Marina Silva vem ao Acre. E o que a traz pra estas bandas, na contramão de suas atividades políticas globais, é a pré-candidatura a prefeito da capital de um integrante da Rede Sustentabilidade.
Não há, portanto, surpresa na visita que ela faz às próprias origens. O Acre que deu a Marina Silva o mote de uma carreira bem sucedida na política nacional, só a atrai quando o assunto é a sua a viabilidade pessoal.
Marina deixou de ser acriana quando passou a ser cidadã do mundo. E isso aconteceu quando ela obteve, a partir da defesa do ambientalismo, a oportunidade de se tornar uma celebridade mundial. O Acre ficou pequeno para ela, que agora passa parte do tempo na capital paulista. Até 2014, durante a campanha presidencial, era hóspede de um fazendeiro filiado ao DEM, que é também proprietário de uma rede de distribuição de postos de combustível.
Como informou a Folha de S.Paulo à época, o apartamento fica no 11º andar de um prédio na Vila Nova Conceição, a poucas quadras do parque Ibirapuera. E foi cedido por Carlos Henrique Ribeiro do Valle.
Não há crime algum em residir no imóvel de um fazendeiro, ainda que a proximidade de ambos levante questionamentos sobre o paradoxal caminho trilhado por quem adquiriu reconhecimento nas lutas contra os pecuaristas da região.
Cabe ressaltar que a ex-senadora passou grande parte da vida a defender a Amazônia, e que foi se refugiar, no final das contas, na maior metrópole da América Latina.
Mais drástico que essa mudança de perspectiva da cosmopolita Marina Silva foi o seu desempenho como ministra do Meio Ambiente no governo Lula.
Não consta que ela, como titular de um cargo tão importante, tenha feito aquilo que defendia enquanto opositora dos governos de Flaviano Melo e Orleir Cameli. As teses defendidas por Marina Silva não foram aplicadas na prática cotidiana de suas decisões ministeriais.
Uma vez no Meio Ambiente, Marina Silva esqueceu que havia demandas no seu Estado de origem para as quais sua atuação seria decisiva. Citemos apenas dois exemplos: a recuperação do Igarapé São Francisco e a limpeza, o desassoreamento a recuperação da mata ciliar do rio Acre.
Quanto à sua pregação em prol do desenvolvimento sustentável, que poderia, conforme a lenda, redimir da pobreza toda uma população devotada a viver na floresta, a ex-ministra tratou de colocar a viola no saco do esquecimento e foi cantar em outra freguesia.
Enquanto questões como as apontadas acima não recebiam a atenção de Marina, o Ibama, sob o seu comando, auxiliado por ongs de um xiismo verdejante, passou a notificar pequenos agricultores com uma fúria demoníaca.
Tanto que a acriana acabou demonizada por aqueles que antes viam nela uma defensora de seu modo de vida, uma vez que das mesmas dificuldades havia provado até o dia em que deixou o Seringal Bagaço para viver na zona urbana de Rio Branco. E desde então lá se foram mais de quatro décadas de história.
Marina está de volta às origens. Mas ficará pouco. Seu destino é maior que o Acre, cujo povo, sempre muito generoso, lhe deu as asas com as quais ela alçou voo pra bem longe daqui.