O líder do governo petista na Assembleia Legislativa, deputado Daniel Zen, tenta debitar à colega Eliane Sinhasique (PMDB) a ameaça de privatização da Eletrobras-Acre. A empresa é deficitária, e a precariedade dos serviços prestados à população ao longo dos anos foi marcada por apadrinhamentos em cargos-chave da empresa e uma política de desoneração das tarifas que tinha como finalidade garantir a reeleição de Dilma Rousseff. Tão logo reeleita, os reajustes tarifários se seguiram.
Editorial de ontem, 16, do jornal O Estado de São Paulo, revela que o discurso contra a privatização, que agora integra a retórica ardilosa de alguns representantes do Partido dos Trabalhadores, esconde o reverso de iniciativas que oneraram o trabalhador e mostram a incompetência de um grupo que almejou o inchaço do Estado brasileiro para dele se locupletar.
A pregação petista de que a solução dos problemas nacionais passava pelo aumento da interferência do Estado na vida econômica e social do País sempre esteve calcada no fortalecimento e na proliferação de empresas estatais. Senão, vejamos.
Levantamento feito pelo Instituto Teotônio Vilela (ITV) indica, segundo o Estadão, que entre 2003 e 2015, foram criadas 43 empresas estatais. Dessas, 41 continuam ativas.
A conta dessa política custou caro para o brasileiro pagador de impostos, sobretudo por ter contribuído com a crise que a todos nos abala. Segundo o estudo do ITV, o funcionamento das 28 estatais não financeiras criadas pelos petistas nos mandatos de Lula e Dilma gerou um prejuízo acumulado de R$ 7,99 bilhões. Além disso, nesse período, a folha salarial dessas novas empresas consumiu mais de R$ 5,4 bilhões.
Destaque para as duas subsidiárias da Petrobrás, as mais deficitárias entre as novas estatais. “O prejuízo acumulado da Citepe desde sua criação, em 2009, foi de R$ 4,01 bilhões. Em segundo lugar está a Petroquímica Suape, com um saldo negativo de R$ 3 bilhões”, registrou o jornal paulista.
Além de criar 43 empresas estatais em 13 anos, o PT contribuiu para sucatear outras, como os Correios, outrora a empresa de maior credibilidade entre os brasileiros. Traficâncias nos fundo Postalis tiveram impacto direto sobre os serviços prestados pela estatal e os salários dos trabalhadores da ativa e dos aposentados – obrigados agora a cobrir o rombo de R$ 5,6 bilhões deixados por interferência de gestores indicados pelo presidente Lula e pela cúpula do PMDB.
Segundo o Ministério do Planejamento, o governo federal tem hoje, ao todo, 149 estatais.
É do partido de Daniel Zen também a criação da Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S.A. (Etav), cuja finalidade inicial foi supervisionar a execução das obras de infraestrutura e implantação do trem de alta velocidade que ligaria Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. A estatal acabou tendo suas competências ampliadas para abrigar os estudos e pesquisas de planejamento integrado de logística no País (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias), passando a se chamar Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL), que se transformou em mais um símbolo da ineficiência dos companheiros em se imiscuir em atividades que deveriam estar a cargo da iniciativa privada.
Ao contrário de focar suas energias em setores como saúde, educação, saneamento e segurança pública, a dispersão de atividades dos governos petistas gerou muitos cargos, benesses, suspeitas de corrupção e – claro – a presente crise que fez o País despencar da sexta para a nona economia do mundo (revista Exame, março de 2016).
Aumentar o tamanho do Estado foi a prática de um PT sempre ávido por benesses – e certamente a roubalheira da Petrobras explica por que essa gente sempre trabalhou contra as privatizações. Afinal, quanto mais estatais, maiores as oportunidades de traficar com seus recursos e facilidades políticas.
O ajuste das contas públicas depende agora de o governo ainda interino se livrar da massa falida de estatais deixada como herança da Era petista. E é claro que isso vai impactar ainda mais no bolso do cidadão brasileiro.
Inadmissível, portanto, é que se tente responsabilizar Elise Sinhasique pela privatização da Eletrobras-Acre, como isso fosse pura maldade de Michel Temer, e não as medidas amargas que ele tem de usar para curar a doença causada pelo esquerdismo daninho do Partido dos Trabalhadores.
A distorção dos conceitos faz parte do discurso político cafajeste dos que, longe de assumir as suas falhas, costumam atribuí-las aos adversários. Ao contrário de um mea-culpa sobre as lambanças de um governo que quebrou o país e inviabilizou as distribuidoras de energia elétrica em seis estados do norte e nordeste, manda o oportunismo que a conta seja enfiada no bolso de Eliane Sinhasique.
Mas a atitude do líder do governo tem um aspecto – digamos – eloquentemente sincero, ao revelar que o PT, mais do que nunca, teme perder as eleições na capital.
Archibaldo Antunes é jornalista, autor do romance Amazônia dos Brabos e comentarista político na Rádio Boas Novas FM.
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