Associação dos Militares do Acre (AME), Armas de Choque Taser compradas pelo governo em 2011, encontram-se paradas na Polícia Militar por falta de carregadores.
Outra tecnologia de ponta adquirida ainda na gestão do ex-governador Binho Marques e que poderia estar nas ruas ajudando no combate à criminalidade em áreas estratégicas como o Canal da Maternidade, o Segway (patinete eletrônico) segundo a AME, sumiram da Caserna.
Na época, foram investidos R$ 200 mil na aquisição de seis equipamentos. “Policiais foram treinados, o governo fez uma grande cerimônia para apresentar os equipamentos, mas na prática, nada saiu do papel e não se sabe onde estão os patinetes”, disse Joelson Dias.
As armas de choque tipo Taser são capazes de mobilizar uma pessoa por cinco segundo, bastante utilizada em operações de abordagens e no combate ao tráfico de drogas. Já as patinetes eletrônicas é um equipamento ideal para patrulhamento em curtas e médias distâncias. Ele é bastante utilizado pela polícia dos EUA e alguns países da Europa. Uma das principais vantagens no uso do Segway é a sua performance ambiental, já que ele utiliza baterias recarregadas com energia elétrica.
O OUTRO LADO:
“Todo mundo quer segurança, mas ninguém quer financiar e ela é responsabilidade de todos” respondeu o comandante da Policia Militar do Acre, Cel. Júlio Cesar, que atendeu a nossa reportagem e analisou o que para ele não é segredo nenhum, mas um problema de Brasil, o fato da segurança viver exclusivamente dependente de repasses, a maioria deles vindo do governo federal.
“Estamos procurando convênios com outros órgãos, buscamos um fundo de segurança pública”, acrescentou.
Com relação a saúde financeira da instituição, Cesar informou que os fornecedores, inclusive de combustível estão todos com as contas pagas em dias, assim como as oficinas de pequenos consertos e o banco de horas dos militares.
“A tropa em geral está satisfeita com o trabalho que estamos realizando” disse.
O coronel não aprofundou respostas com relação a falta de estrutura denunciada pela AME. Ele preferiu dizer que a instituição tem interesses políticos. “A AME pensa em eleger um vereador, tem um deputado federal de oposição, então nunca vai falar bem”, retrucou.
Com relação aos coletes, o comandante reconheceu que “apenas os coletes da capital estão vencidos”, mas garantiu que um estudo técnico de eficiência atestou condições de uso. “Os que apresentam rachaduras falhas o policial está devolvendo e a gente substitui. Estamos trabalhando por uma licitação para que a instituição compre e entregue novos coletes ou por um valor que o policial compre o seu próprio colete”, disse o coronel.
Com relação a armamento, Júlio Cesar afirma que as coisas avançaram. Ele afirma que cada policial tem seu próprio armamento e com munição. O tropa vai receber novos veículos semana que vem e que as ações de combate ao crime organizado foram um sucesso.