Os brasileiros assistem incrédulos ao espetáculo de ameaças terroristas e muita paranoia que vem embrulhado no pacote das Olimpíadas. Em um momento de crise econômica e muita decadência moral, o país precisa se debruçar sobre as obrigações de manter a ordem cívica enquanto 10,5 mil atletas de todos os continentes mostrarão o que sabem fazer de melhor.
Longe dos supostos alvos dos terroristas do Estado Islâmico (EI), aos acrianos resta o consolo de que – sem Copa do Mundo ou Olimpíadas no quintal –, podem assistir às 28 modalidades do evento no conforto e na segurança do lar. Mas será que podemos mesmo?
Firmado o compromisso de sediar os XXXI Jogos Olímpicos de Verão, ainda em 2009, o Brasil das bravatas lulistas ainda respirava a prosperidade econômica que nos fez crer que estávamos à altura do desafio. O fraco desempenho nacional nos 100 metros rasos dos preparativos, porém, sucedeu à maratona de reviravoltas políticas que o país vivenciou nos últimos meses.
A Nação chega em frangalhos às portas do evento, com diversos setores da sociedade destinados ao único pódio que nos parece cabível no momento: o da vergonha mundial.
Em meio a um surto de zika vírus – que levou governos a alertarem atletas e turistas sobre a necessidade de se precaverem –, o evento será tisnado ainda pela imagem de uma pátria que permite o assassinato anual de 50 mil pessoas.
Nossa fama de violentos e desordeiros circula pelo mundo em imagens de guerras urbanas que envolvem as polícias e os traficantes, as primeiras cada vez mais em desvantagem devido ao poder de fogo destes últimos.
Resta o conforto de que uma suposta célula terrorista, composta por doze brasileiros simpáticos ao EI, tenha sido desbaratada antes mesmo de conseguir provocar algum dano durante os Jogos.
Entre os dias 5 e 21 de agosto, o país testemunhará que a Cidade Maravilhosa, que só neste ano viu tombar 43 policiais militares, será um dos lugares mais seguros do planeta.
Ampliadas as estatísticas para o resto do país, elas são ainda mais assustadoras: até a primeira metade de julho deste ano, houve registro de 251 policiais baleados, dos quais 61 não resistiram aos ferimentos. Desse total, 238 eram PMs, dez eram policiais civis e três pertenciam aos quadros da Polícia Rodoviária Federal.
Em serviço foram alvejados 151 agentes, 90 que estavam de folga, nove reformados e um recruta.
Nessa modalidade, somos imbatíveis. E espanta que um país que, mesmo aos trancos e barrancos, consegue reprimir candidatos a terroristas não possa conter a onda de violência que não poupa nem mesmo os integrantes das forças policiais.
Prova de que o terrorismo por aqui é bem diferente – e nos alcança todos os dias, sem nenhuma trégua.
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