Reiteradas tentativas do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) de tornar as eleições limpas, equitativas – do ponto de vista da disputa entre os candidatos – e mais próximas da racionalidade – quanto às escolhas conscientes do eleitor – são vistas a cada pleito com certa desconfiança. O problema, porém, não está nessas medidas, que são muitas e mudam ao sabor do vento, mas nos que não se acham no dever de cumpri-las.
A inobservância da necessidade dessa obrigatoriedade pessoal é o que nos faz um retumbante fracasso coletivo. Sem a ciência de que cada um de nós deve se encarregar de cumprir as regras imprescindíveis ao bom convívio social, está formado o caldo cultural em que fervem os desmandos políticos.
Dito isto, é fácil compreender o enorme descompasso na atitude do cidadão que desrespeita regras mínimas no dia a dia, mas recorre ao sempre inflamado discurso contra a corrupção.
Não é raro observar que muitos dos que deploram a voracidade dos políticos por verbas e cargos públicos são os mesmos que não atentam à exigência de dar passagem ao pedestre na faixa ou que ignora o aviso de que determinadas vagas de estacionamento são reservadas a idosos e deficientes físicos.
Na mentalidade tacanha dos que praticam pequenas irregularidades no cotidiano, enquanto condenam o assalto aos cofres públicos, não há relação possível entre, por exemplo, o desrespeito a preceitos simples e o prejuízo que os corruptos causam ao País.
Ledo engano. Enquanto regras mínimas não são observadas por um grande contingente de cidadãos, é inútil desejar que o conjunto dos brasileiros tenha a consciência de que precisamos eleger melhores representantes. A verdade é que muitos de nós somos péssimos legisladores da própria consciência.
Com os candidatos batendo às nossas portas, é o momento de refletirmos sobre o papel dos vereadores e prefeitos.
Uma das medidas a tomar é investigar o currículo dos que nos parecem promissores e confiáveis, ouvir suas propostas com muita atenção e desconfiar das facilidades vendidas por alguns pregoeiros da insensatez.
Mesmo com os municípios em petição de miséria, com o orçamento quase todo devotado a pagar o funcionalismo e uma lista de problemas a enfrentar sem as ferramentas necessárias para isso, já há aqueles que estão prometendo gerar mundos e fundos, como emprego, renda e felicidade para todos.
Promessas irreais e mirabolantes são um ótimo indicativo de que a verdade não faz parte do discurso dos que contam com a ingenuidade alheia para cabalar votos.
E candidato que costuma mentir pra vencer eleição, muito certamente, depois de empossado no cargo, vai dar risada dos que lhe deram crédito às patacoadas.
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