O consumidor brasileiro – incluindo, claro, o acriano – se surpreende a cada vez que vai às compras. Segundo dados do IPAC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação do mês de junho teve alta de 0,35%, com aumento de 4,42% no acumulado de 2016. A boa notícia é que a tendência inflacionária deste ano fique abaixo dos 10,67% registrados em 2015.
Acontece que esses números nem sempre parecem funcionar na prática. Produtos de uso diário do consumidor da classe média tendem a apresentar alta de quase cem por cento entre 2015 e 2016. É o caso do requeijão, que nas prateleiras dos supermercados do Estado exibe aumentos consecutivos e desproporcionais ao que sustentam as pesquisas de preço.
Os produtos da cesta básica também pesam no bolso do acriano das classes C e D. Em tempos de crise, comer bem virou privilégio fora do alcance da maioria.
Para piorar, o último levantamento do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego, revela que o Brasil fechou o primeiro semestre deste ano com a perda de 531,7 mil vagas de trabalho.
No Acre, de acordo com o estudo, em junho deste ano foram criados 191 empregos celetistas, o que representa um crescimento de 0,23% em relação ao estoque de assalariados com carteira assinada do mês anterior. O crescimento do setor da construção civil explica o incremento. Acontece que na chamada “série ajustada”, que incorpora as informações declaradas fora do prazo, no primeiro semestre de 2016 houve um decréscimo de 1.546 postos de trabalho celetistas, ou queda de 1,84% em relação ao período anterior.
Ainda segundo o Caged, nos últimos 12 meses houve diminuição de 2,90% no nível de emprego no Estado, o que significa a evaporação de 2.455 postos de trabalho com carteira assinada.
Portanto, ao contrário do que tentou sustentar o governo de Sebastião Viana no início da crise econômica, o Acre sofre os efeitos das políticas desastrosas da presidente Dilma Rousseff, seja na geração de empregos, seja na diminuição do poder de compra do consumidor.
Corroídos pela inflação, os salários têm sido insuficientes para movimentar a contento o comércio de bens e serviços, que em consequência fecha as portas, pondo nas ruas mais gente que vai amargar a expectativa de uma recolocação no mercado de trabalho ou a espera de uma reação da economia.
Tão dramático quanto ver o país em frangalhos é ter de ouvir da ala esquerdista da política nacional que a culpa pela retração do mercado deva recair sobre a cabeça do presidente interino Michel Temer.
Lula, o salvador, já chegou a afirmar em comício em praça pública que o maior responsável pela crise teria sido o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha – discurso este repetido com a maior sem-cerimônia pelo senador Jorge Viana (PT) em entrevista a uma emissora de TV local.
Acuada pelas denúncias do marqueteiro João Santana, segundo as quais o PT recebeu dinheiro sujo para a campanha presidencial de 2014, Dilma usou a mesma ladainha à qual recorreu Lula quando foi pilhado no mensalão – ou seja, de que nada sabia.
Trata-se de uma desfaçatez que não encontra precedente na história das grandes obscenidades políticas do país.
Enquanto isso, sem poder mais comprar requeijão, a maioria de nós come apenas o pão que o diabo amassou.
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