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Artigo – A arte da Política e a prática da (in)tolerância

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Bom dia! Boa tarde! Boa noite!

Hoje o blog do Ray abre espaço para colaboração de um dos três leitores deste espaço, o excelente jornalista Itaan Arruda. Ele poupa a preguiça deste blogueiro e brinda meus outros dois leitores com um artigo de primeira. 


Itaan Arruda 


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O governador Tião Viana já tem algum acúmulo de intolerância com críticas em seis anos de trabalho no Executivo. São gestos, posturas e descomposturas que dão o tom escalão abaixo e consolidam a imagem de um governo marcado pelo desequilíbrio.
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Seis meses após o lançamento do programa Ruas do Povo, Tião Viana vistoria um bairro beneficiado. Estava acompanhado pelo então diretor-presidente do Depasa, Gildo César, responsável pela execução das obras. Repórteres, microfones, fotógrafos, assessores, a corte de sempre.No final de uma das ruas, uma velhinha e sua casa estavam no meio do caminho do governador. “Sr. Tião, depois que fizeram essas obras, não para de entrar água aqui na minha casa”, expôs a senhora, apontando o quintal alagado.


Os cabelos brancos, canelinhas finas, vestida de “vovozinha” (uma espécie de bata clara e de tecido leve, muito usada por pessoas mais idosas na região). Ela encarava o mais poderoso líder político. Nesse instante, Gildo não estava perto. Foi chamado aos berros.


“Cadê o Gildo? GILDO!”, vociferou. E lá vem o Gildo, com o peculiar colete, avexado. “Gildo, faça o seguinte. Essa rua não vai mais ser beneficiada, não, porque essa senhora não quer. Está reclamando. Diz que a obra prejudica a casa dela… ‘Pule’ essa rua”. E saiu pisando duro, com a certeza de que havia sido justo na defesa de bons propósitos.


Ontem, foi a vez de Manoel Urbano. Em um evento em que se anunciava o lançamento do Programa de Fomento e Incentivo às Cadeias Produtivas, um cidadão mostrou algum descontentamento com o famoso programa Ruas do Povo. Foi a deixa.


“Tipo assim, uma pessoa que só vem pra falar mal dos atos dos outros. Recebe dez reais pra vir falar mal, aí não cabe. Merece que a gente diga: ‘esse tipo de gente não serve pra nada’. Não vai crescer na vida. Vem pra cá pra trazer mentiras, pra provocar as pessoas”.


As palavras eram ditas como se o Sebastião Afonso Viana Macêdo Neves estivesse “dando um carão” (versão regional para “bronca”) em um filho. No olhar palaciano, a postura paternalista tem lógica. Ela constrange o cidadão por entender que de outra forma a cidade não teria como mecanizar 150 hectares de pasto, nem ter acesso a mudas, sementes e ao Programa de Aquisição de Alimentos.


O ódio oficial continuou, já com o militar e ajudante de ordem vigiando o homem que ousou criticar o governador. “Vá trabalhar rapaz, vá trabalhar e ter responsabilidade no seu dia a dia. Aqui ainda é lugar de respeito. Aqui estou tratando de interesse público. Aprenda isso. Aprenda a respeitar as pessoas”, torpedeou, antes de simular um cacoete com a palavra “democracia”. “O debate que a gente faz é com democracia. Eu nunca vou no palanque da oposição pra falar mal de ninguém”.


É dessa forma que o governador Tião Viana entende que deva ser feita a “defesa” do governo. O tom é esse. Ao se negar a apertar a mão de um candidato da oposição; ao ordenar retirada repórter de coletiva de imprensa motivada por um tapuru em marmita de hospital; ao contestar repórteres publicamente por matérias “que não ajudam o Acre”, a arte da Política no Acre vai sendo deixada de lado.


Nada justifica o que aconteceu em Manoel Urbano. Por mais comprometida que tenha sido a crítica feita pelo cidadão, a conduta de um chefe de Estado não pode ter o desequilíbrio como referência.


No evento na pequena cidade acriana, a Política acabou no exato momento em que Tião Viana vocifera contra o homem que o criticou. Os berros eram ditos pelo chefe de barranco, o coronel que vai consolidando a imagem equivocada da lógica do mando. Tempos difíceis.

 


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