Passando por Brasília conversei com o senador Jorge Viana (PT) vice presidente da Casa, no seu Gabinete. Nesse bate-papo tratamos de algumas questões que envolvem a disputa da prefeitura de Rio Branco, o momento político turbulento que o Brasil atravessa e o futuro do PT. Acompanhe a entrevista.
ac24horas – Senador por que o PT da Capital optou por uma vice, Socorro Nery (PSB) que tem origem em partidos como o PMDB e o PSDB? Isso não seria contraditório no momento que seu partido acabou de viver o trauma de perder o poder na presidência da República justamente para um aliado de direita?
Jorge Viana – Nós estamos vivendo o momento de maior turbulência política da história recente do Brasil. Já tivemos crises terríveis na nossa história no Governo do João Goulart que culminou no Golpe Militar de 64, a crise de 1945, a morte de Getúlio Vargas, em 1950. Mas atualmente nós temos uma grande divisão do país com ódio e intolerância que representam um teste para a nossa democracia. Nós temos que ter serenidade nesse momento. Outro dia dei uma entrevista para o jornalista Roberto d’Ávila e disse que o momento não é para pegar em armas, mesmo que sejam verbais, mas de pensar o país. A nossa democracia está sendo construída e fazer uma campanha eleitoral nessa hora é um desafio muito grande que precisa da compreensão de todos. O nosso governador Tião Viana (PT) foi muito ajudado pelo prefeito da Capital, Marcus Alexandre (PT) e agora vai poder ajuda-lo na sua tentativa de reeleição. O Marcus tem sido muito aberto às alianças e o propósito da escolha da Socorro Nery (PSB) de vice, apensar das críticas, é no propósito de dar amplitude na política que a FPA quer implementar. Ela é uma técnica muito competente e experiente na gestão e acho que isso tem que ser visto com naturalidade. Especialmente porque nós do PT estamos sendo submetidos a uma provação. Botaram a culpa toda no PT de tudo de ruim que está acontecendo no Brasil. Mas se esqueceram de tudo de bom que os governos do Lula (PT) fizeram pelo Acre, pelo o Brasil, pelo mais pobres e também pelos mais ricos. Nunca o Brasil viveu um tempo de tanta prosperidade econômica como nos governos do PT. Mas veio a corrupção na política e o PT, por ser governo, está pagando a conta mais cara. Mas veja o que está acontecendo com o PMDB. Descobriram que eles controlavam os governos do PSDB e o do PT e, agora, resolveram eles mesmos serem o Governo. Eu custo a crer que botar o PMDB com mais 20 partidos para governar o país possa ser a solução para a nossa crise. A Lava Jato tem que ser respeitada e apoiada por todos. Mas é preciso ficar vigilante para não ter abuso de autoridade. A Lava Jato está fazendo a Reforma Política que os políticos não tiveram a coragem de fazer. Só que a Lava Jato e a Justiça não têm os instrumentos para fazer essa Reforma. É preciso desmontar essa estrutura política corcomida e velha que este em todos os estados. Não sobra nenhum partido que tenha ficado sem ser respingado. A responsabilidade tem que ser retomada pelo Parlamento. Temos que fazer o reencontro do país com as urnas para fortalecer a soberania do voto e ao mesmo tempo temos que trazer esperança à população que essa crise vai passar.
ac24horas – O senhor acha que existe possibilidade de haver uma reversão na votação do Senado, em agosto, que possa trazer de volta a presidente Dilma (PT) com a tese de uma nova eleição?
