Entrou pela madrugada a sessão iniciada ontem, nesta terça-feira, 9, e que se destinava a analisar o parecer favorável ao impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. O texto final, que recomendava a cassação, é de autoria do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), e foi aprovado por 59 votos contra 21.
O resultado é implacável até mesmo para os mais otimistas aliados da presidente. Mas a ladainha destes segue a mesma desde o começo do processo na Câmara dos Deputados. Segundo essa lengalenga, Dilma não cometeu crime de responsabilidade – só ousando pedalar em seus passeios matinais – e está sendo vítima de um “golpe”.
Essa versão bizarra sustentou, uma vez mais, que os mantenedores da trama compõem a nata da elite brasileira, contrariada com a política de erradicação da pobreza e com os méritos de um governo encarregado tão-somente de promover a justiça social. Diz ainda que coube aos grandes veículos de comunicação impulsionar a farsa.
Esgotados e repetidos à exaustão os argumentos que tentam justificar a lambança que devolveu à pobreza milhões de brasileiros e rebaixou ao desemprego outros tantos, a cantilena foi caindo no ridículo na medida em que a ela não deram ouvidos os que, no dia a dia, precisam cuidar de suas vidas arruinadas pelo petismo.
Quanto ao aspecto técnico que revestiu o discurso de quem tentou, ao longo dos meses, canonizar Dilma, resta provado que, ao recorrer a manobras orçamentárias para maquiar o rombo fiscal de sua gestão, ela cometeu crime de responsabilidade. Sua excelência incidiu no Inciso VI do Artigo 85 da Constituição, atentando também contra os Artigos 10 e 11 da Lei 1.079. E a pena prevista é a perda do mandato.
Houvesse a economia, claro, permanecido nos trilhos a despeito da barbeiragem da maquinista aloprada, as ações delituosas certamente passariam ao largo do processo que está na iminência de sacar Dilma do poder. Mas ainda assim as pedaladas seriam… pedaladas!
Repisar argumentos gastos pelo uso imoderado e pela flagrante ineficiência diante da indignação popular é malhar em ferro frio. A sessão de ontem foi, portanto, apenas mais um teste à paciência do eleitor que se cansou da verborragia barroca e exige ações que revertam os estragos.
No mais, o desfecho parecia conhecido até pelos que juravam combater até o último cartucho.
Ao se encontrar com Dilma em Brasília, para aonde viajou nessa terça, Lula acabou por admitir que vislumbrava a iminente possibilidade de derrota. Com o objetivo de finalizar uma carta endereçada ao povo brasileiro, cujo conteúdo será revelado tão logo termine o martírio dos companheiros, o texto acenará com a ideia extemporânea de novas eleições presidenciais.
Com os aliados a admitirem que a companheira não conseguirá retornar ao Palácio do Planalto depois de derrotada nesta madrugada de quarta-feira, a intenção possivelmente é fazer que a tragédia vire drama.
Lula, o demiurgo, achou que poderia controlar todos os fatos políticos da vida nacional, por mais adversos que pudessem se afigurar. Ao safar-se do mensalão, cresceu-lhe ainda mais a sensação de que nada o poderia atingir.
Mas com Dilma a caminho da guilhotina, ele sabe, afinal, que serão duas as cabeças a rolar.
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