Conversei com o deputado federal Flaviano Melo (PMDB) sobre as polêmicas que envolvem a candidatura única das oposições em Rio Branco. O presidente regional do PMDB do Acre se defendeu de setores políticos que colocam o seu partido como entrave para a unidade na disputa de 2016. Flaviano garantiu ainda que Michel Temer (PMDB), só há três semanas na presidência, não está discriminando a prefeitura de Rio Branco em relação as verbas para a construção do Shopping Popular e que os problemas são ainda do tempo da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).
Ac24horas – Deputado Flaviano Melo, o PMDB está sendo o obstáculo para a união das oposições na disputa da prefeitura da Capital?
Flaviano Melo – O PMDB nunca foi obstáculo para a unidade, pelo contrário, a gente sempre apoiou todas as principais lideranças de outros partidos que estão aí atualmente com mandatos ou não. Os senadores Gladson Cameli (PP) e Sérgio Petecão (PSD), o ex-deputado Márcio Bittar (PSDB), o Bocalom (DEM), nós já estivemos com todos eles em eleições. O PMDB não está criando problemas com ninguém, estamos colocando as nossas candidaturas que têm chance de ganhar as eleições, onde tiver outro da oposição em melhores condições o PMDB vai abrir. Agora, tem que ser melhor de verdade.
AC24horas – Existe a possibilidade do PMDB abrir mão de candidaturas no interior do Estado para facilitar a unidade em Rio Branco?
FM – O PMDB está sentando na mesa com outros partidos com critérios. Não estamos fazendo a coisa na base do toma lá e dá cá. A gente quer ganhar eleições com partidos de oposição. Nós queremos conquistar a maioria dos municípios do Acre com os partidos oposicionistas. O PMDB criou uma comissão para debater com os outros partidos dentro de critérios. Quem estiver bem a frente nas pesquisas será o candidato, mas onde tiver dois que estejam bem, ambos têm o direito para disputar. Mas se conseguirem se entender passa a ser uma questão local e será ótimo. Mas o que não se pode fazer é ir degolando os partidos como o PMDB fez em 2001. Tirei três candidatos a prefeitos e dei para outros partidos de oposição. Naquela ocasião o MDA de oposição ao PT elegeu César Messias (PSB), Luiz Hellosman (PSB) e Dêda (PROS). Ganhamos com esses candidatos e todos se bandearam para a FPA. Parece que tem gente com raiva do PMDB, mas nós queremos unidade em todo canto.
AC24horas – Por falar em critérios, qual será usado para escolher o candidato a vice de Eliane Sinhasique (PMDB)?
FM – A gente vai discutir com os partidos que vão se aliar para ver quem tem um nome melhor e que mais soma para deixar a chapa majoritária forte.
AC24horas – Deputado andaram dizendo que o presidente Temer estaria discriminando verbas para a prefeitura de Rio Branco. Especificamente o Shopping Popular estaria sofrendo boicote do novo governo por questões eleitorais. Isso é verdade?
FM – Mais uma mentira desse povo. Todos dizem que o Temer é golpista, mesmo com a votação de dois terços da Câmara Federal e duas decisões favoráveis do Supremo. Um construtor dessa obra do Shopping me procurou recentemente para dizer que não recebe há vários meses. A obra está com problemas de recursos alocados pela Dilma (PT) há muito tempo e, agora, querem jogar a culpa nas costas do Temer que está há três semanas no Governo. Isso não existe. Os problemas de recursos existem há muito tempo. Mas como um construtor veio me pedir vou tentar ajudar em Brasília.
Opinião
Acredito que a disputa em Rio Branco terá três candidatos. Marcus Alexandre (PT), Eliane Sinhasique (PMDB) e Bocalom (DEM) ou Raimundo Vaz (PR). São três vertentes representativas da sociedade que irão à disputa. Isso é natural.
Pelo beiço só peixe
Não existe esse negócio de trazer aliados pelo beiço. Isso não funciona e acaba criando muitos problemas durante a campanha. É preciso que haja identificação política e de propósitos para uma futura gestão. Assim esse três grupos contemplam perfeitamente o momento político no Estado.
Renovação
O senador Gladson Cameli e a deputada estadual Eliane Sinhasique representam uma nova oposição. Portanto, é natural que se aliem na disputa da prefeitura da Capital. Os dois políticos possuem identificação numa maneira menos radical de fazer oposição.
Oposição tradicional
Assim como Márcio Bittar (PSDB), Bocalom (DEM), Major Rocha (PSDB) e a ex-deputada Antônia Lúcia (PR) também possuem propósitos similares. É natural que esse grupo queira ter candidato próprio à prefeitura da Capital. Isso não é nenhuma aberração.
Polarização ilusória
No Acre se criou uma cultura de que as eleições devem ser disputadas entre quem é a favor do PT e quem é contra. Isso sim é uma aberração. A sociedade do Estado não está dividida em apenas duas correntes políticas, mas em várias.
Isca mordida
O PT conseguiu ao longo do tempo criar a premissa que a oposição só merece ganhar algum cargo majoritário se estiver unida. Enquanto consegue manter os seus aliados da FPA através da distribuição de cargos comissionados no Governo do Estado e na prefeitura da Capital. E a oposição mordeu a isca e se desgasta nesse debate estéril de unidade.
Diversidade partidária
A realidade é que existem dezenas de partidos no Brasil. Cada um com propósitos programáticos diferentes. As uniões só acontecem naturalmente quando se têm pontos em comuns, sejam de partilha de poder ou de identificação ideológica. Não adianta forçar a barra porque os problemas acabam aparecendo no futuro. O caso mais emblemático foi a união do PT com o PMDB para levar Dilma ao Planalto. O resultado dessa unidade foi desastrosa e colocou a própria democracia do Brasil em risco. Durante as eleições de 2014 uma parte significativa do PMDB apoiou o candidato à presidência Aécio Neves (PSDB). O mesmo deve acontecer no Acre nas eleições municipais em relação ao PSDB. Tanto em Cruzeiro do Sul quanto na Capital uma parte dos tucanos irá apoiar candidaturas do PMDB. Mesmo porque os dirigentes dos partidos não são absolutos em relação a opinião dos seus filiados. Os indivíduos possuem julgamentos próprios e independência na hora do voto. O mesmo pode acontecer com outros partidários sejam do PT e aliados ou da oposição que na hora H vão escolher seus próprios candidatos. Não existe essa condição onipotência em nenhum dos partidos e as opiniões são divergentes como é natural a todos seres humanos.