A tendência é nacional: os veículos zero km têm sido preteridos pelos de segunda mão no atual contexto econômico. E uma das razões reside nos juros altos, que a longo prazo sofrem o efeito-cascata que martiriza os consumidores. A saída é pagar o financiamento em menor prazo possível, resguardando-se da armadilha que faz dos bancos os milagreiros da multiplicação dos lucros.
Dados da Fenabrave – a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores –, referentes a março deste ano, apontavam a queda na venda de veículos novos em 31,3% em relação aos meses de janeiro e fevereiro. Em compensação, os seminovos apresentavam aumento de 24% na comercialização.
A mesma tendência se verifica na capital do Acre, ainda que os percentuais possam variar de acordo com a empresa.
Segundo Holanda, a Comvel vendia cerca de 30 unidades/mês (entre novos e seminovos) até o advento da crise econômica. Hoje comercializa até 24 veículos a cada 30 dias, com destaque para os de segunda mão.
A redução na concessão de crédito bancário é responsável pela retração do mercado de veículos, sobretudo os novos. É que as exigências para o financiamento se tornaram mais rigorosas ante a probabilidade de inadimplência.
Isso significa que a facilidade da “entrada zero” de dois anos atrás foi praticamente extinta pelos bancos, que se baseiam no chamado “score serasa” na hora de decidir a quem emprestar. Por isso, avisam os vendedores, comprar carro popular sem entrada se tornou quase impossível na atual conjuntura.
O score de crédito leva em consideração o histórico de consumo do candidato ao financiamento bancário. Se o consumidor, por exemplo, foi recentemente inserido em alguma lista de inadimplência das empresas de proteção ao crédito, certamente terá uma pontuação baixa em relação àquilo que exigem os bancos para conceder o crédito necessário à compra de um veículo.
“Atualmente, a aquisição de um carro depende, além do histórico do comprador, do valor de entrada que ele oferece”, explica Francimá Asfury, sócio-proprietário da Gas Veículos.
A depender do valor da entrada, os bancos podem considerar a disposição do comprador em honrar a dívida. Em caso de veículos seminovos, a avaliação é de que o candidato ao financiamento não arriscaria o investimento inicial alto – digamos de 40% – se não tivesse intenção de pagar a totalidade da dívida. Afinal, há um soma considerável do próprio comprador investida no negócio.
O que desejam os clientes
Outra tendência que alavancou a venda dos seminovos é a disposição dos clientes de adquirirem um veículo mais em conta em relação ao zero km. Nessa equação entram fatores como manutenção barata, estado de conservação e revisão feita pela loja, com garantia do serviço.
“O popular é o carro do momento”, assegura Asfury.
Ainda assim, há um segmento que opta por veículos com maior conforto, mesmo que usados, ao invés de um carro novo mais caro, porém com menos opcionais.
Quilometragem, estado do motor e aparência do veículo são os quesitos avaliados pelos consumidores acreanos no momento da compra. “Já em outros estados há preocupação com a chave reserva e o manual do proprietário”, afirma Asfury, cuja versão é confirmada por Marcelo Holanda.
No mercado desde 2008, a Gas Veículos vende, em média, até 55 carros ao mês, graças ao serviço de refinanciamento. A oscilação do mercado em favor dos seminovos comprava os dados apresentados pela Fenabrave referentes a março deste ano.
Estratégia de mercado
A Gas Veículos e a Comvel mostram-se pouco ousadas nas suas estratégias de mercado, que podem fazer enorme diferença num momento de crise.
Tanto Asfury quanto Holanda afirmam contar com a propaganda “boca a boca” a fim de atrair clientes.
Já Marcelo Holanda evoca a “relação de confiança com os clientes” como cartão de visita da empresa. Ele conta ainda que cortou o patrocínio a alguns anunciantes em função na queda das vendas.
Outra semelhança entre as duas lojas é que ambas se ressentem com o espaço para a exposição dos produtos. A Gas sofre com o aperto na exibição do seu estoque e a dificuldade de estacionamento para os clientes, enquanto a Comvel teve a capacidade do pátio reduzida de 16 para oito veículos.
A reclamação prova que o mercado, se no momento não é um mar de rosas, poderia ser ainda pior para aqueles que fizeram da paixão do brasileiro um grande negócio.
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