Aliado do governo petista, José Sarney cunhou, na condição de presidente da República, uma expressão emblemática que passaria imediatamente à história da crônica política brasileira.
Ele se referiu à necessária observação da “liturgia do cargo”, a fim de destacar as obrigações decorrentes de um posto máximo na administração pública, que exige do ocupante etiqueta, equilíbrio das atitudes e opiniões, serenidade e isenção – entre outros predicados imprescindíveis à condução pessoal e ao relacionamento com os representantes das demais instituições que compõem o Estado.
Ainda que se referisse ao posto de presidente da República, Sarney conseguiu, com o conceito até então inédito, ampliar sua utilidade para os demais cargos públicos, sobretudo os eletivos, em que seus ocupantes passam a representar a vontade de determinado segmento ou da maioria da população.
Pois bem. Ao governador Sebastião Viana cabe entender a expressão cunhada por Sarney, uma vez que lhe têm faltado os atributos necessários a uma condução equilibrada, serena, isenta e elegante do cargo que lhe foi delegado pela maioria dos acrianos.
Dois episódios recentes ilustram a inobservância de Sebastião para com o fator apontado por Sarney. Um deles foi explicitado dias atrás nesta coluna, a propósito das ofensas que o governador dirigiu a um trabalhador no município de Manoel Urbano, após ser questionado, em um encontro patrocinado pelo governo, sobre a qualidade do programa Ruas do Povo.
O outro episódio a que nos referimos foi uma publicação de Sebastião no Facebook, onde ele, a pretexto da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, provoca os “coxinhas”.
Ora, vindo de qualquer militante ou dirigente do PT, partido ao qual pertence o governador do Acre, não haveria de causar espanto, visto que o tratamento compõe a “etiqueta” cotidiana dos companheiros. Partindo de um representante do povo, porém, a provocação é no mínimo descabida, uma vez que muitos dos que votaram no governador torcem para que Michel Temer possa minimizar o desastre causado pela presidente afastada.
Ao usar um termo que evidencia o desprezo dos partidários do lulismo contra os que a eles se opõem, o governador acaba por nos separar, mais uma vez, entre os que comungam com o PT e os que a ele resistem por inúmeras razões.
E ainda que necessite de uma legenda para candidatar-se, e à qual se identifica, sobretudo, neste momento de reveses, Sebastião Viana precisa entender que o partido não está acima de suas obrigações como governador de todos os acrianos.
Ao nivelar-se ao mero militante petista, que pode falar mal à vontade dos adversários políticos, xingando-os de “coxinhas” e outras ofensas piores, Sebastião nos manda o recado segundo o qual, para si, o PT está acima de suas obrigações como gestor do Estado.
Além do mais, o grande problema escárnio é que ele carrega o grave defeito de sempre apequenar o escarnecedor.