Jorge Viana – Tudo é possível porque a lei do impeachment é muito ruim e ultrapassada, criado em 1950. Ela faz o Brasil ficar com dois presidentes, um que veio das urnas e fica afastado e outro que veio do plenário do Senado com maioria simples e assume com amplos poderes, no caso, o presidente Michel Temer (PMDB), e o pior são as consequências. A opção pelo impeachment foi muito ruim porque mostrou intolerância dos que perderam a eleição, em 2014, mas explicitou os erros que do nosso governo do PT cometeu que não conseguiu se viabilizar, apesar de ter ganhado a eleição. Mas essa situação criou um desafio para a democracia. Não acredito que o presidente Temer, e não estou fazendo nenhum juízo dele, sem a legitimidade das urnas consiga adotar as medidas duras que o Brasil precisa. O ideal é a volta da presidente Dilma, mas nesse caso ela também não tem condições de concluir o seu mandato com o prazo que lhe foi dado. A presidente Dilma teria que voltar já organizando a sua saída, ou seja, tentando, se for o desejo da sociedade, se submeter as urnas e organizar a Reforma Política e uma nova eleição presidencial. Agora, se esse desejo vier das ruas tanto ela quanto o Temer terão se subordinar às novas eleições e o Congresso fazer as mudanças na Constituição que seriam necessárias. Nesse momento o ideal era fazer um plebiscito no dia da eleição municipal para perguntar à população se quer novas eleições e uma Constituinte exclusiva para a Reforma Política. Quem for eleito para a constituinte não poderá se candidatar durante alguns anos. Assim teríamos dois caminhos que poderiam pacificar o país e as ruas. Agora, teria que mudar a Constituição, que só pode acontecer com um plebiscito. Isso é o meu sonho, mas tenho consciência que na realidade é muito difícil de acontecer. Mas veja que por seis ou sete votos a mais que nós tivemos pode sair o Temer e voltar a Dilma, mas nesse momento o país está muito dividido e a situação poderá se agravar. O governo do Temer não tem base social e o nosso tinha, mas sem base política. O Eduardo Cunha (PMDB) que está na linha de frente da Lava Jato, aqui em Brasília, se acredita que se for condenado com a mulher e a filha, em uma semana poderá derrubar o Temer. E o Brasil vai aguentar tirar um governo e depois tirar o outro? Como é que nós vamos seguir em frente assim?
ac24horas – Qual na sua opinião será o futuro do PT com todo esse desgaste provocado nos últimos anos?
Jorge Viana – Essa pergunta tem que ser ampliada. Deveria ser qual o futuro dos partidos que nós temos no Brasil? Todos estão em xeque. Houve irregularidades generalizadas nos financiamento dos partidos. Veja o presidente do DEM que está no centro da Lava Jato, o senador Aécio Neves (PSDB) , presidente do PSDB também está, o presidente nacional do PMDB, Romero Jucá (PMDB) teve que sair do ministério por conta dos processos. O PP é o partido que tem mais parlamentares dentro da Lava Jato, incluindo o seu presidente, assim não sobra ninguém. Hoje na nossa política nenhum partido pode apontar o dedo para o outro. É hora da gente entender que o nosso modelo político acabou-se. O PT tem uma história linda, um legado de realizações, mas também ficou muito parecido com os outros partidos para conseguir sobreviver politicamente através dos financiamentos das suas campanhas eleitorais. Cometeu pecados capitais e nós temos que assumir isso. A Lava Jato fará a Reforma Política punindo os partidos que usaram recursos ilegais. O PSDB ou qualquer outro P que você queira terá que encontrar um novo caminho. Eu acho que será preciso se instaurar uma Constituinte exclusiva à Reforma Política. O atual arranjo partidário terá que ser totalmente mudado no Brasil. Não cabem mais 34 partidos e outros 25 vindo. É impossível governar seja um estado ou o governo federal. O Brasil precisa apenas de cinco ou seis partidos como era antigamente. Atualmente o partido que governa tem que financiar os outros e essa formula faliu. Os candidatos a vereadores e prefeitos, desta campanha municipal, que falam comigo, tenho alertado que não pode ter dinheiro de pessoa jurídica (empresas) só de pessoas físicas. E acho que não caiu a ficha para muita gente. Quando se colocar um santinho na rua alguém vai perguntar quem pagou esse santinho pra você?
Vai ter muita denúncia e muita cassação. Vários vão ganhar e não vão assumir porque as pessoas não estão entendendo que para gastar 10 mil reais na campanha terão que encontrar dezenas de pessoas que voluntariamente, colocando o seu CPF, doem o dinheiro na conta bancária do partido para depois gastarem. Acho que isso pode ser muito bom para disciplinar a política e acabar com essa farra de dinheiro nas eleições que desmoralizou a política, judicializou e criminalizou a política. Eu tenho a consciência tranquila pelo que fiz como prefeito e governador, mas mesmo assim temos a tarefa de trazer novamente prestígio à atividade política que é tão essencial à democracia.